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D. Ciências da Saúde - 2. Medicina - 3. Clínica Médica
PREVALÊNCIA E VARIÁVEIS ASSOCIADAS A SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA EM MULHERES HISTERECTOMIZADAS ATENDIDAS EM AMBULATÓRIO DE CLIMATÉRIO
Rilva Lopes de Sousa 3 (rilvalopes@hotmail.com), Rosália Gouveia Filizola 1, Margareth de Fátima Formiga Diniz 3, Clarissa Lima e Moura de Souza 1, Eduardo Sérgio Soares Sousa 2, João Leonardo Ribeiro de Moraes 1, Débora Dantas Lins de Albuquerque 1, Evelise Lima Luduvice 1 e Jordana Pascoal Machado 1
(1. Depto. de Medicina Interna, Universidade Federal da Paraíba - UFPB; 2. Depto. Materno Infantil, Universidade Federal da Paraíba - UFPB; 3. LTF, Universidade Federal da Paraíba - UFPB)
INTRODUÇÃO:
Os sintomas depressivos representam um problema clinicamente relevante no contexto da síndrome climatérica em 10-30% dos casos. No entanto, não se conhece a prevalência dessa sintomatologia em mulheres climatéricas com histerectomia prévia, ainda que no Brasil um contingente de 20% das pacientes atendidas em ambulatórios de menopausa sejam histerectomizadas. Há referência na literatura à controversa relação entre sintomas psicológicos e antecedente de histerectomia. Nesse sentido, as implicações psicológicas da histerectomia têm motivado vários estudos desde a publicação de Richards (1974) sobre uma suposta síndrome pós-histerectomia, caracterizada por sintomas depressivos e alterações da libido, porém os dados empíricos não sustentam tal premissa, que permanece apenas como mito (histerectomia-depressão). Há necessidade de estudos sobre o tema focalizando as hipóteses neurohormonal e do efeito dominó no climatério feminino em função do antecedente de histerectomia. O objetivo deste trabalho foi estimar a prevalência de sintomatologia depressiva clinicamente significativa e verificar variáveis somáticas, hormonais e psicossociais associadas a esta manifestação em mulheres com antecedente de histerectomia na clientela atendida no Ambulatório de Climatério do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
METODOLOGIA:
A amostra foi composta por 67 mulheres na peri- e pós-menopausa com antecedente de histerectomia (com ou sem ooforectomia) atendidas no Ambulatório de Climatério do HULW/UFPB entre maio de 2004 e fevereiro de 2005. Os instrumentos psicométricos usados foram a escala de rastreamento de depressão do Centro de Estudos Epidemiológicos - CES-D e o Questionário de Auto-Avaliação da Escala de Hamilton para Depressão (QAEH-D), bem como um questionário padronizado de dados clínicos e sócio-demográficos. A presença de sintomas depressivos foi determinada pelo escore maior ou igual a 16 na aplicação do CES-D e maior ou igual a 10 no QAEH-D, com avaliação psiquiátrica posterior em tais casos. Entre as variáveis independentes foram focalizados: sintomas vasomotores, antecedente de transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM) e de depressão, co-ocorrência de eventos estressantes vitais, comorbidades, atividade física, número de gestações, antecedente de laqueadura tubária e contracepção oral, atividade sexual e libido, uso prévio de terapia hormonal (TH), nível de instrução, raça e renda. Foram dosados os níveis plasmáticos de estradiol e hormônio folículo-estimulante (FSH). Todas as pacientes tinham sido histerectomizadas por razões não-oncológicas e negavam uso corrente de terapia hormonal ou medicamentos psicoativos. Na análise estatística, foram usados testes quiquadrado, t de Student análise de correlação linear, a um nível de significância de 5%.
RESULTADOS:
A idade das pacientes variou entre 45 e 59 anos (51,184,21), com tempo de histerectomia entre 1 e 17 anos (5,453,71), sendo 18 (26,9%) submetidas a ooforectomia unilateral, 22 (32,8%) com ooforectomia bilateral e 27 (40,3%) com conservação dos ovários. Da amostra total, 51 (76,1%) apresentavam sintomas vasomotores (ondas de calor e sudorese noturna), com freqüência de 2 a 15 (5,252,93) episódios por dia de intensidade leve (13,7%), moderada (25,4%) e grave (60,7%). Alcançaram o ponto de corte nas escalas de sintomas depressivos 17 mulheres (25,4%) no CES-D e 19 (28,4%) no QAEH-D, havendo uma concordância de 88% (coeficiente Kappa: P=0.0001) entre os dois instrumentos. Presença de sintomatologia depressiva clinicamente significativa relacionou-se com antecedente de depressão (P=0.001), concentrações plasmáticas de estradiol (P=0.01), ooforectomia (P=0.04) e estado civil (P=0.007), sendo mais intensa em mulheres que relatavam tratamento anterior para depressão, nas que tinham sido ooforectomizadas e com os menores níveis de estradiol e nas viúvas e divorciadas/separadas. Não houve associação com presença, freqüência e intensidade de sintomas vasomotores, antecedente de TDPM, ooforectomia, comorbidades, atividade física, eventos estressantes, idade, número de gestações, antecedente de laqueadura tubária e contracepção oral, atividade sexual e libido, tempo de histerectomia, uso prévio de TH, nível de instrução, renda e raça.
CONCLUSÕES:
A prevalência de sintomatologia depressiva nesse grupo de mulheres climatéricas histerectomizadas foi similar à de estudos com amostras de mulheres climatéricas não submetidas a histerectomia, não se apoiando, portanto, a premissa de que sintomas disfóricos são mais freqüentes entre mulheres climatéricas com antecedente de remoção cirúrgica do útero. A sintomatologia depressiva associou-se com concentrações plasmáticas de estradiol, ooforectomia e antecedente de depressão, sugerindo uma base biológica para esse quadro, que foi, porém, influenciado também pelo estado marital. Os dados não apóiam a hipótese do efeito dominó dos sintomas vasomotores sobre o humor. Os resultados observados indicam a relevância da carência estrogênica sobre a ocorrência de sintomatologia depressiva em mulheres predispostas a transtornos do humor.
Palavras-chave:  Depressão; Estrógeno; Histerectomia.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005