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G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 3. Geografia
A GERAÇÃO DE ENERGIA HIDRELÉTRICA: O CASO DA USINA HIDRELÉTRICA GARCIA I (ANGELINA/SC)
Mateus Schappo 1 (mateuschappo@ibestvip.com.br) e Isa de Oliveira Rocha 2
(1. Departamento de Geografia, Faculdade de Educação - FAED/UDESC; 2. Prof. Doutora do Departamento de Geografia, Faculdade de Educação - FAED/UDESC)
INTRODUÇÃO:
O setor energético brasileiro baseou seu modelo de geração nos abundantes recursos hídricos do país. No presente, a reordenação da matriz energética é orientada pela falta de investimentos em grandes empreendimentos e pela preocupação com projetos que acarretem grandes impactos ambientais. Grande parte do potencial hidrelétrico brasileiro é constituído por usinas de pequeno e médio porte. Este potencial é ainda mais importante se considerarmos os reduzidos impactos destes empreendimentos, o custo acessível, um menor prazo de implementação e as facilidades oferecidas à instalação dos mesmos. Estes e outros fatores relevantes fazem com que o setor energético venha concedendo maior atenção à contribuição das Pequenas Centrais Hidrelétricas. Como exemplo cita-se a instalação da Usina Hidrelétrica Garcia I – objeto de estudo desta pesquisa - no Município de Angelina (SC), na Bacia Hidrográfica do Rio Tijucas. Em 1950, uma extensa área foi adquirida pelo Estado para construção da Usina, inaugurada em 1964, e que passou a fornecer energia elétrica para a região da Grande Florianópolis. Quase quatro décadas após o início das operações, esta usina já não é tão importante. O Estado cresceu, a demanda de energia elétrica também, e outras usinas foram construídas. Contudo, investigar seu processo de instalação no contexto dos setores energético brasileiro e catarinense, bem como seus conseqüentes impactos sociais, econômicos e ambientais, nortearam a escolha desta temática da pesquisa.
METODOLOGIA:
Os procedimentos metodológicos desta pesquisa abarcaram: a) revisão bibliográfica, histórica e comparativa da área estudada, bem como do setor elétrico estadual e brasileiro, cujo levantamento bibliográfico foi realizado em livros, artigos, monografias e outras publicações; b) busca de informações em instituições públicas, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Fundação de Meio Ambiente de Santa Catarina (FATMA), Secretarias de Estado, Centrais Elétricas de Santa Catarina (CELESC), etc, além da coleta de material estatístico e documental in sito; c) realização de saídas de campo à área de estudo. Paralelamente foram realizadas entrevistas com a população residente no local na época da instalação da Usina, com os moradores atuais e com funcionários da mesma. A pesquisa seguiu os pressupostos de três matrizes teóricas fundamentais, quais sejam: a perspectiva de gênese e processo apresentada no paradigma Formação Sócio-Espacial proposta por Milton Santos (1987), b) análise econômica brasileira relacionada aos ciclos econômicos exposta na obra de Ignácio Rangel (1982 e 1985), que reitera os períodos de crescimento e crise do modo de produção capitalista; c) a proposta de estudo da realidade geográfica a partir da integração entre Sociedade e Natureza proposta por Armem Mamigonian (1999).
RESULTADOS:
No ano de 1954 iniciou-se a construção do reservatório para a Usina Garcia I, simultânea a limpeza da área, com a retirada da fauna e da flora; as famílias que lá residiam já haviam sido retiradas anteriormente. A potência instalada era suficiente para o fornecimento de energia elétrica à região de Florianópolis, assim como o atendimento da demanda em outras zonas do Estado. A instalação de uma Usina, na época, era vista pela população como uma fonte de emprego e renda, pelo contingente de pessoas contratadas para trabalhar na construção, operação e manutenção da Usina. Porém, a população da localidade diminuiu devido às desapropriações e desmantelamento da vila operária - atualmente desabitada - que fora erguida próximo à usina. Com o término da obra, o leito do rio abaixo da represa quase que secou, causando a interrupção no fluxo migratório dos peixes. Além dos efeitos derivados das rápidas mudanças ambientais, ressalta-se os impactos sociais do reservatório: o deslocamento populacional, a indenização paga aos residentes na área alagada, inferior ao preço real, bem como a destruição das relações sociais estabelecidas no lugar, pois boa parte da população que residia na área foi morar em outro lugar. O lago da Represa da Usina Garcia I não apresenta nenhuma infra-estrutura para o lazer, limitado à realização de campeonatos anuais de Jet-Sky. A pesca com redes e tarrafas é proibida, porém praticada com freqüência.
CONCLUSÕES:
A energia hidrelértrica dita como limpa, por não apresentar fonte poluidora após sua instalação, causa inquestionavelmente, importantes alterações nos locais de sua construção. Grandes empreendimentos hidrelétricos continuam a ser instalados em todo o território nacional, como também no Estado de Santa Catarina. As Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH´s) surgem como uma alternativa para vários problemas. Quanto à questão da falta de energia, pequenos empreendimentos são instalados em um menor espaço de tempo, aproveitando pequenos potenciais hidráulicos, ampliando assim a capacidade de geração de energia. Além disto, apresentam menores custos, quando comparadas com grandes empreendimentos, levando-se em consideração a pouca disponibilidade de recursos e investimentos dispensados ao setor. A PCH Garcia I, não trouxe maior dinamicidade econômica para Angelina, além da geração de energia. Os empregos criados com a instalação da mesma foram muito abaixo da expectativa da população. O reservatório, raramente é utilizado como local para lazer e turismo, principalmente pela falta de estrutura no local. Mais comumente é usado para a pesca, que muitas vezes não a esportiva, mas a predatória. Portanto, pelo exposto percebe-se que a área da PCH Garcia I em Angelina poderia ser melhor inserida no contexto econômico municipal, e assim contribuir também para a geração de renda, e não somente de energia elétrica.
Palavras-chave:  Energia elétrica; Impactos ambientais; Usina Hidrelétrica Garcia I.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005