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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 1. Gerontologia | ||
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO MEDO DE ENVELHECER: UM ESTUDO SOBRE GEROFOBIA NA AMAZÔNIA. | ||
Juliana Gomes de Araújo 1, 2 (julianagomesaraujo@yahoo.com.br), Siane Karla dos Santos Silva 1, 2, Gleisiane de Nazaré Vilhena Miranda 1, 2, Heliana Baía Evelin Soria 2, 3 e Gilberto Peixoto Dos Santos 4 | ||
(1. Graduanda do Curso de Serviço Social, Universidade Federal do Pará / UFPA, Belém/PA.; 2. Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Envelhecimento Humano na Amazônia - GEP SENECTUS.; 3. Profa. Dra. do Depto. de Fundamentos do Serviço Social do Curso de Serviço Social, UFPA, Belém/PA.; 4. Graduando do Curso de Educação Artística - Hab. Em Música, UFPA, Belém/PA.) | ||
INTRODUÇÃO:
Os estudos a respeito da gerofobia não são volumosos. Alguns autores utilizam essa expressão para descrever os preconceitos e estereótipos, em relação às pessoas idosas, fundadas unicamente em sua idade, expressa através de atitudes negativas que surgem do medo que as gerações mais jovens têm do envelhecimento e de sua resistência em lidar com os desafios sociais e econômicos do envelhecimento (Salgado, 2002). Em conseqüência disso, observa-se a busca incessante pelo rejuvenescimento, as dificuldades dos relacionamentos intergeracionais e outras conseqüências físicas e psicológicas da gerofobia. A pesquisa teve como objetivo identificar as possíveis origens desses medos e como a gerofobia perpetua-se na sociedade partindo da análise das representações sociais presentes na Região Amazônica. Pretende perceber até que ponto os costumes, o imaginário popular e a ideologia contribuem para a reprodução da imagem negativa que é gerada em torno do envelhecimento que acaba por transformar o velho numa figura deslocada do cenário das relações de reprodução do Capital e, portanto, “inútil ao sistema”, uma vez que para garantir a manutenção deste sistema e da produtividade o “velho” deve ser substituído pelo “novo”. Com os resultados obtidos, podemos, então, formar um quadro representativo da velhice e do processo de envelhecimento na Amazônia, traçar um perfil dessas representações contribuindo para a identificação de medidas que devem ser tomadas para o equacionamento da questão. |
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METODOLOGIA:
A primeira etapa da pesquisa deu-se com levantamento bibliográfico das questões chaves. Para a análise dos documentos e falas dos sujeitos/informantes da pesquisa, a bibliografia consultada sugeriu em SPINK (1995), que a técnica qualitativa, ou método de análise que vem norteando os estudos que visam entender as Representações Sociais é chamado desvendamento de teorias implícitas, que supõe a centralização na análise da totalidade do discurso dos sujeitos/informantes. Trata-se, portanto, de efetuar a análise de discurso que neste trabalho teve como matéria-prima dados provenientes de 04 reuniões realizadas com grupos de crianças de 08 a 10 ano; adolescentes de 12 a 14 anos; pessoas de meia idade de 23 a 40 anos e idosos de 50 a 80 anos, totalizando 158 sujeitos/ informantes. Foram introduzidas as perguntas abaixo selecionadas de acordo com cada faixa etária: O que é a velhice? O que é ser velho? Como são as pessoas velhas? Qual a idade do início da velhice? O que os velhos podem fazer? Vocês têm avós? Como eles são? Quando vocês ficarem velhos como serão? Desta forma, buscou-se compreender questões como: dificuldade de relacionamento intergeracional; busca pelo rejuvenescimento; perda da identidade na velhice, dentre outras de cunho mais subjetivo como conteúdos estereotipados, indiferença, descaso, medos e dúvidas com relação ao processo de envelhecimento humano. As reuniões foram gravadas e transcritas, em seguida deu-se início a interpretação dos dados coletados. |
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RESULTADOS:
A análise partiu do pressuposto de que a sociedade capitalista e todas as transformações que este modo de produção efetua na sociedade através das ideologias, relações de dominação, de trabalho, etc., são causadoras da atual representação que a velhice e o processo de envelhecimento como um todo possui. Estas representações seriam falsas e gerariam o medo/aversão por tudo que esteja relacionado com o tema, o que chamamos de gerofobia. No trato das representações observadas no discurso dos sujeitos/informantes dos grupos pesquisados concluiu-se que a concepção de velho/velhice é referendada enquanto perda e representada pelas expressões REGRESSÃO, DESGASTE FÍSICO e MENTAL, DOENÇAS e FIM da VIDA. A maioria dos sujeitos/informantes refere-se à velhice como um período de regressão da vida, de perdas. Frases como “as pessoas velhas são frágeis”, “são pessoas como nós, só que mais cansadas” e “os idosos são doentes” definem a velhice remetendo à idéia de declínio, de perda da autonomia, o que implica dizer que para esses sujeitos, ser velho é depender física e mentalmente dos outros, é “dar trabalho”. Analisando as respostas dadas é possível afirmar que as representações negativas de velhice são mais expressivas que as positivas tanto em grupos de crianças e adolescentes quanto em grupos etários mais velhos. O que prevalece no discurso é a imagem desbotada, ranzinza e enrugada da velhice, encontradas de forma simbólica e até explicita nos discursos analisados. |
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CONCLUSÕES:
A análise teórica que fundamenta este estudo revela que as transformações ocorridas na sociedade moderna contribuíram para a alteração dos valores de referência à velhice. Com o trabalho de campo observamos que essas falsas representações estão entranhadas nos discursos dos indivíduos como um reflexo das relações sociais travadas no cotidiano da sociedade capitalista. São traços econômicos, sociais, biológicos, psicológicos e culturais que se entrelaçam e dão origem a uma mesma linguagem de recuo diante da imagem estereotipada do homem envelhecido. Constata-se que velhos, adultos, adolescentes e crianças precisam apropriar-se do sentido do verbo envelhecer, entendê-lo como curso natural da vida e que viver a velhice com qualidade é conseqüência de um preparo biológico, social, psicológico e cultural que deve prescindir à fala, principalmente na Região Amazônica onde o pauperismo, o baixo nível escolar e a submissão às más condições de trabalho e à doença, fazem dos mais velhos uma categoria altamente necessitada e sujeita a sofrer com preconceito e discriminação. A importância de trabalhos como este está na identificação dessas demandas com vistas à solução dos problemas provenientes, não do fenômeno do envelhecimento, mas sim das más condições de vida dessa população envelhecida. A velhice não é uma doença e envelhecer não é um problema a ser solucionado pela ciência. Encará-la como tal é reforçar um dos maiores males deste século: o de odiar a velhice. |
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Instituição de fomento: CNPq | ||
Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: Envelhecimento Humano; Representações Sociais; Medo de Envelhecer. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |