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G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 7. Etnologia Indígena
ESCOLA TIMBIRA: UMA ESCOLA INDÍGENA?
Bruno Leonardo Barros Ferreira 1 (csobrleo@bol.com.br) e Elizabeth Maria Beserra Coelho 2
(1. Curso de Ciências Sociais - Universidade Federal do Maranhão - UFMA; 2. Departamento de Sociologia e Antropologia - UFMA)
INTRODUÇÃO:
A “Escola Timbira” é um projeto educacional administrado pelo Centro de Trabalho Indigenista – CTI, direcionado aos indígenas que formam, segundo Curt Nimuendajú (1946), o país Timbira, constituído pelos povos: Apinayé e Krahô, localizados no Tocantins; Krikati, Canela-Ramkôkamekra, Canela-Apãinekra e Gavião-Pykobjê, no Maranhão; e Gavião-Pàrkatejê no Pará, (não incluído na proposta do Programa). Apesar de algumas diferenças sociais e lingüísticas entre os povos (mais evidentes nos Apinayé), o CTI também os considera conjuntamente, devido a certas similaridades, como o formato circular das aldeias, o sulco horizontal do cabelo, as rodelas auriculares e as corridas de toras. O projeto divide os alunos em 4 ciclos, sendo que o 1o (1a e 2a séries) e 2o (3a e 4a séries) com aulas em suas aldeias e o 3o (5a e 6a séries) e 4o (7a e 8a séries) com aulas no Centro de Ensino e Pesquisa Timbira Pinxwj Himpejxá, que se localiza na cidade de Carolina – MA. Os alunos participantes são selecionados em suas respectivas aldeias para participar dessa etapa de 5a a 8a séries. Nessa investigação tomo como referência o grupo de alunos que cursam o ensino fundamental maior, com objetivo de fazer uma reflexão sobre a estrutura e funcionamento da Escola Timbira, verificando se ela pode ser considerada uma escola indígena. A categoria escola indígena é utilizada aqui no sentido de uma escola construída e gerenciada pelos próprios índios.
METODOLOGIA:
Para fazer uma análise da Escola tomei como referência o discurso das novas políticas indigenistas de educação, especialmente o contido nas Diretrizes Para a Política Nacional de Educação Escolar Indígena, MEC/SEF, 1993 e na Resolução 3/99 do Conselho Nacional de Educação. Utilizei como fontes de pesquisa, documentos produzidos pelo CTI, na forma de relatórios e projetos, o discurso de alunos e professores e o registro das observações em caderno de campo, realizadas durante etapas da “Escola Timbira”. A “Escola Timbira” é analisada como fronteira, nos moldes propostos por Tassinari (1997), visando perceber as possibilidades de troca e intercâmbio de conhecimentos e as situações de interdição dessas possibilidades.
RESULTADOS:
A “Escola Timbira” se localiza em um ambiente afastado do centro da cidade de Carolina, tendo uma arquitetura que remete ao formato circular das aldeias, em meio à floresta, onde existem animais e um riacho utilizado pela maioria dos alunos para seu asseio. As aulas são dadas em módulos que duram aproximadamente um mês, organizadas em horários rígidos, nos turnos matutino e vespertino, com intervalos para lanches e almoço. O conteúdo lecionado tem como base o cotidiano indígena, ou seja, assuntos que são importantes para os alunos, articulados a informações sobre a cultura dos brancos. Há interesse dos índios em escrever e falar “corretamente” o português. As aulas são ministradas em português, com a presença de algumas palavras em Timbira, conhecidas por todos. Quando os alunos vão expor algum trabalho ou dar alguma informação aos colegas, eles utilizam a língua materna e em seguida traduzem para o português. Em relação à grafia há uma divergência entre os índios, pois existem diferentes grafias, até entre aldeias do mesmo povo e o CTI procura construir a unificação da grafia Timbira.
CONCLUSÕES:
Segundo as novas determinações oficiais da legislação brasileira os indígenas devem ser responsáveis pela construção de suas escolas, sendo a participação das comunidades importante para a definição do modelo de organização e gestão escolar. A “Escola Timbira” procura adaptar-se ao cotidiano indígena, mas o fato das aulas ocorrerem fora de suas aldeias afasta-os de suas atividades diárias e do convívio comunitário em suas aldeias. O uso do português como língua franca, resolve a questão da diversidade lingüística entre os vários alunos e professores, mas pode ser visto como desvalorização de suas línguas. A pretensão de unificação da grafia, que o CTI argumenta como instrumento de fortalecimento político dos Timbira, provoca insatisfação entre muitos alunos. A “Escola Timbira” pode ser vista como fronteira, pois viabiliza o trânsito de informações entre dois mundos. O conhecimento é resignificado, podendo ser reforçado ou rechaçado. Observa-se que há participação indígena em vários momentos da construção da Escola Timbira, mas não ao ponto dos índios serem os condutores do processo. Existe um hiato entre o discurso legal e a implementação da escola para os indígenas, não se configurando ainda uma escola indígena, ou seja, construída e gerenciada, de forma autônoma, pelos próprios índios.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Escola; Timbira; Fronteira.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005