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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 6. Educação Especial | ||
CONSTATANDO ALGUMAS DAS DIFICULDADES PARA IMPLEMENTAÇÃO DA INCLUSÃO ESCOLAR | ||
Antônio dos Reis Lopes Mello 1 (antonio.dos.mello@terra.com.br) | ||
(1. Depto. de C. Humanas, Fac. de Com., Turismo, Letras e Educação - Universidade de Marília - UNIMAR) | ||
INTRODUÇÃO:
A educação brasileira tem sinais importantes em direção da educação inclusiva, porém seguidos de aspectos polêmicos e contraditórios. A Constituição Brasileira determinou o “atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino”. (Art 4º, Inciso III, 1996) Algumas decisões (Resoluções) dos poderes constituídos têm sido tomadas para garantir os direitos individuais dos educandos, mas não sem percalços. A educação, efetivamente, ocorre através dos trabalhos e esforços consolidados na escola, e é nesse campo que as contradições específicas são verificadas. Buscou-se, nesse sentido, obter algumas informações, com os professores do ensino fundamental, de 1ª a 4ª séries, que indicassem as possíveis raízes das contradições, que dificultam ou impedem a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais. As informações selecionadas para este texto enfocam o desempenho do professor no processo de inclusão, a importância da sua concepção sobre o tema, apontando aspectos que dificultam a educação inclusiva. |
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METODOLOGIA:
A pesquisa de campo envolveu professores de 15 cidades da região de Marília. A coleta de dados foi realizada por 74 alunos, do curso de Pedagogia, da Unimar, que receberam 20 horas de orientações a respeito da metodologia da pesquisa, de como elaborar o roteiro e como realizar uma entrevista semi-estruturada, como transcrever e organizar as informações coletadas. Os alunos se organizaram em grupos de três pessoas, para realizar entrevistas pré-testes, aplicando os procedimentos previstos: agendamento da entrevista, escolha do local de realização, assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, garantia das condições de gravação em sistema de áudio, relatório de enquadre, transcrição da entrevista e outros itens necessários para compreender o processo de coleta e análise de dados. O roteiro de entrevista foi formulado pelo grupo de alunos e orientador. O roteiro foi analisado pela banca de juízes, formada por três professores da área da educação, que sugeriram algumas alterações. Realizaram-se 21 entrevistas piloto, para evitar problemas circunstanciais. A coleta de dados foi realizada no período de um mês. Cada aluno entrevistou três professores, porém 208 entrevistas puderam ser utilizadas. |
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RESULTADOS:
Verificou-se que 22% dos professores não sabem distinguir o aluno com necessidades educacionais especiais. Acreditam que os alunos com necessidades educacionais especiais não devem freqüentar a escola comum, porque já existe lugar próprio para eles, a APAE. Outra constatação é que 85% professores declararam ter participado de cursos de atualizações, nos últimos 3 anos. Porém, uma parcela de 46% do total desconhece metodologias para trabalhar com adaptação de conteúdos às necessidades específicas dos alunos. Observou-se uma resistência explícita de 58% dos docentes ao processo de inclusão. Acreditam que a escola é lugar para alunos que querem aprender e podem superar seus próprios limites. O índice de exclusão torna-se maior na formação de classe de alunos, pois 73% dos docentes entendem que a sala de aula deveria ser para alunos que produzem e têm condições de acompanhar o processo de ensino. Os 46% dos professores que desconhecem uma teoria de inclusão, quando ficam sabendo de uma legislação, que implanta um “Programa de Atendimento aos alunos da rede pública, com necessidades educacionais especiais, preferencialmente em classes regulares de ensino” acatam-na antes pela obediência que pela compreensão. (Resolução SEE 61/2002) Outra constatação importante é que 32% dos professores afirmam que sua relação com o aluno precisa ser mediada, devido à indisciplina. Afirmam que os alunos fracos têm problemas de comportamento e são agressivos. Os professores que alegam dificuldades em suas práticas docentes e de 71%, e gostariam de receber cursos das próprias instituições. |
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CONCLUSÕES:
É no fazer pedagógico que transparecem as principais contradições e práticas de exclusão escolar. A falta de capacitação do professor é um dos fatores que dificulta o processo de inclusão. Mas, os resultados analisados mostram que 85% dos professores realizaram cursos e nem por isso estão transformando objetivamente a realidade. Sabe-se que a adoção de novas práticas educacionais está estreitamente vinculada à adoção de novos conceitos, principalmente aqueles radicais. O educador suscetível à reflexão e a questionamentos tem um perfil favorável às mudanças, pois elas implicam em desprendimento, inclusive dos valores relativos, construídos em bases da experiência individual. A constatação de professores despreparados profissionalmente para o trabalho se dá em relação às legislações e às teorias que fundamentam a inclusão, visto que essas não lhes provocam mudanças, mas rejeição. Uma parcela de 42% dos professores disse que suas escolas não promovem práticas ou políticas de inclusão de alunos. A crença particular torna-se estatuto da verdade, e como não tem quem a cerceie, o professor vai agindo segundo critérios aceitos no grupo, já que desconhece aqueles que são estabelecidos por leis ou teorias. É assim que as questões política e filosófica do trabalho educacional não são refletidas. Os aspectos universais, norteadores da prática educacional são preteridos do fazer escolar, porque esbarram em pareceres e procedimentos pessoais, vinculados ao senso comum. O trabalho docente, nesse contexto, tem dificultado diretamente o processo de inclusão. |
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Palavras-chave: inclusão de alunos; educação especial; pesquisa em educação. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |