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H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 3. Literaturas Clássicas
DO MAR SE FEZ POESIA: DE OVÍDIO (SÉCULO I D.C.) A DORIVAL CAYMMI (SÉCULO XXI) - UM ESTUDO INTERTEXTUAL
Ivone da Silva Rebello 1 (ivonerebello@yahoo.com.br) e Eliana da Cunha Lopes 2
(1. Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro - PCRJ/RJ; 2. Depto. de Filosofia e Letras, Faculdade Gama e Souza - FGS/RJ)
INTRODUÇÃO:
Este trabalho, estando inserido em uma das linhas de pesquisa da Literatura Latina e da Literatura Comparada, tem seu enfoque crítico-teórico nas poéticas da modernidade, destacando-se as relações intertextuais entre os poemas selecionados, de diferentes autores e épocas, perpassando por poetas do século I d.C. ao século XXI, os quais tomaram o mar como tema em suas composições épicas ou líricas. Objetiva-se, portanto, estudar a paisagem marítima, numa perspectiva cultural, literária e comparativa, buscando-se nas poesias romana, brasileira e portuguesa uma relação intertextual. O mar, com sua grandeza, mistérios e simbolismos, sempre foi um espaço propício a divagações poéticas, conforme o eu-lírico de cada escritor. Dependendo da “disposição anímica” do poeta (STAIGER, 1975:59), o mar pode representar a vida e a morte, a alegria e a tristeza, a solidão e a conciliação, a fecundidade e a infertilidade, o amor e a desilusão, a onipotência divina ou da natureza, enfim, tais temas constituem as metáforas mais usadas pelos “vates” ao exporem seus sentimentos e paixões. Assim, nas obras de Ovídio e Propércio (romanos), Martim Codax, Camões, Fernando Pessoa, Sophia Andresen (portugueses), Gonçalves Dias, Vicente de Carvalho, Joaquim de Sousa, Augusto dos Anjos, Carlos Drummond, Cecília Meireles, João Cabral, Dorival Caymmi (brasileiros) e outros (esta é apenas uma pequena seleção), desenvolveu-se um estudo de análise textual, voltado para a intertextualidade, a fim de apontar o mar como um “topoi” da literatura universal.
METODOLOGIA:
Para a realização deste trabalho, foi feita, inicialmente, uma revisão bibliográfica, com a finalidade de fundamentar toda a análise textual. As reflexões levantadas, foram pautadas nos estudos de Literatura Comparada, buscando-se um referencial teórico sobre a intertextualidade “hetero-autoral” e “homo-autoral” (SILVA, 1991:630). Figuram, neste estudo, alguns críticos literários como: Vítor Manuel de Aguiar e Silva, Linda Hutcheon, Julia Kristeva, Ernst Curtius, Emil Staiger e outros. Procedeu-se, portanto, a uma leitura comparativa dos textos escolhidos, a qual permitiu destacar o diálogo referencial entre os mesmos, bem como o tema do mar como metáfora do fazer poético. Assim, “qualquer texto se constrói como um mosaico de citações e é absorção e transformação dum outro texto” (LAURENT, 1979:13).
RESULTADOS:
Constatou-se, nesta pesquisa, que o tema do mar, na poesia, sempre foi um espaço aberto a divagações poéticas, diluindo-se em realidade, sonhos e fantasias, sempre presente na visão metafórica da escrita poética. Assim, “os poetas romanos costumam comparar a composição de uma obra com uma viagem marítima” (CURTIUS, 1996:177), enquanto que para os poetas portugueses, o mar sempre foi uma paisagem quotidiana, profundamente impregnada da cultura portuguesa – o mar sempre foi o grande chamamento do povo português, a sua vocação (“Por mares nunca dantes navegados” – CAMÕES, Lus.1:3). Já para os poetas brasileiros, o mar não é conhecido como um espaço pleno, aberto aos desafios, como visto por Camões e Pessoa. Mas, apresenta-se como um mar-paisagem, fruto da imaginação do poeta, da contemplação; um mar real, absoluto, tendo em vista que foi por ele que os donos da nossa terra – os índios – foram dominados, escravizados e exterminados; um mar portal das grandes invasões estrangeiras e o caminho dos 300 anos de escravidão negra. Pode-se ainda destacar, na paisagem cearense, que o mar teve um papel primordial na sua história, contribuindo de modo decisivo para a colonização do Ceará, oscilando do “sertão para o mar ou do mar para o sertão” (SAMPAIO, SBPC/2005). Enfim, os poetas analisados mostram que a visão metafórica do mar está presente nas obras de diferentes escritores, épocas e culturas, constituindo-se num elo temático que tem atravessado séculos.
CONCLUSÕES:
Conclui-se, portanto, que o diálogo intertextual, encontrado nos poemas em estudo, confirma a tese de que não há fronteiras no fazer poético de diferentes autores e épocas, e que o mar, com suas ondas inconstantes, levou poetas a metaforizarem as suas paixões e angústias, ambições e fantasias, bem como a personificá-lo como um agente propício às ambições materiais do homem. A inspiração marítima é tão antiga quanto a literatura universal, constituindo-se numa metáfora náutica, pertencente, originalmente, à poesia (“Oh! mar! Oh! solidão, eu te saúdo;...” – Joaquim de Sousa, poeta cearense). Enfim, “...a intertextualidade designa não uma soma confusa e misteriosa de influências, mas o trabalho de transformação e assimilação de vários textos...” (LAURENT, 1979:14). E ainda, “a literatura é criada a partir da literatura, não a partir da realidade, quer seja esta material ou psíquica; toda obra literária é convencional. Só se pode fazer poemas a partir de outros poemas...” (TODOROV, 1975:14).
Palavras-chave:  Literatura Latina e Comparada; Literatura latina e luso-brasileira; Intertextualidade.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005