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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 2. Currículo
VIOLÊNCIA SIMBÓLICA E RELAÇÕES DE CONFLITOS NO CURRÍCULO: ANÁLISE SOCIOLÓGICA DAS PRÁTICAS CURRICULARES NO COTIDIANO DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE ENSINO FUNDAMENTAL.
José Alex Soares Santos 1 (jalexsantos@yahoo.com.br)
(1. Universidade Federal do Ceará/Centro de Educação - UFC)
INTRODUÇÃO:
A presente pesquisa se sustenta na análise que compreende os desenhos curriculares prescritos, por vezes, distantes das questões que constituem os problemas cotidianos do espaço escolar. Nessa perspectiva, supõe-se que o currículo oficial nem sempre atinge de forma efetiva o cotidiano da escola. Por essa razão as abordagens mais centradas no cotidiano escolar têm se apresentado como promissoras e vêm ganhando mais adeptos no circuito das pesquisas sobre a escola brasileira. Nesse sentido, o interesse pela dialética produzida pelas práticas escolares cotidianas que constituem parte do campo curricular se justifica porque tal campo representa os conflitos socioculturais entre os agentes ou conjunto de agentes situados em posições diferenciadas no interior do espaço escolar, sobressaindo desses conflitos relações de dominação e poder. Diante dessa problemática buscou-se analisar em que aspectos das práticas curriculares cotidianas estão manifestas situações de violência simbólica e/ou conflitos entre os agentes sociais atuantes num espaço escolar específico e historicamente datado. Como desdobramento dessa análise surgiu a necessidade de compreender essas práticas a partir das relações travadas, no âmbito do espaço escolar, entre alunos, professores e gestores, com o intuito de desvelar o reconhecimento relativo da dominação simbólica como também os embates que ela sugere a partir da posição que cada um desses grupos de agentes ocupa dentro de tal espaço.
METODOLOGIA:
Na tentativa de empreender uma perscrutação com grau de coerência teórico-metodológica defensável realizou-se um estudo das noções bourdieunianas de “espaço e campo sociais”, “poder simbólico”, “violência simbólica”, “capital cultural”, “habitus” articuladas entre si e à apreciação do sistema de ensino. Para dar consistência a essa abordagem foi realizado um estudo de caso com observações diretas e aprofundadas, que se incidiram sobre três práticas específicas que ocorriam no “ambiente natural” de pesquisa: o “momento de ‘auto-estima’”, o “planejamento curricular semanal” e a “dinâmica de sala de aula da turma da 8ª série”. Outra estratégia adotada para a coleta de dados está representada pelas entrevistas abertas, que contemplaram: quatro professores, dois gestores e sete alunos. Para o registro das entrevistas se fez uso do gravador, com o consentimento dos entrevistados. O “ambiente natural” de pesquisa foi uma escola pública de ensino fundamental, funcionando em regime de “tempo integral”. Situada num município cearense essa escola é reconhecida, no Estado do Ceará, como pioneira na implantação da proposta de ampliação das funções e responsabilidades escolares. Um dos motivos para a escolha desse espaço escolar corresponde aos princípios fundamentais de sua proposta original, ou seja, “a formação integral dos cidadãos críticos e participativos na comunidade”, visando a edificação e efetivação de uma “escola de qualidade”.
RESULTADOS:
Como resultado desse estudo, num primeiro plano, tem-se a reflexão crítica que apresenta Bourdieu como teórico do “pensar relacional”, contraponto à idéia cristalizada no meio educacional brasileiro que o rotulou de “crítico-reprodutivista”. Evidencia-se, também, que a existência dos conflitos em espaços sociais específicos não significa a superação automática da violência simbólica ou da dominação simbólica por esta produzida e velada. Em alguns casos, esses conflitos existentes, acabam contribuindo para o reforço desta dominação.
CONCLUSÕES:
Por fim constatou-se que uma proposta de escola de tempo integral e de práticas pedagógicas, anunciadas como “inovadoras”, para se tornarem reais precisam de um envolvimento profundo dos agentes sociais a quem estão sendo dirigidas, no caso da escola, alunos(as), professores(as), gestores e os demais segmentos que estão direta ou indiretamente envolvidos com a prática educativa. Por fim, verifica-se que as práticas curriculares cotidianas mediadas pelas relações socioculturais dos agentes que delas participam são construídas a partir do habitus, o qual disponibiliza um conjunto de estratégias em cada um desses agentes que são mobilizadas para produção e apropriação de ações práticas nos diversos espaços sociais. Essas ações em função da posição dos agentes ou grupo de agentes tenciona e faz desses espaços, campos de lutas e disputas pelo monopólio legítimo do poder.
Instituição de fomento: Conselho Nacional de Pesquisa
Palavras-chave:  Violência Simbólica; Relações de Conflitos; Práticas Curriculares Cotidianas.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005