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D. Ciências da Saúde - 4. Odontologia - 1. Cirurgia Buco-Maxilo-Facial
DIFERENÇAS DO PERFIL CEFALOMÉTRICO, ENTRE AS RAÇAS BRANCA E NEGRA, UTILIZANDO ANÁLISE COMPUTADORIZADA DE RICKETTS
Daniela Nascimento Silva  1 (danitxf@hotmail.com), Marília Gerhardt de Oliveira  1, 2, Henrique Telles de Oliveira  1, Marcelo Ferraro Bezerra  1, Ana Cláudia Lustosa Pereira  1, Leonilson Gaião  1, Cláudia Marcela Hernandéz Cancino  1 e Gilséia Fernanda Petri Woitchunas  1
(1. Departamento de Cirurgia da Pontifícia Univ. Católica Rio Grande do Sul–PUCRS; 2. CNPq)
INTRODUÇÃO:
Os primeiros estudos cefalométricos voltados para grupos raciais buscavam estabelecer padrões para raça branca. A repercussão e a aceitação de tais análises foram abrangentes, incentivando estudos em todo o mundo no intuito de estabelecer as características cefalométricas em outros grupos étnicos ou raciais. Apesar do crescente número de pesquisas, normas cefalométricas para negros ainda não estão completamente estabelecidas quando se pretende avaliar casos potencialmente cirúrgicos e poucas são as informações científicas disponíveis sobre as características cefalométricas do negro brasileiro. Quando se avalia estética facial, com vistas ao tratamento ortodôntico ou ortocirúrgico, não é adequado transferir valores padronizados para uma determinada raça com o objetivo de diagnosticar e tratar deformidades faciais indiscriminadamente em outras raças. O Brasil é constituído por povos de diversas origens étnicas e raciais e não existe homogeneidade inclusive dentro de uma mesma população, devendo-se ajustar as normas cefalométricas e o plano de tratamento aos pacientes, levando em consideração a miscigenação. Este trabalho propõe-se realizar um estudo comparativo entre as raças branca e negra, a partir de telerradiografias em perfil, de sujeitos com harmonia facial, utilizando a análise computadorizada de Ricketts, obtida por intermédio do Programa Radiocef® 2.0, com o objetivo de identificar as medidas cefalométricas mais representativas das diferenças entre as raças estudadas.
METODOLOGIA:
As amostras utilizadas, neste estudo, estiveram compostas de 80 telerradiografias, em norma lateral, divididos em duas amostras de 40, de acordo com as raças, branca e negra, cada uma delas com 20 sujeitos de cada gênero, os quais apresentam, clinicamente, harmonia facial em vista frontal. As telerradiografias, pertencentes ao arquivo do Serviço de Radiologia da FO/PUCRS, foram tomadas por meio de um aparelho de Raios X da marca SIEMENS, modelo ORTHOCEPH, com regime elétrico variável de 55 a 85 kVp e 15 mA. Em seguida, as radiografias cefalométricas foram capturadas por meio de um escâner, equipado com leitor de transparência para digitalização das radiografias com 75 dpi de resolução e 256 tons de cinzas, para permitir a visualização na tela do monitor. Os pontos cefalométricos foram estabelecidos utiizando a Análise de Ricketts, no Programa Radiocef 2.0. Os valores obtidos foram submetidos à análise estatística, onde obtivemos a média e desvio padrão para cada uma das dimensões cefalométricas lineares e angulares, e realizamos a comparação inter-raças, para ambos os gêneros, sendo aplicado o teste “t” de Student, com nível de significância de 95%.
RESULTADOS:
A comparação entre as médias para cada uma das mensurações lineares, entre as raças branca e negra, para ambos os gêneros masculino e feminino revelam que diferenças estatisticamente significativas para a maioria das medidas lineares, excluindo-se as grandezas Trespasse Horizontal, Trespasse Vertical e Plano Oclusal/Plano Mandibular. Analisando as médias para cada uma das mensurações angulares e a comparação, inter-raças, dessas medidas, para os sujeitos dos gêneros masculino e feminino., observa-se que as diferenças são estatisticamente significativas apenas para as grandezas Ângulo Interincisal, Altura da Dentição, Inclinação do Incisivo Inferior, Inclinação do Incisivo Superior, Cone Facial, Profundidade da Maxila e Deflexão Craniana. Devido às características de inclinação excessiva apresentada pelos dentes incisivos na amostra negra, o ângulo interincisal aparece mais agudo podendo ser observada diferença estatisticamente significativa na comparação dos valores médios entre as raças branca e negra, em ambos os gêneros, colaborando para o perfil biprotruso característico desta raça. A protrusão bimaxilar, observada neste estudo, constitui-se em uma característica marcante nos sujeitos da raça negra.
CONCLUSÕES:
Este estudo permite concluir que existem diferenças significativas entre algumas dimensões cefalométricas na comparação entre as raças branca e negra. As medidas lineares que expressam essas diferenças são: Posição do Molar Superior, Convexidade do Ponto A, Protrusão do Incisivo Inferior, Protrusão do Incisivo Superior, Localização do Pório e Comprimento do Corpo, que apresenta valores mais elevados na raça negra quando comparada à raça branca, em ambos os gêneros masculino e feminino; e as medidas angulares que expressam tais diferenças são: Altura da Dentição, Inclinação do Incisivo Superior, Inclinação do Incisivo Inferior e Profundidade da Maxila; que encontram-se maiores na raça negra e Cone Facial, Ângulo Interincisal e Deflexão Craniana que possuem valores mais elevados na raça branca, quando da comparação inter-raças. As dimensões cefalométricas que expressam a inclinação e a protrusão dos dentes incisivos, o posicionamento da maxila, o comprimento da mandíbula, a posição do molar superior e a localização do Pório são as mais representativas das diferenças entre as raças estudadas. A partir das diferenças aferidas entre as dimensões cefalométricas estudadas nas raças branca e negra, pode-se concluir, ainda, que os padrões cefalométricos devem ser específicos para cada raça ou grupo étnico e não devem ser aplicados, sem alterações, em outros grupos populacionais, quando do exame, planejamento e terapêutica de pacientes ortodônticos ou ortocirúrgicos.
Instituição de fomento: CNPq
Palavras-chave:  Cefalometria computadorizada; Etnia; Análise de Ricketts.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005