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G. Ciências Humanas - 6. Ciência Política - 4. Políticas Públicas | ||
OS HERDEIROS DA MISÉRIA: O COTIDIANO DE MENDICÂNCIA NO CENTRO DE FORTALEZA. | ||
Valney Rocha Maciel 1 (valneyrocha@uol.com.br) e Maria Barbosa Dias 1 | ||
(1. Mestr. em Políticas Públicas, Universidade Estadual do Ceará - UECE.) | ||
INTRODUÇÃO:
No Brasil, os estudos sobre população de rua têm sido ampliados desde 1990. Tais pesquisas apresentam diferenças sobre a mesma e indicam a diversidade dos que vivem nas e das ruas. São mendigos, catadores de lixo, flanelinhas, etc. Eles retratam o aumento da pobreza, resultante do desmoronamento do Estado e das mudanças no mundo do trabalho. Assim, a pesquisa em questão teve como objetivo geral conhecer o cotidiano de mendicância, analisando as condições subjetivas e objetivas dos sujeitos envolvidos, dando relevância à necessidade de implementação de políticas públicas para os segmentos menos favorecidos da sociedade. Os objetivos específicos foram: refletir sobre os motivos que levam à mendicidade: investigar o posicionamento do pedinte com relação à Assistência Social e às ações de cunho filantrópico; perceber a relação dos pedintes com a cidade; descobrir os motivos que os levaram a optar pelo Centro como espaço de mendicância e conhecer como se apresenta o cotidiano dos pedintes do Centro de Fortaleza. Na dissertação, os conceitos trabalhados foram: mendicância, cidade e cotidiano, à luz de autores contemporâneos. |
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METODOLOGIA:
A história oral foi a metodologia utilizada na pesquisa, visto que a mesma alia o discurso dos sujeitos à memória, e é uma alternativa à História oficial. A pesquisa, de caráter qualitativo, teve os seguintes procedimentos: uma vasta pesquisa bibliográfica foi necessária para que houvesse fundamentação histórica, teórica e metodológica durante todo o percurso da construção da dissertação; desde o mês de março de 2003 deu-se início a pesquisa de campo, através da observação simples da mendicância nas Praças José de Alencar, Capistrano de Abreu, Castro Carreira e Praça do Ferreira, localizadas no Centro da cidade de Fortaleza. De cada praça, foram escolhidos um homem e uma mulher que mendigavam, totalizando em 8 pedintes os sujeitos da pesquisa. Foi utilizado um roteiro de entrevista semi-estruturada e a aplicação das mesmas foi realizada com o recurso da gravação, sendo concluídas em agosto de 2004. Todas as entrevistas foram transcritas com fidelidade ao discurso dos sujeitos e alguns encontros foram fotografados com a permissão dos mesmos, que concordaram em assinar um Termo de Cessão Gratuita de Depoimento Oral elaborado pela pesquisadora. |
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RESULTADOS:
Os resultados da pesquisa revelaram que o êxodo rural, resultante da inexistência de políticas públicas de fixação do homem no campo, continua trazendo para as grandes cidades brasileiras uma leva de retirantes que vão em busca de emprego e melhores condições de vida. No entanto, vêem na mendicância uma forma de sobrevivência. Também revelou que os pedintes procuram o Centro no intuito de adquirirem dinheiro. Segundo eles, mendigar de casa em casa lhes permitem adquirir alimentos, roupas, calçados, etc. No Centro, a oferta em dinheiro é muito mais freqüente. Em média, recebem R$ 8,00 por dia. Dinheiro este que alimenta, quase sempre, uma família. A pesquisa constatou que os pedintes vivem em moradias de péssima qualidade, localizadas nos bairros periféricos da cidade de Fortaleza; poucos são os que podem ser considerados moradores de rua. Entretanto, é nas ruas que eles ficam a maior parte do dia. E são muitos: jovens, velhos, crianças e mulheres com bebês esquálidos. Além disso, a baixa escolaridade e a falta de qualificação profissional, associadas às doenças adquiridas pelo estado de pobreza absoluta, contribuem para afastá-los do mercado de trabalho formal ou informal. |
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CONCLUSÕES:
As conclusões da pesquisa com os mendigos das praças do Centro de Fortaleza reafirmaram o processo de exclusão social no qual estão inseridos. Os retirantes, os pobres e os doentes precisam mendigar para sobreviver. As condições subjetivas, como o abandono familiar, e objetivas, como o desemprego, os levam para as praças centrais em busca de esmolas. No que se refere à Assistência Social e ações filantrópicas, eles pouco sabem dos programas desenvolvidos pelo poder público ou outras instituições e, portanto, não têm acesso. Sobre a relação com a cidade de Fortaleza, apresentam-na, ainda, como um espaço de riquezas e oportunidades, mas é sobre as cidades de origem que gostam de falar e das relações de compadrio vivenciadas. No que diz respeito à escolha pelo Centro, é unânime o reconhecimento daquele espaço como aglutinador de consumidores que, em tese, podem contribuir com dinheiro, além da facilidade de acesso por meio de transportes coletivos. Sobre o cotidiano de mendicância, é um tempo de desassossego, humilhações e sofrimento. O cotidiano é marcado por um ritual que gira em torno do pedir e é permeado de histórias sobre o perigo das ruas e a violência urbana. É o tempo de sobreviver com as mãos estendidas, esperando por doações. Diante da questão social apresentada, a pesquisa busca fomentar discussões junto à sociedade civil organizada e ao poder público para a elaboração e implementação de políticas públicas de combate à pobreza. |
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Palavras-chave: mendicância; cotidiano; cidade. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |