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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 9. Psicologia Experimental | ||
BIBLIOTERAPIA | ||
Lionira M. Giacomuzzi Komosinski 1 (lionira@reitoria.uri.br), Eliana Piccoli Zordan 2 e Cacilda Menegola Ribeiro 2 | ||
(1. Departamento de Lingüística, Letras e Artes, Universidade Regional Integrada - URI; 2. Departamento de Ciências Humanas, Universidade Reguional Integrada - URI) | ||
INTRODUÇÃO:
O estudo que ora se apresenta tem como base o resultado de uma pesquisa que investigou a viabilidade do uso de textos da Literatura Infantil como recurso terapêutico no tratamento de crianças marginalizadas com desvios de comportamento social (envolvidas com drogas, roubo e portadoras de extrema agressividade). Embora seja uma prática bastante antiga no mundo oriental e mesmo em algumas regiões européias, a terapia pela leitura ou pelos livros é praticamente desconhecida em nosso país. O vocábulo ainda não consta em dicionários de língua portuguesa. Por ser uma prática pouco difundida, toda publicação que se volta para este campo merece a atenção de estudiosos do ramo, professores, psicólogos. É o que se espera com esta publicação. Partiu-se dos pressupostos que educação é um processo de socialização (contato intenso com a produção do outro), de seleção (escolha entre vários produtos) e de conquista (construção do que é novo para o produtor); arte não é algo a ser consumido passiva e contemplativamente, mas, sim, um artefato que só existirá se for co-produzido pelo “espectador”. Educar será então ampliar a capacidade de leitura do educando. Nas sessões de biblioterapia trabalhou-se com textos clássicos do maravilhoso e com textos modernos realistas. |
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METODOLOGIA:
Partiu-se do pressuposto de que se a leitura é capaz de formar cidadãos, por que não levá-la às crianças pouco familiarizadas com o livro e que apresentam problemas de comportamento social? A partir dessas reflexões, pensou-se em usar o conhecimento teórico existente em torno do livro, da leitura e da palavra para solução de um problema sócio-cultural. Partiu-se de pesquisa bibliográfica visando à seleção de textos literários, ao conhecimento de experiências semelhantes e à construção de uma base teórica sobre terapia, terapia da palavra e leitura. Tendo-se como pressupostos - a palavra é vida; a palavra modifica comportamentos; a palavra propicia a catarse; a palavra é dialógica - optou-se pela realização de sessões de terapia (uma sessão semanal durante dois anos) através do texto literário. Dezoito crianças indicadas pela sua escola foram avaliadas pela psicóloga orientadora do trabalho que, aplicados os testes cabíveis, estabeleceu o diagnóstico e o atendimento necessário a cada uma. Foram selecionados os textos para as sessões de grupo. Procurou-se abordar necessidades comuns a várias ou a todas as crianças: autoconhecimento, diferenças individuais, ajuda mútua, socialização, tolerância à frustração, auto-estima, respeito pelo outro, estímulo à imaginação, diminuição da agressividade. A seleção dos textos foi conduzida pelas indagações: que textos e que atividades lúdico-recreativas decorrentes dos mesmos podem ser usados/desenvolvidos como terapia? |
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RESULTADOS:
Na impossibilidade de referir todos, apresentam-se alguns resultados. Foram catalogados mais de 200 textos passíveis de serem usados como terapia/inclusão social por suas características literárias e pela temática abordada. Os textos que têm a repetição da ação principal em série (devorar o animal que encontra em seu caminho, por ex.) são os preferidos pelas crianças, bem como os clássicos do maravilhoso, mesmo quando já conhecidos. As atividades que predispõem as crianças para as sessões de leitura são as de intensa atividade física. O brinquedo contribui para a revelação da criança para si e para o outro e na dramatização (psicodrama),predomina a identificação das crianças com personagens que representam o bem, a verdade, a justiça. As estórias do cotidiano, que abordam situações vividas pelas crianças (alcolismo, drogas, violência, roubo) atraem menos do que as do maravilhoso. As crianças têm dificuldades em imaginar um novo final ou a continuação de um conto ouvido |
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CONCLUSÕES:
Confirmou-se a teoria do dialogismo. A possibilidade de participação na enunciação provoca a sensação de poder, de integração, de inclusão, dando prazer ao leitor. Contudo, a possibilidade de participação ativa só é possível quando o texto contém elementos familiares ao decodificador, ao lado de elementos estranhos. A interação decorrente dessa característica estrutural do texto faz com que as idéias nele contidas passem a fazer parte do policódigo, da historicidade do leitor, fazendo-o “crescer”, “mudar”. A dramatização procura trabalhar conflitos e situações mal resolvidas. É principalmente através do “faz de conta” que a criança alcança um domínio pleno da situação vivendo e convivendo com a fantasia e com a realidade. Passando de uma situação para outra, cria a possibilidade de elaborar seus anseios, seus medos, seus complexos, bem como as suas fantasias. Crianças rejeitadas pela sociedade (na escola, nas ruas, nas casas comerciais, na igreja) e na sua própria família, ainda não têm plena consciência das razões da rejeição, mas podem saber que, como o “patinho feio”, um dia encontrarão o reconhecimento pela identidade com o grupo social e não pela diferença. O que deverá ser trabalhado é a diferença comportamental a ser eliminada e o fator de igualdade a ser criado ou desenvolvido.A identificação com aquele que faz justiça evidencia o anseio por uma vida em que a felicidade advém da auto-estima. |
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Instituição de fomento: FURI - CNPq | ||
Palavras-chave: terapia; comportamento social infantil; literatura infantil. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |