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D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 4. Saúde Pública
A UTILIZAÇÃO DAS ESCALAS INVENTÁRIO DAS SITUAÇÕES DE BEBER (ISB-42) E INVENTÁRIO DAS SITUAÇÕES DE USO DE DROGAS (ISUD-42) COMO RECURSO TERAPÊUTICO EM PACIENTES ATENDIDOS EM UM CENTRO DE CONVIVÊNCIA PARA DEPENDENTES QUÍMICOS EM FORTALEZA-CE
Maria Teresa Soares Matos 1, 2 (mtsmatos@superig.com.br), Erick Leite Maia de Messias 1, 2, Silvânia Maria Mendes Vasconcelos 2, Evelyne Nunes Ervedosa Bastos 1, 2 e Edna Colangelo Matos 1, 2
(1. Hospital de Saúde Mental de Messejana - HSMM; 2. Universidade Estadual do Ceará - UECE)
INTRODUÇÃO:
O tema alcoolismo e drogadição desperta o interesse da população e de profissionais da área de saúde, visto que o uso dessas substâncias acompanha o homem desde a Antigüidade variando com o tempo e a cultura. Nas últimas décadas observa-se o crescimento vertiginoso de quadros de abuso e dependência , o que constitui hoje, problema mundial de Saúde Pública.
O tratamento da dependência química recebe atenção da Psiquiatria desde que esta foi conceituada como doença. Com isso, surge a necessidade de se avaliar o fenômeno e as intervenções nele realizadas de acordo com a metodologia científica. Uma avaliação adequada e abrangente é fundamental, tanto para estabelecer um tratamento apropriado, como na pesquisa de problemas relacionados ao uso de substâncias picotavas e da efetividade das intervenções, daí a necessidade de utilização de instrumentos padronizados como as Escalas de Avaliação
Dos instrumentos disponíveis para Avaliação dos Comportamentos Associados ao Consumo de Álcool e Drogas há os que são destinados à análise das situações de uso ou risco, como o Inventário de Situações de Beber - ISB-42 e o Inventário de Situações do Uso de Drogas - ISUD-42.
Este trabalho teve como objetivo utilizar as escalas ISB-42 e ISUD-42 e avaliar os resultados obtidos com a aplicação, para identificar as situações de risco do dependente químico e favorecer a aquisição de habilidades necessárias para enfrentá-las do jeito mais certo, eficaz e adequado, reduzindo assim o risco de recaída.
METODOLOGIA:
O estudo realizado em Ago/2004, no Centro de Convivência para dependentes químicos de um hospital psiquiátrico público no Ceará, investigou (n=21) pacientes do sexo masculino com período de tratamento entre 1 e 6 meses, idade média de 35 a 50 anos para alcoolistas e 20 a 35 anos para usuários de outras drogas .
O método amostral foi o de conveniência, separados por dois grupos. Os instrumentos utilizados foram as escalas ISB-42 para 9 usuários de álcool (Grupo A) e ISUD-42 para 12 usuários de outras drogas de abuso (Grupo B).
As escalas incluem 42 perguntas objetivas sobre situações de risco. Os itens são organizados em escala Likert de 4 graus: nunca (0), raramente (1), freqüentemente (2) e quase sempre (3) e agrupados em 06 Blocos de acordo com as situações: I - Lidar Com Emoções Negativas; II - Lidar Com Situações Difíceis; III - Lidar Com a Diversão e o Prazer; IV - Lidar com Problemas Físicos ou Psicológicos; V - Lidar Com o Hábito de Usar Álcool ou Drogas; VI - Lidar com o Tratamento.
A aplicação das escalas ocorreu no período de 01 hora, com explanações das instruções pela entrevistadora, autora principal do estudo. Inicialmente foram lidas as instruções, as alternativas de respostas e cada um dos itens das escalas. As respostas foram anotadas pelo próprio respondente no questionário.
O estudo foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa do hospital campo da pesquisa e os aspectos éticos seguidos, preservando a não identificação do paciente nas informações colhidas.
RESULTADOS:
Na análise estatística dos dados, obteve-se 378 respostas dos usuários de álcool participantes do Grupo A e 504 dos usuários de outras drogas de abuso do Grupo B, revelando os seguintes resultados:
Nas situações do Bloco I, constatou-se que no Grupo A, 26,98% dos usuários bebiam "freqüentemente" (F) e 15,89% "quase sempre" (Q.S). No Grupo B, 28,57% e 27,38% abusavam da droga “freqüentemente” ou “quase sempre” respectivamente.
No Bloco II, os resultados do Grupo A evidenciaram que 22,22% bebiam freqüentemente e 15,16% quase sempre. No Grupo B, 31,06% abusavam da droga freqüentemente e 26,51/% quase sempre.
No Bloco III, 30,30% dos alcoolistas do Grupo A bebiam freqüentemente e 21,21% quase sempre. Quanto aos usuários de outras drogas do Grupo B, 16,66% abusavam da droga freqüentemente e 60,84% quase sempre.
No Bloco IV, os percentuais do Grupo A indicaram que 19,44% bebiam freqüentemente e 22,22/% quase sempre. Quanto aos usuários de drogas do Grupo B, 31,26% abusavam da droga freqüentemente e 25,00% quase sempre.
Observou-se que no Bloco V, 37,79/% dos pacientes do Grupo A bebiam freqüentemente e 15,55% quase sempre. No Grupo B, 29,16% abusavam da droga freqüentemente e 59,72/% quase sempre.
Nas situações do Bloco VI, os resultados mostraram que 41,68% dos usuários alcoolistas “nunca” (N) bebiam e 33,33% “raramente” (R) . No Grupo B, 18,77% dos usuários “nunca” abusavam da droga e 29,16% “raramente”.
CONCLUSÕES:
Com base na análise dos resultados, pôde-se constatar taxas elevadas de uso pesado de álcool ou abuso de droga em ambos os grupos de usuários, quando submetidos a situações de risco. Nos dois grupos estudados a maior prevalência concentra-se na dificuldade que os indivíduos tem de lidar com situações relacionadas ao hábito de usar álcool ou droga (Bloco V). A segunda maior dificuldade dos usuários de álcool e de drogas foi a de lidar com situações que envolvam a diversão e o prazer (Bloco III).
O estudo aponta que existem mais similaridades do que diferenças nas categorias de recaídas entre os dois comportamentos estudados. Observou-se que os dois grupos de situações de maior risco relatadas estão freqüentemente associadas com a recaída, não importando a substância psicoativa utilizada. Esse padrão de achados apoia a hipótese de que existe um mecanismo comum subjacente ao processo de recaída entre os diferentes comportamentos.
Os instrumentos ISB-42 e ISUD-42 utilizados nesse estudo são úteis e necessários tanto para os profissionais que trabalham com dependência química como para os que apresentam problemas com álcool ou drogas. Os pacientes podem utilizá-los fazendo parte de um programa de autocontrole e manutenção da abstinência, através da aquisição de habilidades para lidar com situações de risco. Os profissionais que trabalham com prevenção de recaídas podem conhecer através das escalas os determinantes de recaídas e elaborar plano terapêutico adequado.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Situação de Risco; Escalas de Avaliação; Dependência Química.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005