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G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 3. Geografia
MAPEAMENTO DOS HÁBITOS DA CAPIVARA NA ILHA ANCHIETA, SP
Caio Augusto Magalhães 1 (caioam@yahoo.com), Isabela Gorgatti Cruz 1, Julia da Costa Saraiva 1, Flávia Gonzaga Pileggi 1, Patrícia Diniz Borges Simas 1 e Sueli Angelo Furlan 1
(1. Depto. de Geografia, Universidade de São Paulo - USP.)
INTRODUÇÃO:
Através de um projeto do Zoológico de São Paulo, no ano de 1983, alguns animais silvestres foram introduzidos no Parque Estadual da Ilha Anchieta sem qualquer estudo prévio aprofundado a respeito dos hábitos, adaptações e impactos destes na ilha, também não houve um acompanhamento posterior à sua introdução. Entre eles, foi introduzida a capivara (Hydrochoerus hydrochoeris). Através das bases fornecidas pela ciência biogeográfica, pensou-se na elaboração de um mapeamento dos hábitos da capivara nesta área, baseando-se apenas nos locais em que foram encontrados indivíduos ou vestígios de sua presença, buscando observar aspectos de seu comportamento, podendo assim dar base para um estudo da relação entre os principais hábitos do mamífero e os impactos ambientais causados por ele. O enfoque dado no trabalho foi o da biogeografia ecológica, explicando através da observação e de um estudo prévio, as ações e adaptações de uma espécie exótica a um ambiente insular, o qual exige uma especial atenção por ter sua fauna e flora extremamente frágeis. Este trabalho pode viabilizar um estudo mais aprofundado de conservação da Ilha, estudo este necessário pela inexistência de um acompanhamento dos impactos deste animal no local e de sua população. Também poderá servir como base de dados para o estudo do manejo, contagem e saúde da capivara na Ilha Anchieta.
METODOLOGIA:
Para uma elaboração lógica deste trabalho, seguiu-se a metodologia sugerida por Libault em “Os quatro níveis da pesquisa em geografia”. O primeiro nível (compilatório) constitui-se num trabalho de levantamento bibliográfico, permitindo entrar em contato com a área de estudo, pelos seus aspectos físicos e históricos, além da observação de cartas topográficas e do estudo prévio dos hábitos, características e comportamento da capivara. No nível correlatório fez-se as correlações das informações levantadas, sugerindo hipóteses a respeito da área e da introdução das capivaras na Ilha. No nível semântico as informações obtidas foram interpretadas, revelando a evolução dos acontecimentos, suas mudanças, e permitindo tirar conclusões a respeito do assunto em questão. O nível normativo foi o momento de transformar o produto da pesquisa em modelo. Para a realização deste estudo foi essencial um trabalho de campo, que se constituiu numa visita de três dias à Ilha Anchieta, quando se buscou observar as capivaras durante o maior tempo possível. Foram anotados e fotografados todos os indícios da presença do animal, como fezes, pegadas e trilhas, além da descrição do comportamento dos animais encontrados. Com a utilização de GPS marcou-se todos os pontos onde foram encontrados vestígios ou indivíduos. A bússola ajudou na orientação do ângulo de visada das trilhas feitas pelas capivaras. Outra técnica utilizada em campo foi o registro de pegadas através de moldes de gesso.
RESULTADOS:
O estudo prévio dos hábitos da capivara forneceu bases para que em campo fossem observados os hábitos deste animal que, por ser exótico à Ilha Anchieta, foi obrigado a desenvolver adaptações para sobreviver no local. O fato dos animais apresentarem pêlo liso e limpo indica que há boa disponibilidade de água doce e alimento. Na Ilha Anchieta as capivaras são encontradas com freqüência em locais abertos, o que indica uma anormalidade do comportamento da espécie, talvez pelo fato de não terem predador natural no local. Observou-se também que outra adaptação desenvolvida pela capivara foi pastar em encostas íngremes, já que o relevo da Ilha é bastante acidentado. Todas as trilhas encontradas feitas pelas capivaras surgiam ou desembocavam num curso de água, a cópula dos casais só ocorre dentro da água, que também serve como local de descanso e abrigo. Possivelmente outra adaptação ao meio, a necessidade destes animais por água fez com que passassem a utilizar o mar como um ambiente para a realização das suas necessidades. A visualização de famílias com três filhotes indica que na Ilha existe boa oferta de alimentos, pois normalmente são paridos dois filhotes por cria. Durante as caminhadas constatou-se a ocorrência de carrapato-estrela e isto pode ser um indicador de infestação deste parasita nas capivaras.
CONCLUSÕES:
Através da descrição e da produção de um mapeamento dos hábitos da capivara na Ilha Anchieta, foi possível ter um panorama geral das atividades diárias destes animais. Em campo pôde-se constatar alguns problemas para a realização dos objetivos propostos, como a curta duração do trabalho de campo e o acesso restrito nas trilhas do parque, os quais limitaram a observação dos hábitos e o registro das áreas de ocorrência das capivaras, mesmo assim, conseguiu-se perceber as adaptações sofridas por estes animais de acordo com as suas necessidades eminentes, como por exemplo, o uso da água do mar para a satisfação das suas necessidades fisiológicas ou o fato das capivaras criarem trilhas em um relevo acidentado. Cada grupo de capivaras tem um ritmo diário de atividades e um padrão regular de utilização do espaço, trata-se de um comportamento próprio da espécie. Isso se tornou um problema para a representação da realidade pelo mapeamento, pela dificuldade do reconhecimento destes grupos sem equipamentos e tempo de observação adequados. A Ilha Anchieta é um ambiente ao qual este animal é exótico e, portanto, ao desenvolver uma série de adaptações para sobreviver, modifica as características originais da espécie.Um fator preocupante para os pesquisadores da Ilha é a consangüinidade das capivaras, já que inicialmente havia sete animais e houve períodos em que acreditam ter havido cerca de trezentos. Esse fator pode causar problemas genéticos e debilidades aos animais.
Palavras-chave:  Capivara; Ilha Anchieta; Biogeografia.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005