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D. Ciências da Saúde - 5. Farmácia - 4. Farmacotecnia
COEFICIENTE DE PARTIÇÃO E DISSOLUÇÃO DO BENZOILMETRONIDAZOL EM ÓVULOS DE QUITOSANA
Edivânia Lopes 2 (edivania_lopes@yahoo.com.br), Willem Messias de Andrade 1 e Fernanda Nervo Raffin 3
(1. Aluno de Iniciação Científica do Departamento de farmácia - UFRN; 2. Pós-Graduanda do Departamento de Farmácia - UFRN; 3. Profa. Dra. do Departamento de Farmácia - UFRN)
INTRODUÇÃO:
Para produzir resposta farmacológica, a molécula do fármaco precisa penetrar uma barreira biológica representada pelas camadas lipofílicas (membranas celulares) e hidrofílicas (líquidos inter e intracelulares), e essa capacidade fundamenta-se, em parte, na sua afinidade por lipídeos (lipofilicidade) em comparação com sua afinidade pela água (hidrofilicidade). O coeficiente de partição de um fármaco é a medida de sua distribuição em um sistema de fase lipofílica/hidrofílica, e indica sua capacidade de penetrar sistemas biológicos multifásicos. A velocidade de dissolução aliada a dados sobre solubilidade, constante de dissolução e coeficiente de partição podem proporcionar uma indicação sobre a biodisponibilidade do fármaco. Foram estudados óvulos de quitosana contendo benzoilmetronidazol para utilização na tricomoníase vaginal tendo em vista as possíveis vantagens da formulação como a bioadesividade da quitosana que poderia solucionar um dos maiores problemas das preparações de uso vaginal, que é o tempo de permanência do fármaco na mucosa. Tendo como objetivo obter dados que forneçam indicação sobre a biodisponibilidade do benzoilmetronidazol veiculado em óvulos de quitosana, serão discutidos o coeficiente de partição e o perfil de dissolução in vitro do fármaco.
METODOLOGIA:
Os óvulos foram preparados a partir de soluções de quitosana 3,5% m/v em uma solução de ácido acético 1% v/v, contendo 10 ou 20% v/v de glicerina, 500mg do benzoilmetronidazol, e reticulados com 1,5% de formaldeído. Para determinação do coeficiente de partição foram dissolvidos aproximadamente 200mg do benzoilmetronidazol em 50mL de octanol, que foram misturados a 50mL de água em funil de decantação; as fases foram homogeneizadas e protegidas da luz. Após 24 horas foram coletadas amostras para quantificação por espectrofotometria no ultravioleta no comprimento de onda de 317nm para a fase aquosa e 306nm para a fase octanólica. A partir dos dados obtidos calculou-se o coeficiente de partição P (dividindo-se a quantidade de fármaco existente na fase octanólica pela quantidade na fase aquosa) e logP. A dissolução foi realizada em dissolutor do tipo pás, cada recipiente continha 800mL de um tampão de ácido lático com lactato de amônio pH 4,5, simulando o meio vaginal, sob temperatura de 37 ± 0,5 ºC, e sob agitação de 100rpm. A quantidade dissolvida do benzoilmetronidazol foi determinada pela absorvância a 318nm em espectrofotômetro usando o tampão lactato como branco.
RESULTADOS:
O perfil de dissolução mostrou uma liberação controlada, com liberação superior a 10% da quantidade total do fármaco liberado nas primeiras 12 horas, sendo que os óvulos contendo 10% de glicerina liberaram 14,2% e os que continham 20% de glicerina liberaram 27,6%, correspondendo respectivamente a 71 e 138mg de benzoilmetronidazol. Essas quantidades de fármaco liberado levam à obtenção de uma concentração in vitro respectivamente de 306 e 595µM, muito superior a IC50 (concentração inibitória para 50% dos parasitas) para o metronidazol que é de 5,8µM, concentração essa que foi ultrapassada já na primeira hora de liberação do óvulo. O coeficiente de partição obtido foi de 92,33, o que indica que o fármaco é 92,33 vezes mais solúvel no octanol que na água, com o logP de 1,96. Essa grande lipofilicidade mostra-se muito atraente para a forma proposta uma vez que evidencia uma grande tendência da molécula em penetrar as celulas da mucosa e do parasita, vencendo a maior barreira imposta à absorção que é a transposição das camadas lipídicas.
CONCLUSÕES:
Conclui-se que a forma farmacêutica mostra-se adequada para uma liberação controlada do fármaco, com manutenção de uma concentração in vitro muito superior a IC50 do metronidazol contra o T. vaginalis desde a primeira hora de liberação. Por sua vez, a relativa lipofilia do benzoilmetronidazol parece favorável a uma rápida ação do fármaco liberado, corroborando com a liberação para uma atividade mantida e efetiva do fármaco no local de ação. Assim, tanto a forma do fármaco quanto a formulação indicaram ser favoráveis a administração pela via vaginal, promovendo vantagens no tratamento de infecções locais pela utilização de um sistema de liberação prolongada com maior tempo de ação.
Palavras-chave:  benzoilmetronidazol; coeficiente de partição; dissolução.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005