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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 10. Educação Rural
Educação do Campo e Desenvolvimento Sustentável: a experiência em escolas de assentamentos no Pará
Viviane Cardoso da Silva 1 (viviansylva@yahoo.com.br), Orlando Nobre Bezerra de Souza 2 e Lenise Maria da Silva Ferreira 3
(1. Graduanda em Pedagogia, Universidade Federal do Pará - UFPA; 2. Prof. Dr. do Depto. De Administração e Planejamento da Educação - UFPA; 3. Pós-graduanda em Docência do Ensino Superior - Centro de Educação - UFPA)
INTRODUÇÃO:
Esta investigação é fruto da sistematização de parte dos trabalhos desenvolvidos pelo Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Estado e Educação na Amazônia (GESTAMAZON), fomentada pelo Programa Integrado de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC-UFPA) e vinculada ao Projeto “Educação Rural na Amazônia: mapeando caminhos”, que tem como finalidade conhecer as experiências de educação do campo, contribuir mediante as dificuldades encontradas e propor alternativas para a melhoria da educação em uma perspectiva teórico-prática, permeado por processos participativos e democráticos. Desse modo, surgiu o nosso interesse em pesquisarmos as práticas pedagógicas desenvolvidas nas escolas dos assentamentos Mártires de Abril/ Belém e João Batista/ Castanhal, tais como: gestão, planejamento, conteúdos, planos de aula e recursos didáticos, a partir dos desdobramentos do desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, elencamos como objetivos: identificar a literatura existente acerca da educação do MST e do desenvolvimento sustentável; perceber como os alunos, pais e educadores compreendem as contribuições que a educação do campo pode propiciar para a melhoria da qualidade vida e desenvolvimento local; e analisar se as experiências educativas das escolas dos assentamentos Mártires de Abril e João Batista vêm se configurando nas perspectivas do desenvolvimento sustentável.
METODOLOGIA:
Para conduzir o processo de investigação, traçamos um caminho metodológico que teve como função organizar e sistematizar o nosso pensamento a partir de uma abordagem qualitativa, que nos propiciou o contato com os sujeitos do MST e a compreensão dos diversos aspectos que norteiam as práticas educativas do MST e o desenvolvimento sustentável. Para isso, utilizamos procedimentos, tais como: um estudo bibliográfico que implicou na identificação da produção acerca da educação do MST e do desenvolvimento sustentável; um estudo documental que norteou a coleta e análise de planos de aula; uma pesquisa de campo em que pudemos aplicar questionários com questões abertas e fechadas para a comunidade e para os alunos, tendo uma amostragem de 15% por categoria e assentamento, em que nos propomos compreender os perfis pessoal-cultural e sócio-econômico-educacional do universo pesquisado. Um outro instrumento que utilizamos foi a entrevista semi-estruturada que fizemos com dois educadores por escola, em que questionamos sobre os processos de gestão, construção do planejamento, os conteúdos trabalhados e os recursos didáticos utilizados no processo de ensino-aprendizagem. Por fim, sistematizamos, interpretamos e analisamos os dados coletados, fazendo as articulações entre a literatura e os resultados.
RESULTADOS:
Nesse processo apontamos como resultados que há pouca produção teórica sobre a educação do campo no Pará e sobre o MST não encontramos materiais que articulassem as suas práticas educativas com as perspectivas do desenvolvimento sustentável; um outro aspecto importante é que nas escolas pesquisadas as coordenações ou setores de educação não tem autonomia de gerir a escola de seu assentamento, pois todas estão vinculadas a outras instituições de ensino, ou seja, são “prédios” anexos que são coordenados por uma gestora e supervisora (em cada caso) que não são do MST, mas que conduzem os processos legais, administrativos e técnicos; outra questão percebida é que a implementação da gestão democrática é gradativa, pois a comunidade pouco participa das tomadas de decisão, o que repercute nos encaminhamentos que podem levar ao desenvolvimento sustentável na perspectiva de pensar o meio ambiente, as relações humanas e as dinâmicas de trabalho, que também vêm sendo construídas lentamente nesse contexto. Por outro lado, alguns passos alternativos vêm sendo tomados, tais como: a inclusão de jovens e adultos na escolarização, a oportunidade de ensino para os filhos dos trabalhadores, a utilização de metodologias que podem proporcionar o aprofundamento da aquisição e construção do conhecimento, a partir de aulas-passeio, dinâmicas de pesquisa, em grupo etc, o fortalecimento da identidade de ser sem terra e incentivo ao trabalho coletivo entre as famílias assentadas.
CONCLUSÕES:
Compreendemos que conduzir o desenvolvimento local através de processos educativos é muito complexo, mas existem possibilidades de pensar e alcançar estágios favoráveis de desenvolvimento sustentável, pois uma das perspectivas alternativas é que em qualquer âmbito o processo de desenvolvimento tenha como finalidade proporcionar o bem estar sócio-econômico-cultural e ambiental dos indivíduos, a partir de uma nova racionalidade social. Desse modo, a realidade dos assentamentos vem caminhando para o fortalecimento da proposta pedagógica do MST, pois oferecem oportunidades de melhoria na qualidade de vida das famílias, mas devemos atentar para os desafios que são lançados as escolas que podem ser superados, como a criação de ações voltadas para as questões relacionadas ao meio ambiente; a permanente qualificação do quadro de profissionais da educação, através da formação continuada; e de estratégias que possam se efetivar na tentativa de fazer da escola um espaço de práticas democráticas, criativas, participativas, de diálogo, de reflexão e de debates, visando o fortalecimento da comunidade e da identidade do MST.
Instituição de fomento: Programa Integrado de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC-UFPA)
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Educação do campo; Desenvolvimento Sustentável; MST.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005