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H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 3. Literaturas Clássicas
AS BATALHAS MEDIEVAIS EM Eurico, O Presbítero DE ALEXANDRE HERCULANO EM ANALOGIA COM O JOGO DE XADREZ.
Jairo Nogueira Luna 1, 2 (jayrus@uol.com.br)
(1. Prof. Dr. de Literatura Brasileira-Letras-Universidade Cruzeiro do Sul - UNICSUL; 2. Prof. Dr. de Literatura Portuguesa-Letras-Faculdade São Bernardo - FASB)
INTRODUÇÃO:
O romance de Alexandre Herculano pode ser considerado como um dos que mais apresentam cenas de batalhas medievais da literatura portuguesa. Eurico, o Presbítero recupera a tradição de novelas de cavalaria e épicos renascentistas, em que o autor vai destacando combates e lutas entre os personagens principais num cenário beligerante. Pelo menos duas grandes cenas de batalha dominam o romance. A primeira é a batalha às margens do Rio Críssus, em que o rei dos Visigodos, Roderico morre e a segunda, a de Auseba, quando Pelágio sustenta a resistência nas Astúrias. Algumas indicações do próprio autor apresentam a formação das partes beligerantes e o desenvolvimento da estratégia militar e chegam a nos impressionar os conhecimentos bélicos de Herculano. Baseando-nos nas descrições das cenas de batalha podemos perceber uma analogia com o Jogo de Xadrez - que, por sua vez, é a representação de uma batalha medieval. Acreditamos que estamos dando novo enfoque ao estudo da obra de Herculano, mostrando novas possibilidades estruturais e lúdicas para a interpretação do romance em questão
METODOLOGIA:
Nos valemos, para efeito de analogia com o Jogo de Xadrez, dos estudos de Luiz Jean Lauand, O Xadrez na Idade Média e do manual de regras do jogo e estratégias de I. A. Horovitz Primeiro Livro de Xadrez. Fazendo um levantamento dos personagens que participam das batalhas no romance, pudemos colocá-los em consonância com a quantidade e a disposição das peças do jogo. Tendo ainda para reforço de nossa analogia algumas expressões colhidas no texto de Herculano, como “peões” e “dama branca”, conseguimos encontrar todos os elementos necessários para a transformação das ações nas cenas descritas em lances de jogo de xadrez.
RESULTADOS:
1) Batalha de Crissus: Os dois exércitos bradavam à fé que defendiam: “Alá hu acbar!” gritavam os árabes e “Cristo e avante!”, os visigodos. Nessa primeira batalha a rainha no jogo é assumida pela religião, e por isso o bispo de Carteia não sente contradição entre a religião e a condição de cavaleiro. Num primeiro momento a vitória se mostra para o lado dos visigodos, conseguem até avançar à outra margem do Críssus, mas o exército de Tárique se recompõe e passa a contar com as traições de Sisebuto e de Opas. Num jogo de xadrez, é como se Tárique houvesse “comido” um bispo e uma torre de Roderico. A vitória então se mostra a Tárique. O cavaleiro negro (Eurico) e Pelágio (o outro cavaleiro) estão na vanguarda, por detrás das linhas de peões de Tárique. 2)Batalha de Auseba: Neste tabuleiro existe uma só rainha (Hermengarda) que está em poder de Abdulaziz. Eurico vai resgatá-la como um cavaleiro, o terrível cavaleiro negro. Não só resgata Hermengarda, como dá xeque no rei (fere a Abdulaziz). Os árabes saem em perseguição aos ousados heróis, e na fuga destes, morrem Viterico e Liuba (peões). Na batalha de Auseba, o bispo Eurico (ele opta por ser bispo) mata aos traidores: o bispo Opas e o conde Juliano (cavalo). Note-se que só sendo bispo nessas duas jogadas ele pode matar os traidores, mas exatamente por ser bispo, morre diante de Muguite (bispo), tivesse optado por ser o cavaleiro negro neste lance da partida e teria se salvo (para a vida material, mas não para a religião).
CONCLUSÕES:
A obra Eurico, o Presbítero possui elementos que permitem a comparação das cenas das batalhas de Críssus e de Auseba com uma partida de xadrez. Historicamente, o jogo de xadrez foi trazido para a Europa pelos árabes e, nesse caso, a região da Espanha foi o ponto principal desse contato. Assim, não é de se admirar que a obra de Herculano que trata de batalhas medievais também não possa ser comparada com as partidas de um jogo de xadrez. Ao demonstrarmos essas relações estamos abrindo a possibilidade de se entender a obra de Herculano para além de um romance histórico de caráter romântico, pois desvelamos uma leitura que mostra Eurico, o Presbítero como uma obra cuja estrutura contém implicitamente os dados desse contato cultural entre árabes e europeus e, nesse caso, a analogia com o jogo de xadrez é a principal metáfora.
Palavras-chave:  Literatura Portuguesa; Alexandre Herculano; Jogo de Xadrez.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005