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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
CIÚME
Priscila Cunha Moraes 1 (prisca_moraes@hotmail.com), Isabela Rodrigues Soares 1, Julieny Baroni Zandonadi 1 e Rosana Suemi Tokumaru 1
(1. Depto. de Psicologia Social e do Desenvolvimento, Universidade Federal do Espírito Santo-UFES.)
INTRODUÇÃO:
O ciúme é uma emoção bastante freqüente em muitos relacionamentos amorosos (Buss, 2000). De acordo com um exame nacional de terapeutas da União, o ciúme foi identificado como o terceiro do ranking de problemas de casais em terapia (PINHOS, 1992 apud KNOX et al.,1999).
Embora muitas teorias afirmem que o ciúme é uma emoção imatura, o psicólogo Buss (2000) acredita que é uma adaptação, uma vez que funciona como um detector adiantado de infidelidade.
Conforme estudos de Peretti e Pudowski (1997, apud KNOX et al.,1999), relacionamentos com menos de 12 meses são mais vulneráveis ao ciúme do que aqueles com duração mais longa (acima de 12 meses).
Nota-se na pesquisa de SAGARINA et al.(2002), uma grande diferença entre os sexos: os homens relataram maior aflição em resposta a uma infidelidade sexual e as mulheres relataram maior aflição em resposta a uma infidelidade emocional. De acordo com a abordagem evolucionista, o ciúme masculino deve ter sido selecionado de forma a reduzir o risco de sua parceira se relacionar com um macho rival, garantindo maior certeza da paternidade de sua prole. O ciúme feminino deve ter sido selecionado de forma a evitar que o seu parceiro desviasse recursos para crianças das fêmeas rivais, garantindo os recursos para sua própria prole.
O objetivo dessa pesquisa é identificar as situações que provocam o ciúme e a intensidade do ciúme entre parceiros heterossexuais em função da duração do relacionamento.
METODOLOGIA:
Foi pedido a 200 pessoas (107 mulheres e 93 homens), entre 18 e 30 anos, que respondessem ao questionário abaixo:
Idade: Sexo: Tempo de Relacionamento:
1. Você considera seu relacionamento: () instável ( ) estável
2. Se fosse quantificar o seu ciúme, em que nível ele estaria (0 - 10)?
3. Relate uma situação real que você sentiu (ou sente) ciúme do seu parceiro atual.
4. Imagine que você descobre que a pessoa com quem você está envolvido(a) tornou-se interessado(a) em outra pessoa. O que mais te afligiria?
( ) imaginar esta pessoa tendo relações, de cunho sexual, com outro(a).
( ) imaginar esta pessoa formando um profundo laço emocional com outro(a), oferecendo ou recebendo presentes, dando muita atenção, etc...
( ) nenhuma das alternativas anteriores.
As situações relatadas na questão 3 foram categorizadas. Foi registrada a freqüência de cada categoria permitindo a comparação entre homens e mulheres e entre relacionamentos estáveis e instáveis.
A primeira situação proposta na questão 4 foi caracterizada como Ciúme Sexual (CS), ou seja, ciúme relacionado a uma situação que envolve contato físico entre indivíduos. A segunda situação proposta foi caracterizada como Ciúme Emocional (CE), ou seja, relacionado a uma situação que envolve um laço emocional forte sem que haja, necessariamente, contato físico.
RESULTADOS:
Das 107 mulheres 81% declararam ter um relacionamento estável e dos 93 dos homens, 80%.
De acordo com a duração, classificamos os relacionamentos em menor que 12 meses e maior ou igual a 12 meses. Constatamos que nos relacionamentos com tempo inferior a 12 meses, as mulheres apresentaram uma média de ciúme de 5,2 e os homens de 4,7. Já em relacionamentos com tempo igual ou superior a 12 meses, a média das mulheres foi de 6,0 e dos homens foi de 4,7.
Esses dados vão de encontro ao estudo de Peretti e Pudowski (1997, apud KNOX et al.,1999), que demonstraram que relacionamentos com menos de 12 meses são mais vulneráveis ao ciúme do que aqueles com duração mais longa (acima de 12 meses). Esses autores sugerem que relacionamentos mais estáveis sejam mais seguros e, portanto, menos sujeitos ao ciúme. A partir de nossos resultados sugerimos que esse sentimento tem função estabilizadora e nos relacionamentos mais longos pode ser importante na manutenção da fidelidade dos parceiros. De acordo com Buss (2000), o ciúme serviria à função de garantir a fidelidade sexual da parceira para os homens e os investimentos masculinos na prole para as mulheres. A partir desta hipótese, julgamos que parceiros com relacionamentos mais estáveis e duradouros corram mais riscos de perder esses recursos e deveriam, portanto, ter mais ciúme como forma de garanti-los.
Nota-se, ainda, pelos dados coletados, que a média do nível de ciúme entre as mulheres foi maior que entre os homens.
CONCLUSÕES:
A partir dos resultados de nossa pesquisa, sugerimos que o ciúme tenha um papel estabilizador nos relacionamentos, uma vez que a média do nível de ciúme entre os parceiros é maior em relacionamentos com tempo de relação igual ou superior a 12 meses. Isso mostra que o ciúme pode ser importante como forma de garantir a fidelidade dos parceiros em longo prazo.
Percebemos, ainda, que mulheres apresentam uma média do nível de ciúme maior do que a dos homens. Outros trabalhos poderiam investigar melhor esta questão.
A categoria de situação de ciúme mais apresentada pelos homens foi aquela que se refere ao Ex-namorado ou ex-marido e entre as mulheres a categoria de situação de ciúme mais relatada foi a que se refere a Conversar com outras pessoas. Inferimos que estas categorias reflitam ciúme sexual para homens, já que decorre de um contato físico com o parceiro anterior, e emocional para mulheres, por ser causado pela percepção de um laço emocional forte sem contato físico, o que se adequou à perspectiva evolucionista de SAGARINA et al. (2002), como foi constatado nessa pesquisa.
Palavras-chave:  ciúme sexual; ciúme emocional; situações de ciúme.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005