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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia | ||
MORADOR DE RUA: A VIDA POR UM FIO | ||
Itala Nunes Cipriano 1 (italanunes@hotmail.com) | ||
(1. Departamento de Métodos e Técnicas em Serviço Social, Universidade Estadual do Ceará - UECE) | ||
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho tem por objetivo uma aproximação com vida dos moradores de rua, freqüentadores do Refeitório São Vicente de Paulo. Tem o intuito de analisar a maneira como esses conduzem as suas vidas, diante da luta pela sobrevivência, o que têm de enfrentar e em que se apóiam. Levando-se em consideração a teia de relações sociais em que estão envoltos busca-se compreender o cotidiano dessas pessoas, bem como seus sonhos, medos e expectativas na luta pela sobrevivência. Dentro de essa perspectiva, busca-se verificar qual o impacto da assistência recebida na vida dos moradores de rua e o que os condiciona a procurar a instituição de forma sistemática e contínua. Inicialmente, são apresentados os conceitos basilares que permeiam a análise proposta. E, posteriormente, é realizada uma reflexão desses conceitos para subsidiar a análise das falas dos moradores de rua freqüentadores do referido Refeitório, sendo revelados pelos moradores a fragilidade em que vivem, principalmente em relação à violência. Diante do crescimento da população estudada e da falta de políticas públicas direcionadas a ela, o presente trabalho tem uma relevância social no sentido de chamar atenção para a problemática dos moradores de rua, podendo fornecer elementos norteadores de uma ação social com esse público. |
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METODOLOGIA:
A pesquisa baseou-se no método dialético e teve como categorias basilares: neoliberalismo, pobreza, questão social, política social, cidadania, assistência x assistencialismo e voluntariado. A pesquisa foi realizada através de um estudo quantitativo e qualitativo, com a tabulação de cem fichas com dados pessoais dos moradores de rua, desse universo foram escolhidas, aleatoriamente, dez pessoas para a realização de uma entrevista semi-estruturada. Esta foi gravada e após a transcrição dos diálogos foram destacados e cruzados trechos relevantes e de conteúdos similares para análise posterior. Os conteúdos obtidos foram divididos e comentados por temas. O Refeitório São Vicente de Paulo foi um referencial para a observação do grupo estudado, lá foram observadas a dinâmica institucional, a relação do grupo com a instituição e seus componentes e como eles se relacionam entre si. Dessa forma a pesquisa se deu em etapas, em que algumas tarefas se deram concomitantemente. Quais sejam: revisão bibliográfica; entrada em campo propriamente dita, na qual foi realizada a observação do funcionamento e dinâmica do refeitório, das relações interpessoais e em seguida a observação com enfoque nas falas e comportamentos dos moradores de rua, usuários do Refeitório em questão. Em seguida, houve a análise dos dados obtidos nas observações e entrevistas. |
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RESULTADOS:
Dentre os dados obtidos pode-se destacar notória predominância do sexo masculino, 85% do universo estudado, bem como de pessoas naturais de Fortaleza, 55%. Dentre os motivos das pessoas entrevistadas estarem em situação de rua destacam-se laços sociais cortados por morte dos genitores ou fragilizados pelo uso de drogas lícitas ou ilícitas. Apenas um era estrangeiro e dentre os brasileiros 72% eram nordestinos. A maioria declarou ser solteiro. Com relação ao grau de escolaridade 65% das pessoas que tem o mínimo de conhecimento ou nenhum no que se refere ao ensino escolar. Apenas 11% trabalhou com carteira assinada. Com relação a faixa da população economicamente ativa, a faixa que vai dos 21 aos 40 anos, temos 61% dos usuários, pessoas em plena idade de trabalhar que estão em situação difícil sem ter nenhum tipo de renda ou exercendo uma ocupação precária. As principais atividades desenvolvidas por essas pessoas são limpar carros nos sinais, pastorar carros em estacionamentos públicos e coletar lixo para reciclagem. Suas declarações mostram muito do quão frágil é a cidadania dessas pessoas visto que não têm aparato estatal, são desprovidas do mínimo para sobreviver, sofrem preconceito, têm acesso restrito a bens e serviços, estão expostas a diferentes tipos de violência tendo comprometido sua saúde física e mental. O medo de morrer foi presente em várias falas, principalmente à noite, seja pela violência policial, por pessoas da sociedade que os espanquem ou queimem ou mesmo por outros moradores de rua. |
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CONCLUSÕES:
Foi constatada a fragilidade da vida dessas pessoas expostas à violência, a convivência com o álcool e as drogas ilícitas, à disputa por objetos e por espaços, à negligência por parte do governo e ao preconceito por parte da sociedade. Pessoas que vivem em seu cotidiano a busca por alimentação, sendo essa a principal atividade de seu dia-a-dia. O Refeitório São Vicente de Paulo constitui-se de um ponto de apoio não só no sentido da alimentação, mas de uma referência de ‘casa’, de segurança, de acesso ao banho, a uma palavra amiga, a assistência médica. Por outro lado, suas falas denunciam a precariedade das outras instituições que freqüentam, do quanto deixam a desejar. Nas falas dos moradores de rua sobressaiu a questão da violência e a banalização da vida humana e denunciou o descaso a qual essa população excluída está submetida. Violência essa que não se restringe à violência física, mas encontra-se no âmbito dos aspectos sócio, econômico, psíquico e cultural, pois a maioria desses indivíduos não tem acesso a uma qualidade de vida que esteja pautada em padrões que dignificam um ser humano. Possuem pouco aparato estatal e as instituições que freqüentam são entidades religiosas que desenvolvem seus trabalhos em conjunto com a sociedade civil, havendo a necessidade de políticas públicas que atuem na problemática em questão. O presente trabalho de conclusão do curso de Serviço Social está disponível no acervo bibliográfico da Universidade Estadual do Ceará para os pesquisadores interessados pela temática. |
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Palavras-chave: MORADOR DE RUA; CIDADANIA; POLÍTICAS PÚBLICAS. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |