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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 4. Sociolingüística
REFLEXÕES SOBRE AS MARCAS DE PLURAL EM FATOS DE NÃO-CONCORDÂNCIA NOMINAL ENTRE OS ELEMENTOS FLEXIONÁVEIS DO SINTAGMA NOMINAL
Márcia Regina Teixeira da Encarnação 1 (profamarciaregina@ig.com.br) e Adriana Cristina Cristianini 1
(1. Depto.de Semiótica e Lingüística geral, Universidade de São Paulo - USP)
INTRODUÇÃO:
Os discursos que são proferidos, além de simples comunicação de sentido, também são signos de riqueza, signos de autoridade e é inegável que a estrutura social esteja sempre presente. O conjunto de produções científicas desenvolvidas na década de 80 identificava crescentes preocupações dos lingüistas brasileiros com suas responsabilidades sociais e essa tendência é comprovada pelo número de obras publicadas nesse período que vieram contribuir para o desenvolvimento de projetos coletivos de pesquisa. Uma vez que a Sociolingüística foi reconhecida, não só como uma forma de investigação, mas principalmente, como uma corrente de estudos capaz de explicar aspectos mal formulados anteriormente e de trazer novos princípios teóricos e novas possibilidades metodológicas, a disciplina foi consolidando-se. Atualmente há um número elevado de pesquisadores que lhe dedicam especial atenção. Este trabalho tem como objetivo propor estudos que propiciem uma correlação entre uma variável social específica e um fenômeno de uso na fala. Este estudo insere-se, de forma geral, em uma perspectiva teórica baseada na Teoria da Variação Lingüística Laboviana ou Sociolingüística Quantitativa. Os estudos sociolingüísticos consistem em pesquisar um tipo de correlação entre variantes lingüísticas e categorias sociais efetuando as pesquisas de campo e desenvolvendo possíveis triagens, cruzando-as e interpretando os cruzamentos mais significativos.
METODOLOGIA:
Para tanto, as atividades foram planejadas e divididas em: sondagem e aproximação para coleta de dados; entrevistas; transcrição das entrevistas, seguida de proposta de estudo variacionista de um fato gramatical na língua falada que apareceu de maneira constante nas entrevistas. A metodologia utilizada na constituição do corpus é a utilizada pelos trabalhos de Sociolingüística que se baseiam na perspectiva variacionista. Utilizando a técnica de amostra aleatória foram selecionados 3 (três) informantes, com base nos seguintes requisitos: jovens, com idade entre 15 e 20 anos, moradores de favela na grande São Paulo, com baixa escolaridade (no máximo até 8.ª série do Ensino Fundamental) e filhos de migrantes nordestinos também com baixa escolaridade. A coleta de dados deu-se em dezembro de 2003, em local que pudesse favorecer a informalidade necessária para a entrevista e, após a aplicação de uma ficha social, usamos a entrevista como instrumento. Os dados resultantes foram gravados utilizando-se de um mini gravador Panasonic, modelo RQ-L11, e duas fitas cassetes de 90 minutos, sendo uma da marca TDK e outra Sony. Procurou-se criar uma situação a mais próxima possível da coloquial, evitando-se a divulgação do verdadeiro objetivo do trabalho, estudo da fala, que certamente comprometeria o estilo de informalidade que se queria adotar. Os diálogos foram transcritos com base em uma adaptação do sistema utilizado pelo Projeto de Estudo da Norma Lingüística da Norma Culta de São Paulo da (Projeto NURC/SP – Núcleo USP).
RESULTADOS:
Ao considerar cientificamente a amostra de fala desse corpus, procuramos descobrir padrões de uso, ou regularidades, que dissessem respeito à freqüência relativa de ocorrências de estruturas, do que simplesmente à existência ou gramaticalidade dessas estruturas. Constatou-se a possibilidade de desenvolver o estudo das manifestações concretas de concordância de número em elementos flexionáveis de sintagmas nominais, sejam eles estabelecidos sintaticamente em sujeitos, predicativos, objetos ou complementos; estabelecer a maneira com a qual se indica o plural nos elementos flexionáveis dos sintagmas nominais; verificar a freqüência com que o fenômeno lingüístico ocorre e se ele se trata de uma variação sistemática; refletir se o uso da concordância nominal segundo a gramática normativa por indivíduos da comunidade cuja sondagem fora realizada, provocaria uma atitude estigmatizadora por parte do grupo e ainda, propor outros estudos que possibilitem um olhar mais amplo da presença do fato em outros contextos lingüísticos e sociais relevantes.
CONCLUSÕES:
Várias são, portanto, as possibilidades de estudos a serem desenvolvidos com um olhar sociolingüístico variacionista que nos demonstre que temos de um lado um conjunto de variedades lingüísticas e de outro, um conjunto de análises sociais. Os dois fatores estão intrinsecamente ligados e necessitam de um trabalho denso de coleta de dados, transcrição e análises árduos, para que a reflexão sobre o assunto torne-se cada vez mais freqüente e relevante.
Palavras-chave:  Sociolingüística quantitativa; variantes lingüísticas; categorias sociais.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005