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H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 1. Literatura Brasileira | ||
A VISÃO SEXISTA EM UM MANICACA | ||
Adriana Anatálio Feitosa 1 (drykathe@bol.com.br) e Maria do Socorro Reis Cosme 1 | ||
(1. Departamento de letras(UFPI)) | ||
INTRODUÇÃO:
O trabalho a ser apresentado é resultado de análises feitas em torno da obra Um manicaca de Abdias Neves. O aspecto a ser considerado faz, juntamente com outros, parte de um trabalho maior envolvendo a linha de pesquisa em torno da temática gênero. Diante de leituras realizadas, verifica-se no objeto de estudo que é notória a linha divisória existente entre o gênero masculino e feminino, mais precisamente no ano de 1900 em Teresina. A análise em questão visa demonstrar como se apresenta o sexismo na obra de Abdias Neves. Espera-se que com a produção realizada, possa-se contribuir para o enriquecimento da literatura piauiense, tendo em vista que o livro a ser retratado é considerado como, praticamente, o primeiro romance da literatura piauiense. |
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METODOLOGIA:
Os procedimentos metodológicos adotados, para a construção do trabalho, constaram de aulas teóricas adquiridas na disciplina “Teoria crítica feminista”, ministrada pela professora e orientadora Maria do Socorro Reis Cosme no curso de mestrado em literatura da Universidade Federal do Piauí. As aulas aconteceram no segundo semestre de 2004, sendo que, ao final da disciplina foi exigida a produção de um artigo, o qual fará parte da dissertação da mestranda Adriana Anatálio Feitosa. O referencial teórico, utilizado na produção em questão, consta de autores como Simone Beauvoir, Freud, Lacan, Derrida, Irigaray, Cixous, Andréa Nye. Além destes, nos reportamos em nossa análise ao trabalho de pesquisadores da obra Um manicaca como Pedro Vilarinho, Área Paz, Socorro Magalhães e Antônio José. O material utilizado constou apenas de livros, computador, impressora, papéis, canetas etc. |
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RESULTADOS:
Diante da leitura realizada, chegou-se ao seguinte resultado: apesar da sociedade teresinense de 1900, apresentar-se arraigada no tradicionalismo provinciano, cheio de vícios, o autor utiliza-se de algumas personagens para desequilibrar a estrutura social montada, fazendo duras críticas a quem detinha o poder, o clero. Nessa tentativa de desconstruir o sistema estabelecido, o ficcionista projeta dois grupos, o feminino, dominado pela igreja, e o masculino comandado, principalmente, por estudiosos com formação em Recife. No entanto a trama gira, mais precisamente, em torno de Araújo, manicaca, e sua mulher, D. Júlia. Manicaca, na gíria da época, significava o homem governado pela mulher. Numa sociedade patriarcal, a mulher assume o papel de dominadora, cometendo assim para a época uma transgressão. No entanto a personagem nos é apresentada de uma forma negativa. As duas imagens femininas presentes na obra são negativas, de um lado tem-se a mulher subserviente e de outro, a megera. |
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CONCLUSÕES:
De acordo com os estudos já realizados em torno do contexto sócio-histórico teresinense até o século XX, como o trabalho de Pedro Vilarinho e Áurea Paz, pode-se afirmar que se tratava de um ambiente firmado no tradicionalismo religioso. Os autores analisaram respectivamente: a condição da mulher e a polêmica em torno do clericalismo. Abdias Neves, contemporâneo ao contexto, preocupou-se em produzir algo que retratasse a realidade de forma crítica, visando uma transformação. Por outro lado, pode-se observar a oposição de alguns personagens ao domínio exercido pela igreja sobre o público feminino, fato comprovado na pesquisa de Pedro Vilarinho. Mas essa oposição tinha, também, o seu aspecto negativo, no tocante à idéia de que a única função da mulher era doméstica. Pode-se dizer, então, que a obra Um manicaca encontra-se fundada em um paradoxo, pois, ao mesmo tempo em que se critica a interdição sofrida pela mulher, defende-se o patriarcado, colocando a mulher sempre a sombra do homem. Um outro aspecto paradoxal, para o contexto da época, é a construção de duas personagens, cujas personalidades parecem ter sido trocadas. De um lado tem-se um homem debilitado, Araújo, e de outro uma mulher dominadora, Júlia. Apesar disso, observamos que o discurso reinante em 1900 ainda é o masculino. No entanto, a personagem deixa uma abertura para que a mulher passe de objeto a sujeito. Sendo assim, os dois personagens construídos conseguem subverter a “aparente ordem”. |
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Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: Manicaca; mulher, feminino; homem, masculino. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |