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C. Ciências Biológicas - 6. Farmacologia - 4. Farmacologia
ESTUDO DO ENVOLVIMENTO DOS RECEPTORES M1 NAS CONVULSÕES E MORTE, INDUZIDAS POR COCAÍNA (COC), EM CAMUNDONGOS.
Danielle Silveira Macêdo 1 (daniellesm2000@yahoo.com), Jeferson Falcão do Amaral 1, Maria Izabel Gomes Silva 1, Vera Targino Moreira Lima 1, Lissiana Magna Vasconcelos Aguiar 1, Rachel Silva dos Santos 1, Oscar Loiola de Alencar Neto 1, Glauce Socorro Barros Viana 1 e Francisca Cléa Florenço de Sousa 1
(1. Depto. de Fisiologia e Farmacologia, Fac.de Medicina - UFC)
INTRODUÇÃO:
Convulsões associadas ao uso da COC são reportadas por aproximadamente um século (Bose 1902; Pulay, 1922) e o uso da COC tem sido constantemente associado à ocorrência de efeitos tóxicos. A incidência de convulsões associadas com a ingestão de grandes doses de COC tem aumentado significativamente nos últimos anos. A COC produz efeitos tóxicos e uma variedade de outros efeitos fisiológicos e comportamentais através da sua interação com vários sítios receptores do SNC. É bem conhecido que a cocaína em baixas doses inibe a captação neuronal de dopamina (DA), noradrenalina (NA) e serotonina (5HT) e que os transportadores para estes neurotransmissores são marcados pela [3H]-cocaína (Reith, 1983; Madras et al., 1989). Estudos de receptores mostraram que a (-)cocaína interage com receptores colinérgicos muscarínicos e sigma no cérebro (Sharkey et al., 1988). Modelos de convulsão, principalmente o modelo da pilocarpina, mostram um importante envolvimento dos receptores M1. Em relação à convulsão e morte induzidos por cocaína pouco está esclarecido quanto ao envolvimento dos receptores e sistemas de neurotransmissores, principalmente os que envolvem a neurotransmissão muscarínica, portanto este trabalho objetiva determinar o envolvimento dos receptores muscarínicos M1 com os processos de convulsão e morte induzidos por cocaína.
METODOLOGIA:
Camundongos Swiss machos (20-25 g) foram submetidos a metodologias comportamentais e neuroquímicas. Primeiro foram tratados com um antagonista do receptor M1, pirenzepina, 10, 20 e 40 mg/kg, i.p. e após administração foram imediatamente colocados em gaiolas de 30 x 30 cm2 e observados por 30 min antes e após administração da COC 90 mg/kg, i.p. para determinação do tempo de latência de alguns dos sinais observados após administração de altas doses de cocaína: corrida violenta, abalo clônico, abalo tônico e abalo clônico-tônico e o tempo de latência (e número de animais) que morreram. Posteriormente, foi calculado a percentagem de animais que convulsionaram e a sobrevivência dos mesmos. Para a determinação das alterações neuroquímicas após a administração de COC 90 mg/kg ou salina (controles) os animais foram observados por 60 min para se verificar o estado de mal epiléptico (EME). Após este período os camundongos que apresentaram convulsão seguida de EME foram sacrificados para a retirada de corpo estriado (CE) e córtex pré-frontal (CPF). Os animais que convulsionaram e morreram após a convulsão foram separados em um grupo denominado morte (M). O ensaio de binding foi conduzido usando o ligante 3H-NMS na presença de carbacol (M1 -símile), A atividade da acetilcolinesterase (AChE) foi determinada pelo método de Ellman et al., 1961. Os resultados são expressos como média ± EPM do numero de experimentos (n) em parênteses (ANOVA e teste de Student Newman Keuls).
RESULTADOS:
O antagonista do receptor M1 pirenzepina reduziu a percentagem dos animais que convulsionaram em 45,5 % com a dose de 10 mg/kg (p< 0,0001), 27,3 % na dose de 20 mg/kg (p< 0,0001) e 37,5 % na dose de 40 mg/kg (p< 0,0001). A droga não interferiu com a sobrevivência dos animais. Porém, ocorreu uma redução na latência das convulsões induzidas por cocaína nas duas menores doses estudadas 10 e 20 mg/kg, respectivamente em 39,8 e 43,5 % daqueles animais que convulsionaram (COC (n- 50)- 232,3 ± 13,4 seg; pirenzepina 10 mg/kg + COC (n-11)- 139,8 ± 19,4 seg; pirenzepina 20 mg/kg + COC (n- 11)- 131,3 ± 3,2 seg; pirenzepina 40 mg/kg + COC (n- 8) – 169,6 ± 8,1 seg). Em relação ao receptor M1 foi observada uma diminuição na ligação do ligante [3H]-NMS a estes receptores apenas no CPF de camundongos em ambas condições estudadas, EME e morte (controle (n-10): 360,9 ± 26,4; EME (n-8): 171 ± 15,4; morte (n-7): 280 ± 24,7). Não ocorreram alterações significativas no CE (controle (n-12): 368,3 ± 20,8; EME (n-8): 301,5 ± 18; morte (n-7): 356,1 ± 45,2). A atividade da acetilcolinesterase em CE aumentou em 41 % após o EME e morte induzidos por cocaína. (controle (n-8): 92,3 ± 4,8; EME (n-7): 122,3 ± 12,7; morte (n-6): 139,7 ± 7,6). O aumento em CPF só foi evidenciado após a morte induzida por cocaína, sendo este significativo em relação aos animais controle e EME (controle (n-6): 20,8 ± 2,2; EME (n-7): 23,1 ± 1,8; morte (n-6): 36 ± 3,1).
CONCLUSÕES:
Os resultados mostram um importante envolvimento dos receptores M1 nas convulsões e morte induzidas por cocaína, visto que ocorreu uma redução na percentagem de animais que convulsionaram com o pré-tratamento com pirenzepina, redução da ligação do ligante radioativo aos receptores M1, o que evidencia a ligação do ligante endógeno ao receptor, mostrando estimulação deste receptor no CPF, área cerebral muito envolvida com o mecanismo das convulsões e para comprovar o envolvimento da ACh, ocorreu aumento na atividade da enzima metabolizadora da ACh, AChE, o que mostra que realmente ocorreu um aumento na ACh após as convulsões e morte induzidas por cocaína.
Instituição de fomento: CAPES, CNPq
Palavras-chave:  Cocaína; Receptores Muscarínicos M1; Cérebro.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005