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C. Ciências Biológicas - 10. Microbiologia - 3. Microbiologia
PAPEL DE METABÓLITOS E PIGMENTOS NA PATOGÊNESE DE FUNGOS ZIGOMICETOS
Rubens Ferracini Junior 1 (frrcnjr@hotmail.com), João Paulo Lettieri da Silva 1, Lilian Zanin Calux 1 e Aristeu Gomes da Costa 1
(1. Laboratório II - Microbiologia - Departamento Farmácia - Centro Universitário Barão de Mauá (CBM))
INTRODUÇÃO:
Fungos via de regra são considerados agentes oportunistas, produzindo infecções e causando doença em situações nas quais o organismo hospedeiro apresenta alguma forma de debilitação, seja imunológica ou de outra natureza. Os zigomicetos são considerados elementos contaminantes, mas relacionados a infecções fulminantes que cursam com necrose tecidual grave. Tais características representam dificuldade para tratamento, obrigando a utilização de antifungicos de amplo espectro, altamente nefro e hepatotóxicas, como a anfotericina B. Além do caráter oportunista, pouco se conhece a respseito da patogênse dos zigomicetos. Em cultura, observa-se a produção de escasso pigmento e de matéria protéica detectável. Como alguns relatos em outras micoses observam envolvimento de metabólitos e antígenos somáticos como elementos que potenciam a resistência aos mecanismos imunológicos, viabilizou-se no presente trabalho, o estudo de eventual interferência deste tipo de metabólitos com atividade imunológica, aproveitando-se de metodologia já estabelecida em nosso labotório, para estudos semelhantes. Neste contexto, o presente trabalho verifica a influência de metabólitos diversos extraídos de zigomicetos sobre os tecidos hospedeiros, enfocando toxicidade intrínseca, e aspectos de imunomodulação, como migração e ativação de células imunológicas.
METODOLOGIA:
As cepas fungicas utilizadas no estudo foram obtidas da Micoteca do Laboratório II de Microbiologia do Centro Universitário Barão de Mauá. , e , foram cultivados em Sabouraud-Dextrose Agar, por 5 dias em temperatura entre 25 a 30ºC, para purificação, e em seguida transferidas para Caldo Batata-Dextrose (Difco), nas mesmas condições, para obtenção dos metabólitos. Ao final do período de incubação, as culturas foram inativadas, filtradas, concentradas por evaporação, e em seguida dializadas contra água destilada. Os dializados concentrados foram pesados e ressuspensos em solução salina tamponada (PBS), para os ensaios biológicos. Estes foram inoculados intraperionealmente e endovenosamente, em camundongos suíços, mantidos no biotério do Centro Universitário Barão de Mauá, sob dieta padrão para roedores (Labina) e água “ad libitum”, por 72 horas. Os animais foram então sacrificados e realizadas a lavagem intraperitoneal e a retirada de vísceras. O lavado peritoneal obtido foi centrifugado, as células ressuspensas em (PBS), foram contadas (migração celular) e testadas quanto a capacidade de produção de óxido nítrico (NO) e de peróxido de hidrogênio (H2O2). As vísceras obtidas foram avaliadas macroscopicamente e fracionadas para estudo histopatologico. Lotes de animais não tratados, ou tratados com lipopolissacáride bacteriano (Sigma), forma utilizados como controles negativo e positivo respectivamente.
RESULTADOS:
Nos testes de toxicidade, quando comparados aos controles não tratados, os extratos fungicos produzem um aumento no volume de fígado, rim e baço. A análise macroscópica ainda revelou pontos esbranquiçados, onde há formação de granulomas, e alguns pontos hemorrágicos. No estudo histopatológico, granulomas são comprovados, com muitos macrófagos, células epitelióides e fibroblastos. Lesões vasculares são observadas próximas aos granulomas. Quanto à ativação celular, os parâmetros avaliados indicam que os metabólitos utilizados no estudo são estimuladores da atividade celular, em particular os extratos obtidos de . Quando comparados aos controles, os resultados obtidos com extratos de são cerca de 50% maiores com relação a migração celular (principalmente de células mononucleares), 25 a 30% mais elevadas quanto a produção de peróxido de hidrogênio (H2O2) e 40% mais elevadas quanto a produção de óxido nítrico (NO). Extratos de , aumentaram 20% a migração celular, e 25% a produção de H2O2 e NO. Comparativamente, os níveis de ativação celular obtidos com extratos de , foram mais baixos, com valores para migração celular variando entre 15 a 20% acima dos valores obtidos nos ensaios controle; quanto a produção de H2O2 e NO, os valores médios foram 10 e 18% mais elevados que os controles, respectivamente. Os ensaios foram realizados em quintuplicata, e os resultados analizados pelo teste T-student.
CONCLUSÕES:
Embora sejam considerados um grupo fungico desprovido de fatores de virulência importantes, os zigomicetos desencadeiam quadros clínicos fulminantes, com invasão vascular e necrose tecidual intensas. No estudo ora apresentado, os resultados sugerem que os danos teciduais observados em casos de zigomicoses, podem ser causados tanto pelos próprios fungos quanto pela resposta orgânica do hospedeiro. Isolados de três espécies de zigomicetos, , e , foram utilizados para obter extratos metabólicos, que causaram intensa e rápida formação de granulomas e vasculites. E ao mesmo tempo células imunológicas foram ativadas, com produção intensa de mediadores da atividade microbicida. Esta combinação de resultados, pode gerar a impressão de resposta orgânica satisfatória, porém sabe-se que a intensidade da resposta inflamatória pode trazer tanto ou mais danos que a própria proliferação microbiana nos tecidos do hospedeiro. Assim, presume-se pelos resultados obtidos que a intensa migração de células imunológicas ativadas para o sítio infectado, produz um efeito potencializador da ação tóxica direta induzida pelos metabólitos fungicos sobre vários tipos teciduais. Os resultados obtidos estão sendo utilizados para a preparação de próxima etapa de estudos, quando pretende-se a comparação de efeitos patogênicos de extratos metabólitos de fungos zigomicetos com os de fungos demáceos, dimórficos e dermatófitos.
Instituição de fomento: Centro Universitário Barão de Mauá (CBM)
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  zigomicoses; zigomicetos; mucormicoses.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005