|
||
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação | ||
AMBIENTE SOCIOMORAL E DESENVOLVIMENTO DA AUTONOMIA | ||
Jakeline Alencar Andrade 1, 2, 4 (jakeline.andrade@bol.com.br) e Fernando Becker 1, 3, 4 | ||
(1. Programa de Pós-Graduação em Educação/Faculdade de Educação/UFRGS; 2. Fund.de Articulação e Pol. Pub. Portadores Def. e aos Port. Altas Hab./FADERS; 3. Depto de Estudos Básicos/Faculdade de Educação/UFRGS; 4. Núcleo de Estudos em Epistemologia Genética e Educação/NEEGE) | ||
INTRODUÇÃO:
Esta pesquisa aborda as relações entre o ambiente sociomoral e o desenvolvimento da autonomia das crianças de uma Escola da comunidade no Município de Porto Alegre-RS. O objetivo é descrever o ambiente sociomoral de sala de aula, construído nas relações interindividuais entre professores e alunos, e analisar o desenvolvimento da autonomia das crianças através do estudo do juízo moral. O conceito de ambiente sociomoral parte da premissa de que cada escola e cada sala de aula é constituída por uma atmosfera relacional única estabelecida entre professores e alunos e que a qualidade dessas relações (coercitivas ou cooperativas) influencia no desenvolvimento da autonomia dos alunos. |
||
METODOLOGIA:
A pesquisa teórica fundamenta-se em estudos e abordagens sobre a moralidade e, em especial, nos estudos da Epistemologia Genética de Jean Piaget (1896-1980) sobre o juízo moral de crianças e sobre a gênese e o desenvolvimento da inteligência. A pesquisa empírica consiste (1) na descrição sócio-antropológica da Escola, onde se buscou conhecer o cotidiano da instituição através de observações, conversas, participação em reuniões e entrevistas; (2) na realização de entrevistas semi-estruturadas com 6 professoras e com a diretora, a fim de apreender o discurso pedagógico vigente na Escola; (3) na análise de documentos oficiais da Escola que forneceu informações sobre os objetivos, normas e procedimentos da instituição; (4) nas observações em três salas de aula, que possibilitaram a elaboração de categorias para a análise do ambiente sociomoral de cada sala (a atmosfera geral da sala de aula, a função e a utilização de jogos no cotidiano escolar, a abordagem de conteúdos ou a prática pedagógica em sala de aula e, principalmente, a qualidade das relações entre professor e aluno). Utilizou-se, ainda, (6) o método clínico piagetiano na investigação do juízo moral de 18 alunos (6 da 1a série, 6 da 3a série e 6 da 6a série), com o intuito de descrever as tendências gerais do desenvolvimento moral dos alunos nesse ambiente sociomoral específico. |
||
RESULTADOS:
O ambiente sociomoral da Escola pode ser descrito como variável de acordo com o professor que rege cada turma e a qualidade das relações interindividuais entre este professor e seus alunos. Assim, temos uma ambiente sociomoral mais cooperativo (relações mais igualitárias) na 1ª série e menos cooperativo gradativamente na 3ª e 6ª séries. Já as análises das entrevistas clínicas confirmam a gradação encontrada nos estudos de Piaget: as crianças mais velhas tendem a dar respostas mais autônomas, isto é, carregadas de reflexão e de distanciamento da influência adulta, enquanto as mais novas são mais heterônomas (em relação aos mais velhos), pois emitem respostas a partir das prescrições adultas sem uma maior reflexão ou consideração caso a caso, como o fazem os mais velhos. Mas essa constatação não é novidade no que se refere ao juízo moral das crianças. A novidade está no percentual das respostas das crianças de seis-sete anos: a quantidade de respostas tendentes à autonomia é bem significativa nos alunos da 1ª série (44,82 %) e isso sem considerar as respostas semi-autônomas, elas representam quase trinta por cento (30 %) das respostas da 1ª série. As respostas realmente heterônomas se reduzem, portanto, a apenas vinte e sete por cento (27,58 %) nas crianças mais novas, já que o restante se constitui de uma contestação, ainda que incipiente, sobre os conteúdos das regras e prescrições adultas. |
||
CONCLUSÕES:
Os resultados gerais da pesquisa mostram o progresso da autonomia das crianças mais novas inseridas num ambiente sociomoral cooperativo em sala de aula e sugerem, assim, uma nova abordagem para as relações interindividuais na escola. Reforçam a conclusão de que um ambiente sociomoral pautado pelas relações interpessoais de cooperação e respeito mútuo, como ocorre na sala da 1ª série, favorece o desenvolvimento da autonomia das crianças. No entanto, ao observamos numa mesma escola diferentes ambientes sociomorais pautados pela mesma proposta pedagógica e diferenças marcantes nos relacionamentos interpessoais entre professores e alunos na 3ª e na 6ª séries, de tal modo que não se observa qualquer avanço significativo no desenvolvimento da autonomia desses alunos, como constatado na 1ª série, fica cada vez mais evidente a importância das relações interindividuais pautadas pela cooperação e pelo respeito mútuo na construção da moralidade individual dos alunos que, assim, serão futuros cidadãos conscientes e críticos de seus direitos, deveres e participação na sociedade. |
||
Instituição de fomento: CNPq | ||
Palavras-chave: desenvolvimento moral; ambiente sociomoral; epistemologia genética. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |