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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia
FLORESTAN FERNANDES E GUERREIRO RAMOS: A SOCIOLOGIA NA FORMULAÇÃO DE UM PROJETO NACIONAL PARA O BRASIL NOS ANOS 50 E 60
Tatiana Gomes Martins 1 (tati_gomes@yahoo.com.br)
(1. Depto. de Sociologia, IFCH - Unicamp)
INTRODUÇÃO:
Os anos 50 e o início dos anos 60 são momentos bastante característicos da sociedade brasileira. Nesses momentos, pode-se verificar várias transformações de ordem política, econômica, social e cultural. Tais alterações se apresentam como desafios a intelectuais que passam a se posicionar frente à nova configuração social. É esse o caso de Florestan Fernandes e Guerreiro Ramos, dois sociólogos que não apenas buscaram compreender a sociedade brasileira como também formular propostas para o futuro do país. Sendo assim, este trabalho procurou identificar e analisar as temáticas do desenvolvimento nacional, do papel da sociologia e do projeto de desenvolvimento nacional, presentes nos trabalhos realizados pelos autores nos anos 50 e início dos anos 60, enquanto expressão de uma tentativa de diagnóstico da realidade nacional e, sobretudo, enquanto fundamentação de um projeto nacional. Trata-se de duas contribuições características do debate político acerca do projeto de desenvolvimento nacional que envolve a intelectualidade e os quadros políticos brasileiros nos dois momentos abordados.
METODOLOGIA:
O levantamento de dados se pautou na leitura dos livros e artigos escritos pelos autores sobre os temas selecionados para a análise e durante o período delimitado. A interpretação desses textos permitiu, além da identificação das questões do desenvolvimento nacional, do papel da sociologia e do projeto de desenvolvimento nacional, a reconstrução da argumentação dos autores e o estabelecimento das rupturas e continuidades a respeitos desses temas. Além disso, a leitura de trabalhos interpretativos sobre o contexto histórico-social abordado também foi fonte para compreensão de seu grau de influência sobre Florestan Fernandes e Guerreiro Ramos.
RESULTADOS:
Partindo do pressuposto da correlação entre as problemáticas do desenvolvimento nacional, do papel da sociologia e do projeto de desenvolvimento nacional, o trabalho reconstruiu a lógica argumentativa interna sobre os temas e, portanto, a fundamentação do projeto nacional defendido pelos autores de forma específica. Desse modo, a pesquisa mostrou que em Florestan Fernandes o critério de avaliação do desenvolvimento é pautado na dimensão cultural, na difusão de formas de comportamento que o autor considera como racionais. Com isso, é fundamentada uma concepção de papel da sociologia, que comporta sua incorporação na organização da sociedade como uma forma de “racionalização” da vida social, e também uma noção de projeto nacional de desenvolvimento que pressupõe a alteração da estrutura social a partir de uma mudança cultural. Para Guerreiro Ramos, a análise da “fase de desenvolvimento” deveria se basear nos fatores industrialização, urbanização e as alterações do consumo popular, sendo o primeiro o catalisador dos demais. A partir daí, define também como papel da sociologia a organização da sociedade enfatizando sua contribuição para o desenvolvimento econômico nacional, que engendraria a alteração estrutural da sociedade, e para a configuração da nação brasileira. Em ambos os autores, pôde-se verificar a influência do contexto histórico-social nos trabalhos do início dos anos 60.
CONCLUSÕES:
A partir desses resultados, constatou-se uma distinção da noção de desenvolvimento e de seus critérios de definição nos autores que marca suas concepções de papel da sociologia e de projeto nacional, constituindo um debate político. Desse modo, pôde-se perceber que a visão de desenvolvimento cultural de Florestan Fernandes visava um avanço cultural e político sequer alcançado pelos países desenvolvidos que consistiria na organização “racional” e “democrática” da sociedade. Assim sendo, propõe medidas a essa realização, sobretudo na esfera da Educação, o que atribui à sociologia importante função nessa esfera. Já Guerreiro Ramos, ao defender um projeto de desenvolvimento econômico, aposta no capitalismo nacional como “processo civilizatório” capaz de fundar a nação brasileira. Nesse sentido, a sociologia teria de ter em vista as condições materiais do país e o seu desenvolvimento industrial. Essa distinção também se revelou nas formulações dos autores acerca dos fundamentos da Sociologia Brasileira. Finalmente, a pesquisa verificou que no final dos anos 50 e início dos anos 60 houve uma reorientação dos projetos nacionais defendidos pelos autores a partir da absorção de fenômenos, categorias e interpretações emergentes da nova realidade social, posicionando-os também politicamente sobre questões como as manifestações populares, a crise econômica, a revisão do nacionalismo e o processo de internacionalização da economia brasileira.
Instituição de fomento: FAPESP-Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
Palavras-chave:  Florestan Fernandes; Guerreiro Ramos; Desenvolvimento Nacional.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005