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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação | ||
O JOVEM E O ESPAÇO DA CIDADE: APROPRIAÇÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS POR JOVENS DA PERIFERIA DE BELO HORIZONTE | ||
Lilianne Sousa Magalhães 1 (lilimagal@yahoo.com.br) | ||
(1. Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo - USP; 2. Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG) | ||
INTRODUÇÃO:
Esta pesquisa situa-se no campo de estudos sobre educação, cultura e juventude e visa investigar de que forma jovens de periferia se apropriam do espaço público da cidade e quais os significados que dão a essa apropriação. Através do meu contato com jovens da periferia pude observar as relações da juventude com a cidade e notar que as distâncias, o custo do acesso, os entraves do transporte, dentre outros fatores, dificultam a mobilidade dos jovens. Dessa forma, muitas questões vieram a tona: A cidade é um espaço educativo? Como o jovem de periferia se apropria e resignifica o espaço da cidade? Assim, através deste estudo busquei entender como os jovens da periferia integrantes de grupos culturais, se apropriam da cidade, (concreta e simbolicamente), bem como os significados que lhe atribuem. Algumas razões justificam a escolha deste tema, apontando sua relevância. É essencial que se considere que ainda não se tem encontrado espaços de estudos e formulações de políticas que tenham como foco a juventude. Um outro ponto a ser considerado é que, na produção sobre juventude no Brasil, nota-se a ênfase no jovem em sua condição de estudante, ao contrário, pretendo pensar o jovem enquanto integrante de um sistema social que participa de redes relacionais que se efetivam nos diferentes espaços da cidade. Este trabalho pretende contribuir com as discussões que corroboram a criação de políticas públicas que visam superar as desigualdades de apropriação dos espaços da cidade. |
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METODOLOGIA:
Acredito que uma metodologia qualitativa é a que melhor se adequa à pesquisa. Utilizando uma abordagem etnográfica, ou seja, através da participação na vida cotidiana do grupo escolhido, tentei observar como estes jovens percebem o espaço urbano e o utilizam. Assim, para responder aos objetivos propostos fiz uso da observação participante, ou seja, a observação direta, por um período de tempo, das formas costumeiras de viver e agir de um determinado grupo de pessoas associadas de alguma maneira. Só assim pude observar as situações com que o grupo escolhido se depara normalmente e como os jovens se comportam diante delas. Dentro desta abordagem, utilizei como instrumento de pesquisa a entrevista semi-estruturada individual, onde através da fala oral tentei observar quais os espaços apropriados pelos jovens em suas práticas, dentro e fora do grupo cultural no qual estão inseridos. Para tanto, acompanhei o cotidiano do grupo cultural Associação de Capoeira Aruanda. Este grupo, formado em 1992, desenvolve seu trabalho em alguns espaços públicos do bairro com crianças e jovens da Zona Leste de Belo Horizonte. Tentei observar se (e como) a prática social destes atores interfere na sua forma de circulação pela cidade, na forma de usufruir dos equipamentos públicos e perceber se estes jovens, de alguma forma, criam usos ou significados alternativos para os espaços públicos que utilizam. |
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RESULTADOS:
Os jovens através da inserção no Grupo Cultural Aruanda se apropriam de espaços que, a rigor, não lhe pertencem, recriando neles novos sentidos e formas próprias de sociabilidade. No entanto, não podemos dizer que as barreiras territoriais foram quebradas pelo grupo mas vêm aos poucos sendo atenuadas. A falta de equipamentos públicos nos mostra a importância de se observar a sociabilidade que é gestada nas ruas dos bairros da cidade. Ao mesmo tempo em que a rua pode aparecer como espaço de formação dos grupos de amizade ela também pode ser o lugar em que a violência irá tecer essa sociabilidade. Viver na periferia de Belo Horizonte para estes jovens implica compartilhar os problemas relacionados à ausência de equipamentos básicos de infra-estrutura e de serviços públicos, dentre eles o transporte, um dos motivos que os jovens levantam como um elemento dificultador da circulação pela cidade. Além de não poderem contar com muitas opções de lazer, os entraves do transporte reforçam a existência de uma cidade segmentada. Os jovens da periferia além de se verem privados do emprego, acompanhados da limitação de meios para a participação efetiva no mercado de consumo também encontram limitações nas formas de lazer existindo inclusive, uma barreira simbólica. No entanto, apesar de todas as dificuldades pude perceber a importância dos grupos culturais juvenis como canal de sociabilidade, de expressão cultural e recomposição de vínculos sociais na cidade. |
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CONCLUSÕES:
Na cidade, a experiência da vivência pública é que orienta o valor educativo das relações, pois as cidades não são educativas por si só. O potencial educativo de uma cidade corresponde ao que ela oferece e à organização das estruturas sociais e culturais urbanas. Podemos dizer que é essa experiência da vida pública que vai determinar a quantidade e a qualidade dos relacionamentos que os sujeitos estabelecem. Neste sentido, a rua pode ser representativa do encontro entre os sujeitos, se tornando a expressão local de cultura e sociabilidade pública. É possível perceber que os jovens do grupo vêm de alguma forma reivindicando a cidade, reivindicando o direito à cidade e a ocupação dos seus espaços. Através das suas práticas educativo-artístico-culturais este jovens instauram procedimentos de resistência e criatividade pois, ainda que tenham alguns espaços negados eles criam seu cotidiano reinventando, ainda que temporariamente, o sentido dos espaços da cidade. Em suas redes de amizades, nos conflitos com outros grupos, na utilização de espaços públicos e privados entram em jogo práticas educativas formadoras. A pesquisa evidenciou que através do grupo as práticas sociais tendem a se expandir por outros territórios ocorrendo uma ampliação da rede de relações e, ainda que a circulação pela cidade se dê de forma restrita estes jovens tendem a transformar os espaços físicos da cidade em espaços sociais fazendo do espaço público o palco para expressão de sua cultura. |
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Palavras-chave: juventude; cidade educadora; grupos juvenis. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |