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H. Artes, Letras e Lingüística - 5. Semiótica - 1. Semiótica
ANÁLISE SEMIÓTICA, SOB A ISOTÓPICA PSICANALÍTICA, DA ESTÁTUA DE MOISÉS DE MICHELANGELO
Sady Carlos de Souza Júnior 1 (sadycarl@usp.br)
(1. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - FAUUSP)
INTRODUÇÃO:
Objetivamos aplicar a metodologia da transferência do discurso freudiano numa análise semiótica do discurso do programa narrativo da estátua “Moisés”, de Michelangelo. A Disciplina MICHELANGELO, PINTOR, ESCULTOR E ARQUITETO, ministrada pelo Prof. Dr. Luciano Migliaccio, na Pós-Graduação da FAUUSP, no primeiro semestre de 2004 sucitou alguns apontamentos e instigações que aproveitamos reconduzi-la a uma sucinta análise semiótica de modo a despertar sob a isotópica freudiana uma outra faceta das relações metalingüísticas da significação do objeto, mais precisamente, da projeção e/ou transferência que o objeto valor refletiria na imagem do próprio sujeito enunciador.
METODOLOGIA:
Um novo investimento semântico, de conteúdo analítico, no desenvolvimento do discurso extralingüístico, possibilitou ratificar hipóteses subjacentes da motivação do autor da estátua através do tema que a fez insurgir, ou seja, indagou-se o momento histórico de Moisés a qual Michelangelo se reportara, as relações entre a idéia da concepção da estátua e a percepção mítica greco-romana; a relação que faz Freud entre Michelangelo e a sua concepção, bem como a transferência que recupera Freud como debreagem judaizante para compreendê-lo no enfoque proposto da projeção do sujeito. Levantamos a hipótese de que a projeção do escultor sobre sua obra estatiza o momento supremo em que, surpreso, frente ao objeto “invisível” ao qual se depara (o bezerro de ouro), se reproduza em si mesmo; ex.: os chifres de Moisés. Portanto, inferimos a metodologia dedutiva (do geral para o particular), para a concepção hipotética, semiológica, corroborada nas atualizações narrativo-discursivas do objeto. Assim, levantamos pontos referenciais ao movimento, à gestualidade, a interpretação estética/funcional do uso como símbolo (religioso/mitológico, no sentido de adicionar-lhe a caracterização do fauno).
RESULTADOS:
Pudemos atualizar alguns pontos importantes na tensão dialética entre os contrários dos metatermos no quadrado semiótico de Greimas: Ser e Não Ser, Parecer e Não Parecer, ao ressaltar as variáveis dinâmicas de Moisés, em Michelangelo, e através de Freud, ex: 1) o movimento da escultura como impulso à ação em Michelangelo, versus, o contraditório - o instante de recuo, que preconiza Freud, ao estado reprimido; 2) há a intensão de quebrar o bezerro de ouro – ação; e a introversão da frustração - posterior, de haver quebrado as tábuas – contenção; 3) a dicotomia entre o referente invisível (bezerro de ouro) versus o referente visível (estátua de mármore). O referente semiótico invisível é dado pelo gesto do olhar que imprimiria Moisés ao bezerro de ouro, e o signo visível é dado pelo observador, o nosso olhar, ao próprio objeto construído. O Ser/Moisés refunde-se no Não Ser/Bezerro, como fusão do objeto observado no próprio sujeito, ou seja, os chifres do bezerro aparecem em Moisés como ato transferencial inverso, 4) o personagem como resultado dinâmico deste discurso identitário com o seu anti-sujeito equivalente, aproximado pela inveja/ciúme despertadas em Moisés, tenham sentido ao divisar outro deus, a troca do espiritual, pelo deus material; 5) a identificação da estátua com um “sátiro/fauno” pela caraterização de Moisés com chifres. Neste sentido, seus dedos tocam a flauta “de Pan” entre as longas barbas onduladas que remetem a frequência do som; o retorcimento do tornozelo, a pata de um bezerro; e o panejamento nas pernas, a pelugem do fauno.
CONCLUSÕES:
As articulações semióticas, ao nosso ver, corroboram a possibilidade identitária psicanalítica da resolução do suposto conflito da figura do personagem representado. A cristalização em mármore de uma situação histórica a qual nos debruçamos sob o enfoque semiótico, depois de uma apreciação estético/freudiana propõe uma semiose da percepção do objeto que, dialeticamente, pode trazer outros significados a partir destas relações. Os vários elementos lingüísticos atestam que os dados significativos retirados ou produzidos pelo escultor, e reatualizados pela psicanálise, conferem a possibilidade de, através deles, reconhecermos - sempre amparados pelos conhecimentos que subjazem a motivação do observador -, indícios potenciais de novos recortes culturais, aperfeiçoando nossa visão de mundo na produção do objeto, bem como sobre sua metodologia e análise.
Palavras-chave:  semiótica; Michelangelo; Freud.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005