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D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 1. Epidemiologia | ||
SEXO PROTEGIDO VERSUS RELAÇÃO ESTÁVEL: UMA RELAÇÃO DE CONFIANÇA? | ||
Maria do Socorro Cavalcante 1 (socorroc@baydenet.com.br), Ana Maria de Sousa Ribeiro 1, Elizabeth Dell Orto Vieira 1 e Alberto Novaes Ramos Junior 2 | ||
(1. Hospital Geral Dr. César Cals / Secretaria de Saúde do Estado do Ceará; 2. Departamento de Saúde Comunitária / Universidade Federal do Ceará) | ||
INTRODUÇÃO:
Fatores biológicos, culturais e socioeconômicos contribuem para os elevados coeficientes de incidência e de prevalência das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) em mulheres. Atualmente, com o substancial aumento do número de casos de infecção pelo HIV na população feminina identificada como de baixo risco, ou seja, mulheres que têm um único parceiro e não usam preservativos, bem como drogas injetáveis com compartilhamento de seringas e agulhas estão vulneráveis às transmissões das DST e do HIV. Obter dados acerca do comportamento sexual de mulheres grávidas é de grande importância para a prevenção nos serviços de pré-natal. Trabalhos qualitativos tentam encontrar respostas. Em relação aos aspectos comportamentais, existe a possibilidade de conflitos entre os valores e interesses que orientam as decisões sobre a vida sexual e aqueles que norteiam as recomendações programáticas, as quais responsabilizam as mulheres pela negociação do sexo seguro, número de parceiros, freqüência das relações sexuais, prevenção da gravidez e estimula as opções contraceptivas que não protegem contra as DST. A alta vulnerabilidade deste grupo, relacionada à complexidade socioeconômica, deve ser considerada nos programas de prevenção de DST e Aids. Este estudo visa descrever os indicadores demográficos e comportamentais que predispõe a aquisição de DST em mulheres grávidas atendidas em um hospital de referência no Município de Fortaleza no período de agosto de 2003 a maio de 2004. |
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METODOLOGIA:
Estudo realizado em um hospital público de referência estadual no Município de Fortaleza, Ceará, de agosto de 2003 a maio de 2004. É parte integrante de uma pesquisa realizada pelo Programa Nacional (PN) de DST e Aids do Ministério da Saúde. Estudo observacional, transversal, retrospectivo com componentes descritivos. Estudaram-se mulheres grávidas atendidas no ambulatório de pré-natal (PN). A amostragem foi estabelecida por conveniência, com recrutamento consecutivo. Os critérios de inclusão foram: mulheres grávidas de qualquer idade, em primeira consulta de PN, em qualquer período gestacional com termo de consentimento. Se menor de 18 anos, o responsável, marido, parceiro, familiar assinavam esse termo. Utilizaram-se questionários fechados elaborados pelo PN de DST e Aids para realização das entrevistas em 243 grávidas. As variáveis estudadas foram processadas e analisadas no aplicativo Epi-Info, versão 6.04d. Realizada análise descritiva das variáveis: idade, escolaridade, renda familiar, situação marital, idade na primeira relação sexual, número de parceiros nos últimos 12 meses, uso de preservativo com parceiro fixo, uso de preservativo com parceiro(s) eventual(is), relações anais nos últimos 12 meses, uso de droga injetável, e sobre a parceria, se usa ou usou droga injetável e se é portadora do HIV. Utilizou-se o termo de consentimento livre e esclarecido a todas as participantes conforme resolução 196, bem como, garantida total confidencialidade das informações e anonimato. |
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RESULTADOS:
Neste estudo foram analisadas 243 mulheres grávidas atendidas no ambulatório de um Hospital de Referência em Fortaleza. A idade entre elas variou de 12 a 45 anos, a média de idade foi de 27 anos e mediana de 26 anos com moda de 20 anos e DP=7,018. A escolaridade foi maior 188/242 (77,6%) naquelas que cursaram até a 8ª série do ensino fundamental, enquanto que a maior renda familiar variou entre menos de dois salários mínimos a 2 e 4 salários, 107/242 (44,2%) e 109/242 (45,0%), respectivamente. A maioria delas 192/241 (79,6%) tinha como estado civil, solteira. Em relação aos dados comportamentais, a idade do início da vida sexual variou de 12 a 37 anos com média e mediana de 17 anos e moda de 15. O maior percentual 127/242 (64,8%) foi em mulheres com faixa etária entre 15 e 19 anos de idade. Grande parte delas 208/243 (85,6%) referiu ter apenas um parceiro e 122/243 (50,2%) e 99/243 (40,7%) nunca usar preservativo nas relações sexuais ou somente às vezes, respectivamente. 223/243 (91,8%) referiram não ter parceiros eventuais. Somente 43/243 (17,7%) das mulheres grávidas tiveram relações anais e dessas que praticaram essa modalidade, 28/43 (65,1%) delas nunca usaram preservativo. A maior parte delas 238/243 (97,9%) referiram não ser usuárias de drogas injetáveis. Em relação à parceria sexual, 217/243 (89,3%) responderam que seu parceiro não usa ou nunca usou droga injetável e apenas 4/243 (1,6%) referiu que o parceiro era infectado pelo vírus HIV. |
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CONCLUSÕES:
Os dados do presente estudo revelaram que a maioria das gestantes encontrava-se na faixa etária entre 25 e 29 anos de idade, apresentam melhor nível de instrução e baixa renda familiar. A maioria vive sem compromisso legal com o parceiro. Observou-se que em mais da metade das gestantes, a faixa etária de início da vida sexual foi maior entre 15 e 19 anos, o que corrobora com os dados apresentados no Brasil. Nesse estudo ficou demonstrada que o principal fator preditivo foi a não adoção do preservativo, devido ao fato da parceria fixa. A importância desse achado foi observar que a maioria das mulheres por ter parceria fixa não usa o preservativo em todas as relações sexuais e, portanto, não imagina o risco a que estão sendo submetidas pelo excesso de confiança no parceiro, onde, para elas, a relação é considerada segura. A educação em saúde, voltada para a prevenção das DST e Aids, nos últimos anos, têm sido submetida a questionamentos acerca dessa abordagem focalizada na tentativa de conscientizar as pessoas sobre a própria suscetibilidade, responsabilizando-as pela transformação dos comportamentos que aumentam a probabilidade de infecção pelo vírus. Deste modo, sabe-se que as relações sociais, econômicas, culturais e afetivas, interferem nas formas diferenciadas de interpretação, de apropriação dos conhecimentos atribuídos à vivência da sexualidade e à proteção contra as DST e Aids. |
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Palavras-chave: Mulheres Grávidas; Comportamento Sexual; Parceiro Fixo. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |