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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 5. Sociologia Rural | ||
JUVENTUDE RURAL: AS MÚLTIPLAS DIMENSÕES DE SER JOVEM | ||
Celecina de Maria Veras Sales 1 (celecina@secrel.com.br) e Rebeca Raso Prazeres 1 | ||
(1. Depto. De Economia Doméstica, Centro de Ciências Agrárias - UFC) | ||
INTRODUÇÃO:
A realidade concreta dos assentamentos rurais mostra a existência de múltiplos pertencimentos dos jovens. Além de trabalhadores-estudantes eles também estão presentes nas práticas culturais, políticas e religiosas do assentamento. Nesta perspectiva qual a importância da juventude no direcionamento e desenvolvimento no assentamento? A luta dos jovens Sem Terra do Ceará e suas famílias se inicia pela conquista da terra, mas vai além quando lutam para ter educação, trabalho, liberdade, e também para entrar no jogo de disputa onde podem exercitar saberes e poderes. Nos assentamentos sonham em conseguir a terra e melhores condições de vida. Nos interessa estudar as múltiplas dimensões de ser jovem, destacando as diferenciações de gênero nas diversas ações desenvolvidas na vida cotidiana dos jovens do assentamento Palmares, no município de Crateús -CE. Buscaremos compreender a importância da participação dos jovens no processo produtivo, as possibilidades de trabalho fora do âmbito da casa e da roça e se os jovens se reconhecem e são reconhecidos por suas famílias e vizinhos como trabalhadores e trabalhadoras. Sobre a educação-formação pretendemos verificar a dimensão que os jovens dão à escola e que relação estabelecem entre escola e trabalho. Pretendemos ainda conhecer como os jovens reelaboram saberes que adquirem nas práticas escolar e social e em suas manifestações políticas e culturais expressas através de suas práticas discursivas e corporais. |
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METODOLOGIA:
A pesquisa em andamento se desenvolve com jovens do Assentamento Palmares localizado no município de Crateús a 14,6 km da sede deste município. O assentamento é resultado da luta pela terra através da ocupação ocorrida no dia 28 de dezembro de 1993 por 43 famílias. Atualmente 57 famílias trabalham e residem no local. Para analisarmos a problemática utilizamos o trabalho de campo desenvolvido através da permanência nas residências dos jovens. Os principais procedimentos utilizados são: observação direta, entrevistas e grupos de discussão temática. A entrevista semi estruturada e a discussão em grupos temáticos são recursos básicos para dar voz aos jovens acerca da sua vida familiar, suas atividades dentro e fora do lar. A observação tem sido realizada durante visitas às famílias, aos locais de trabalho e lazer, em reuniões da comunidade. O diário de campo tem sido um valioso instrumento de registro do cotidiano das jovens. Foram entrevistados coordenadores do Assentamento para conhecer projetos e programas direcionados aos jovens e à história da ocupação. No contexto familiar, verificamos como os jovens percebem e explicam a organização do trabalho no espaço familiar, a rotina do trabalho doméstico. Outros procedimentos foram utilizados visando apreender as atividades cotidianas dos jovens destacando-se levantamento bibliográfico, dinâmicas de grupos, envolvendo dramatização, teatro debate, entre outros. |
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RESULTADOS:
Os jovens estudados, em sua quase totalidade, freqüentam a escola e trabalham diariamente com suas famílias, mas não se autodenominam trabalhadores. Embora o trabalho dos jovens seja importante na reprodução da sobrevivência da família e na produção do assentamento, não são contemplados nos programas e projetos governamentais, uma vez que são considerados apenas como filhos de assentados. Quando os jovens terminam o ensino fundamental têm que se deslocarem para a sede do município. Os jovens acreditam que o grau de escolaridade aumenta as perspectivas de trabalho fora do assentamento, e se questionam se os jovens que desejam permanecer no assentamento, principalmente as moças, teriam atividades a desempenhar no campo. As alternativas de cultura e lazer são mínimas, inclusive na própria sede do Município. Os jovens criam e recriam práticas culturais e, em alguns momentos, essas manifestações expressas com o corpo, com gestos, com palavras, com o canto, com a poesia, se transformam em uma recusa à sujeição econômica, política, cultural e subjetiva. Com relação aos seus pais os jovens vivem menos isolados, têm uma maior mobilidade, tanto pelas migrações temporárias como pela participação em eventos políticos, e há também uma mudança de valores em curso, que se percebe nos costumes, na forma de falar e de vestir, nas crenças, no lazer, no tipo de associação e no desejo. Quando falam dos seus sonhos demonstram uma vontade de mudança imediata, mas também se preocupam com o futuro. |
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CONCLUSÕES:
Os jovens do assentamento Palmares, como tantos outros jovens rurais, vivem em condições de pobreza e, mesmo depois de obter a terra, permanecem fora dos projetos dos órgãos públicos de assistência aos assentamentos. Desde criança se iniciam como aprendizes do trabalho agrícola e doméstico. No cotidiano os jovens sonham com mudanças tanto individuais como coletivas. No plano individual desejam uma ascensão social futura através dos estudos. Muitos jovens fazem questão de afirmar que deixar a roça não significa deixar o assentamento, e alguns deles expressam a vontade de estudar fora e depois retornar ao assentamento. Quando falam dos seus sonhos, os jovens conseguem romper com algumas determinações da herança que diz sobre as funções que os rapazes e as moças devem cumprir nos diferentes espaços. As participações dos jovens em atividades políticas e culturais são atreladas às atividades promovidas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), se constituem momentos em que os jovens têm a oportunidade de sair de casa, ter visibilidade e liberdade. O sentido de liberdade é ter mais autonomia do que eles têm na família, no trabalho, na escola, no assentamento, pois como diz uma jovem entrevistada: “ser jovem é ter uma vida bem livre, ter muitos sonhos, ter também muitas dúvidas, muitas dificuldades na vida, mas também tem muita animação. Eu acho que toda vez que a gente tem um pensamento novo a gente é jovem”. |
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Instituição de fomento: Universidade Federal do Ceará | ||
Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: juventude rural; relações de gênero; trabalho. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |