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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 7. Educação Infantil

“Formar a criança como cidadã ativa e construtora do seu conhecimento”: SIGNIFICADOS DAS FUNÇÕES DA EDUCAÇÃO INFANTIL CONSTITUINDO MEDIADORES DA DOCÊNCIA E DA IDENTIDADE PROFISSIONAL

Nancy Nonato de Lima Alves 1 (nancynlalves@yahoo.com.br), Ivone Garcia Barbosa 1 e Telma Aparecida Teles Martins 1, 2

(1. Faculdade de Educação, Universidade Federal de Goiás; 2. União das Faculdades Alfredo Nasser)

INTRODUÇÃO: Neste texto, apresentamos parte dos dados construídos em uma pesquisa de mestrado (Alves, 2002), do Programa de Pós-graduação da FE/UFG, a qual integra o projeto “Políticas públicas e educação da infância em Goiás: história, concepções, projetos e práticas”, do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Educação da Infância, da FE/UFG. Destacaremos os significados atribuídos à educação infantil e à função do professor em creches e pré-escolas. A preocupação com a qualidade do atendimento às crianças de 0 a 6 anos não esteve sempre presente nas políticas públicas brasileiras, acarretando precariedades na organização e no funcionamento, além de desconhecimento da realidade das instituições. No contexto atual, entretanto, defende-se que creches e pré-escolas promovam experiências significativas para a aprendizagem e desenvolvimento infantil, destacando o desempenho profissional como um dos principais determinantes desse processo. Isso acarreta pressões e exigências sobre a atuação docente naquelas instituições, gerando, também, a necessidade de novas pesquisas sobre o perfil profissional, formação e atuação dos educadores da infância. Assumindo a importância de se compreender a docência considerando a dimensão pessoal e os significados que os professores atribuem ao seu ofício, a pesquisa pretendeu possibilitar a construção de dados específicos sobre professoras de educação infantil formadas em Pedagogia, bem como apreender significados e sentidos mediadores da sua identidade profissional.

METODOLOGIA: Sob o referencial histórico-dialético, a pesquisa empírica teve a participação de 84 pedagogas de 16 Centros Municipais de Educação Infantil de Goiânia, em 2001. Inicialmente, fizemos um levantamento do quantitativo e do nível de formação dos professores por CMEI, através de consulta aos arquivos da Secretaria Municipal de Educação, e de visitas às instituições. Objetivando conhecer o/a professor/a, apresentamos um questionário de múltipla escolha sobre características gerais do perfil pessoal e profissional, para o total de pedagogos. Os dados foram tabulados e sistematizados em percentual. Na construção de dados específicos sobre a docência, estabelecemos a meta de amostragem de 50% dos pedagogos, nos CMEIs com maiores quantitativos. Obtivemos a participação de 35 professoras que responderam a um questionário descritivo referente ao trabalho docente, sua organização e realização; as relações entre formação, teorias e atuação docente; a visão de criança; função da educação infantil e do professor nas instituições. Entrevistamos, ainda, 13 coordenadoras pedagógicas dos 8 CMEIs nos quais se realizou o questionário descritivo. Sistematizamos os dados descritivos com a leitura global dos questionários, agrupando as respostas a cada questão, para a constituição das categorias analíticas. Desse modo, a análise foi emergindo das falas das professoras e não apenas de categorias previamente definidas, buscando apreender mediações e significados da docência em educação infantil.

RESULTADOS: O desenvolvimento integral da criança e a educação para a cidadania foram indicados como principais objetivos da educação infantil, ou seja “formar a criança como cidadã ativa e construtora do seu conhecimento e promover a integração entre os aspectos físicos, afetivos, cognitivos e sociais”– Prof. 12, além da articulação cuidar/educar e o ensino de habilidades e conhecimentos, como leitura e escrita, de modo lúdico e prazeroso. O cuidar, entretanto, às vezes foi aceito outras vezes foi recusado como função do professor. Outra função seria “acompanhar o desenvolvimento natural da criança, respeitando-o e fazendo a criança sentir-se aceita e compreendida tal como é (...), sentir-se livre para realizar novas experiências, tornar-se mais confiante em si mesma, aprendendo a se conduzir” – Prof. 14. Simpatia, carinho, paciência, criatividade, tranqüilidade, capacidade de acolhimento das crianças e, sobretudo, amor às crianças e à profissão foram destacados no perfil profissional, tendo o amor como principal motivador de atitudes profissionais como, abertura a mudanças, compromisso, dedicação, responsabilidade, busca de aperfeiçoamento. A atuação profissional, por vezes, é explicada em comparação com a função materna, embora destacassem a necessidade de formação teórica para o trabalho docente. Buscam diferenciar-se, mas acabam assumindo certa identidade com a mãe. Indicaram, ainda, especificidades e semelhanças da docência em educação infantil em relação ao ensino fundamental.

CONCLUSÕES: Apreendemos uma busca de constituição de identidade específica da educação infantil e da própria atuação, diferenciando-a do ensino fundamental e de outras instituições educativas, como a família. Tal diferenciação, entretanto, aparece como um movimento ambíguo de aproximação e separação. Além disso, percebemos a influência de teorias espontaneístas, as quais remetem a uma identidade profissional de professor observador do livre desenvolvimento da criança. Nesse sentido, corre-se o risco de não perceber a necessidade de uma atuação intencional da professora, como é destacado na abordagem sócio-histórico-dialética. Constatamos que a construção de identidade profissional da professora de educação infantil é perpassada pela historicidade da constituição das próprias instituições como campo de atuação profissional e locus específico para cuidar e educar as crianças. Nossa análise desvelou, ainda, o imbricamento entre sentidos pessoais e significados construídos e veiculados nas relações sociais, documentos e propostas oficiais. Defendemos, portanto, que a professora de educação infantil não se limite a amar as crianças e ser mera transmissora de conhecimento, mas que tenha uma sólida formação teórico-prática, a fim de desenvolver as diversas habilidades e conhecimentos necessários ao complexo trabalho de cuidar e educar crianças pequenas, constituindo referenciais críticos para pensar a atuação docente, e compreender a relação entre teoria e prática no fazer educativo.

Palavras-chave:  funções da educação infantil; significados da docência; identidade profissional.

Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005