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G. Ciências Humanas - 5. História - 8. História Regional do Brasil | ||
TAMBOR DE MINA E PAJELANÇA EM MEADOS DO SÉCULO XX NO MARANHÃO: RESISTÊNCIA E PERSEGUIÇÃO | ||
Antonio Evaldo Almeida Barros 1 (eusouevaldo@yahoo.com.br), Selina Mendes Queiroz 2, Girlaine Fenandes de Andrade 3 e Sérgio Figueiredo Ferretti 4 | ||
(1. Depto. de História, Universidade Federal do Maranhão - UFMA.; 2. Depto. de Educação Artística, Universidade Federal do Maranhão - UFMA.; 3. Depto. de Letras, Universidade Estadual do Maranhão - UEMA.; 4. Depto. de Sociologia e Antropologia, Universidade Federal do Maranhão - UFMA.) | ||
INTRODUÇÃO:
Analisamos discursos sobre manifestações de cultura e religiosidade popular (tambor de mina e pajelança) no Maranhão, em meados do século XX (1945-1955), considerando ser importante a localização de tais manifestações ao longo da História, percebendo como os atores sociais nela envolvidos dialogavam com a sociedade em geral. Tal análise será feita por um duplo e interdependente enfoque. No primeiro, objetivamos verificar que aquelas manifestações são vistas como o sinal concreto da decadência do Estado, herança de pretos e índios, devendo, por isso, serem extirpadas ou ao menos afastadas dos centros ditos civilizados (Este é um momento em que perseveram velhos textos que tomam uma certa Europa como modelo, sendo as idéias de civilização e progresso os nortes que guiavam a produção dos textos e falas. Uma suposta prosperidade maranhense é encontrada quando este é (re)inventado como Atenas Brasileira, terra de grandes poetas como Gonçalves Dias, e sua capital como fundada por franceses: o oposto daquelas manifestações). No segundo enfoque, visamos mostrar que os populares (brincantes, pais e mães de santo, na sua maioria negros e mestiços) maranhenses são atores sociais ativos no processo em discussão. A despeito dos preconceitos e das perseguições em relação às suas manifestações, eles resistirão de diversas formas às situações que lhes são opressivas. |
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METODOLOGIA:
A maioria dos estudos sobre cultura e religiosidade popular tem continuado, como no passado, a concentrar-se de maneira quase exclusiva nas perseguições, prestando uma atenção bem menor (quando não é inexistente) aos valores e aos comportamentos dos perseguidos (GINZBURG, 1998). Visamos, além de notar como se davam as perseguições, atentar para os valores e comportamentos dos perseguidos/resistentes. A noção de resistência proposta por esta pesquisa embasa-se nos trabalhos de Thompson (1979), Genovese (1988) e Sohiet (1998). Desse modo, entendendo que a festa constitui um palco onde a dialética dominação/resistência marca presença, procuraremos notar momentos em que os populares eram perseguidos e também como resistiam às incursões dessas perseguições e preconceitos. Utilizamos diversas fontes neste trabalho: produção iconográfica, discurso acadêmico, publicações de artigos em jornais, a produção literária e poética e discursos orais resultados de entrevistas com personagens que vivenciaram aquele momento (mães-de-santo e policiais). As fontes deste trabalho são entendidas como discursos que produzem realidade, os discursos devem ser lidos como monumentos da construção de uma dada região, não como documentos de uma verdade sobre ela (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 1994). Foi fundamental o exercício de uma análise interdisciplinar, trabalhando com bibliografia da história e da antropologia, além da filosofia e da sociologia. |
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RESULTADOS:
As perseguições consistiam num conjunto de campanhas policiais efetivadas no território maranhense em que autoridades policiais aliadas com agentes do campo intelectual e religioso e com a imprensa escrita desencantavam terreiros à procura de pais de santo e, em geral, levando utensílios e objetos encontrados naqueles ambientes, fazendo uso de uma violência de cunho simbólico e material. Contudo, em nenhum momento, tais festas foram totalmente silenciadas. Nem mesmo o centro da cidade de São Luís (lugar máximo de desejo da civilidade maranhense) conseguiu afastar totalmente aquelas manifestações que eram inscritas como seu lado oposto e antagônico: a barbárie. Os terreiros eram vistos como pagodes fetichistas e locais de crenças supersticiosas e as festas e rituais como herança perniciosa de negros e índios. Tais festas serviriam de válvula de escape para o povo do interior: um problema de regeneração social. Os pajés eram lidos como marreteiros, degenerados, pervertidos sexuais e profanadores. Os populares, contudo, elaboravam diversas estratégias de resistência: a brincadeira era feita no oculto, só nas palmas e nos maracás ou com tabocas e litros, para não fazer muita zoada; vivenciavam suas festas e rituais entendendo-os e os propagando como centros de sabedoria e divindade; estabeleciam intercâmbio com policiais e com políticos locais (vereadores, prefeitos, deputados e interventor federal), o que lhes possibilitava barganhar seus espaços. |
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CONCLUSÕES:
Em meados do século XX, em terras do Maranhão, manifestações de religiosidade e cultura popular como o Tambor de Mina e a pajelança eram lidas por membros do clero, da imprensa escrita e da intelectualidade como espaços que refletiam a decadência do Estado, herança perniciosa trazida por negros africanos mescladas com hábitos e rituais dos nativos locais. Uma herança que deveria ser apagada. O conjunto das perseguições que ocorreram no Estado nesse período deveriam dar fim às manifestações dos terreiros. Contudo, os populares resistiram das mais variadas formas, buscando, através da criatividade e de outras tipos de negociação, elaborar estratégias que permitiram que suas manifestações continuassem vivas. Diferentemente da visão das fontes escritas, que liam tais manifestações como espaço de ignorância das letras e da fé (católica), as fontes orais (mães e pais de santo) as vêem como espaço de sabedoria e divindade. |
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Instituição de fomento: Universidade Federal do Maranhão | ||
Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: História do Maranhão (1945-1955); Cultura popular; perseguição/resistência. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |