IMPRIMIR VOLTAR
E. Ciências Agrárias - 1. Agronomia - 1. Ciência do Solo
OCORRÊNCIA DE FUNGOS MICORRÍZICOS ARBUSCULARES EM BARBATIMÃO (Stryphnodendron adstringens MART. – FABACEAE-MIMOSOIDAE)
Ronai Ferreira Ramos 1 (ronai1977@hotmail.com) e Carlos Manoel de Oliveira 1
(1. Inst. de Ciênc. da Saúde do Cen. Uni. do Plan. de Araxá - UNIARAXÁ)
INTRODUÇÃO:
Nos últimos anos o interesse por plantas medicinais tem crescido substancialmente. Isto acarretou um grande aumento da demanda por matéria prima, de qualidade e em quantidade para suprir a indústria farmacêutica, para o consumo in natura e na pesquisa de novos medicamentos. Devido a importância estratégica deste recurso natural, torna-se imprescindível a introdução de cultivos das espécies medicinais, sendo inadmissível a obtenção de matéria prima através do extrativismo. Estudos recentes sobre a flora do Cerrado, apontam cerca de 6.500 plantas vasculares, onde 330 foram identificadas como úteis na medicina popular. Representantes como o Barbatimão (Stryphnodendron adstringens), vêm sendo estudados quanto a sua distribuição geográfica, diversidade genética e química. Sua distribuição pelo Bioma é ampla, ocorrendo do Pará ao norte do Paraná. É encontrado, com mais freqüência, em fitofisionomias de Cerrado Típico, Campo-Sujo e Cerradão. As propriedades medicinais do barbatimão são bem conhecidas popularmente. O extrato da casca é utilizado como cicatrizante, antiinflamatório e anti-hemorrágico. Portanto, conhecer as relações entre vegetais e microrganismos, sobretudo os processos envolvidos na simbiose micorrízica, se faz necessário para apontar novos rumos nas pesquisas com plantas do Cerrado, o que valida os objetivos deste trabalho em determinar a ocorrência de fungos micorrízicos arbusculares (FMA) associados ao Barbatimão no Cerrado de Araxá - MG.
METODOLOGIA:
Em dezembro de 2004 fazendeiros da região de Araxá-MG, que se localiza a 19º 45’ S e 46º 45’ W, foram consultados sobre a ocorrência do Barbatimão em suas propriedades. As plantas foram localizadas em Campos-Sujos e Cerrado Típico e coletaram-se as raízes mais finas encontradas entre a superfície e uma profundidade de 20 cm, de dez plantas jovens escolhidas aleatoriamente. Fizeram-se também amostras de solo contendo 500 g, na área de onde se retiraram as raízes. De cada amostra de solo, extrairam-se esporos pelo método de peneiramento a úmido e centrifugação em sacarose. Alíquotas de 100 g de solo seco foram misturadas em 2 L de água. Após decantação por 1 min, o sobrenadante foi vertido em 2 peneiras com malha de 250 e 53 mm. Centrifugou-se o retido na segunda peneira com água e sacarose a 50 % por 3 min a 1750 rpm, o sobrenadante foi vertido em frascos identificados. Posteriormente os esporos foram agrupados morfologicamente em lâminas separadas e analisados em microscopia óptica, a fim de se caracterizar os gêneros. A colonização micorrízica foi avaliada em 1 g de raízes frescas cortadas (1 cm de comprimento) e clarificadas com KOH 10 % a 90ºC em banho-maria por 15 min, coloridas com azul de tripano 0,05 % a 100ºC em banho-maria por 10 min. O corante excedente foi retirado e as raízes colocadas em um frasco com lactoglicerol. Posteriormente analisaram-se os seguimentos de raízes em lâminas para determinar a ocorrência de micorrização, utilizando-se um microscópio óptico.
RESULTADOS:
Os resultados obtidos no tratamento das amostras de solo foram satisfatórios, sinalizando a presença de esporos de fungos micorrízicos arbusculares em todas as dez amostras de solo processadas. Tal fato indica apenas a ocorrência de colonização do solo por esporos de FMA provenientes da micorrização em, pelo menos, uma das plantas da área amostrada, porém não se pode inferir a infecção radicular do Barbatimão pela simples presença destes e outros propágulos, devido a característica cosmopolita dos FMA e pela tendência ao aumento da esporulação, que parece existir em períodos chuvosos. As lâminas confeccionadas apresentavam esporos e algumas cascas, agrupados por semelhanças morfológicas, que permitiam a identificação dos gêneros. São descritos sete gêneros de fungos micorrízicos arbusculares na literatura (Glomus, Paraglomus, Archaeospora, Acaulospora, Entrophospora, Gigaspora e Scutellospora) e as características e os métodos para a identificação destes gêneros estão disponibilizados no INVAM. Dentre estes, foram encontrados: Glomus sp. , Gigaspora sp. e Scutellospora sp. e um esporocarpo de Paraglomus sp. Os resultados da coloração dos seguimentos das raízes também foram muito bons, devido a identificação da presença de hifas e arbúsculos, corados nitidamente em azul, na região cortical das raízes avaliadas, caracterizando a ocorrência da associação simbiótica micorriza arbuscular em Stryphnodendron adstringens.
CONCLUSÕES:
Para as condições deste trabalho e diante dos objetivos propostos, foi possível concluir, de acordo com as amostragens, que dos sete gêneros de fungos micorrízicos arbusculares conhecidos, pelo menos quatro foram encontrados e caracterizados, nos solos das fitofisionomias do Cerrado de Araxá, onde ocorre a espécie arbórea estudada. Também diante dos resultados obtidos após as análises, por microscopia óptica, das lâminas contendo os seguimentos radiculares corados, foi possível concluir que o Stryphnodendron adstringens é micorrizável, ficando assim determinada a ocorrência de fungos micorrízicos arbusculares em associação simbiótica com esta espécie vegetal.
Palavras-chave:  Fungos Micorrízicos Arbusculares; Fitofisionomias do Cerrado; Relações Ecológicas.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005