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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social

O FIM DA DROGA COMO REINÍCIO DA VIDA : UMA ANÁLISE SOBRE O PROCESSO DE REABILITAÇÃO DE DEPENDENTES QUÍMICOS EM UM CENTRO DE RECUPERAÇÃO – UM ESTUDO DE CASO.

JOSIPLESSIS BARROS PONTES MARQUES 1 (romarques@hotmail.com), ROBSON OLIVEIRA MARQUES 1, GUSTAVO SUASSUNA NÓBREGA 2 e ADRIANA BOLCÃO AGRA 2

(1. FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - FACISA; 2. UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB)

INTRODUÇÃO: A vida contemporânea tem sido marcada por um certo vazio e conflito do ser humano, pode-se atribuir este fenômeno a um possível excesso de pressões que a sociedade tem feito, até mesmo de modo subjetivo e implícito. Diante deste contexto, Viktor Frankl, autor da Logoterapia afirmou que “a sensação de falta de sentido para a vida não apenas aumenta, mas também se dissemina” (1981, p.18), considerando que algumas pessoas poderiam estar recorrendo até mesmo ao uso das drogas como uma maneira distorcida de responder ou tentar preencher este vazio. Neste aspecto, esta pesquisa visou analisar integralmente o processo de recuperação do dependente químico, através de variáveis distintas, em busca de melhor compreender a realidade biopsicossocial e espiritual dos entrevistados.

METODOLOGIA: Esta pesquisa do tipo descritiva e exploratória, teve como universo os recuperandos do Centro de Recuperação Homens de Cristo (CRHC), instituição filantrópica, localizada em São Sebastião de Lagoa de Roça – Pb. A amostra foi composta por 85 recuperandos com dependência química de variadas substâncias e alcoolistas. Os dados desta pesquisa foram obtidos através do preenchimento de formulários para fins de anamnese e pesquisa, aplicados em forma de entrevistas dirigidas, realizadas com todos os recuperandos que ingressaram no CRHC no período de outubro de 2002 a março de 2004. Estes formulários estruturados foram constituídos por questões fechadas e abertas que abordaram as seguintes variáveis: o perfil sócio-cultural dos entrevistados; o histórico familiar; suas experiências relacionadas às drogas; fatores contribuintes para a sua experimentação e ingresso da dependência química; tipos de drogas mais utilizadas; perdas ocasionadas pelo uso das drogas e suas motivações quanto a recuperar-se. Compreendeu-se estas variáveis como sendo indicadores para a compreensão da realidade das drogas para o recuperando, inclusive, sobre qual o sentido da sua vida. Entendeu-se esta última questão como um provável viés reumanizador do seu sofrimento e do seu ser no mundo.

RESULTADOS: Os dados obtidos a partir das questões fechadas foram analisados com o suporte do programa SPSS for Windows versão 9.0, bem como, através da análise do conteúdo dos discursos, observou-se que a amostra revelou a predominância de dependentes químicos com idade de 15 a 36 anos (55%), solteiros (56%), com escolaridade de 1º grau (65%), sendo profissionais liberais (49%), evangélicos (39%) e com idade de ingresso nas drogas entre 8 a 15 anos (65%), com destaque para o início precoce a partir de 8 a 11 anos (14%), tendo (79%) de pai e mãe falecidos. Por conseguinte, constatou-se que as drogas mais utilizadas, concomitantemente, são o álcool e a maconha (45%), sendo o álcool isoladamente indicado por (47%) dos recuperandos, relacionando os fatores contribuintes para o uso das drogas à influência de amigos e conflitos familiares (54,5%), evidenciando as experiências marcantes e perdas sofridas pelo uso de drogas aos antecedentes criminais (26%) e as perdas materiais (41%), respectivamente. Os motivos para tratamento no CRHC referiram-se majoritariamente a (36%) de encaminhamentos por familiares, líderes religiosos ou outras pessoas, sendo (32%) por vontade própria para se recuperar. No questionamento quanto à existência de um sentido para a sua vida, relacionaram expressivamente para a conclusão de projetos de vida que foram interrompidos pelas drogas (52,5%) e (13,5%) afirmaram que o sentido da sua vida está na concretização da sua recuperação da dependência química, sendo este seu maior sentido para viver.

CONCLUSÕES: Diante dos resultados apresentados, concluiu-se que vários são os fatores que podem determinar o ingresso à dependência química, com destaque para as variáveis que implicam situações vivenciais, sentimentais e existenciais, bem como o falecimento ou abandono dos pais, o que pode gerar a falta de ambientes de afeto e de equilíbrio. Constatou-se ainda que o indivíduo suscetível a estas carências familiares ou sociais pode influenciar-se pelo meio e iniciar precocemente o uso de drogas. Neste contexto averiguou-se, inclusive, que a dependência química pode ser considerada como o sintoma e efeito da falta de sentido na vida, uma vez que as experiências marcantes relacionadas ao uso das drogas confirmam isto através dos altos índices de roubos, prisões, homicídios e perdas materiais, emocionais e sociais. Expressivamente observou-se que, no quesito sobre o sentido das suas vidas, os entrevistados evocam um desejo de resgatarem as perdas sofridas e ainda a busca por uma realização ou conclusão para si e para os outros de projetos que possam vir a significar um para quê viver como pessoa e como cidadão. Percebeu-se, no entanto, que o recuperando clama pela valorização da sua existência, como proposta de recuperação integral das dimensões biopsicosociais e espirituais. Espera-se que estes dados possam vir a contribuir para estudos posteriores.

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  recuperandos; centro de recuperação; logoterapia.

Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005