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C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 5. Zoologia Aplicada
O PESO COMO REFERÊNCIA PARA O DIMORFISMO SEXUAL EM Ucides cordatus (LINNAEUS, 1763) (CRUSTACEA, BRACHYURA, OCYPODIDAE) NA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APA) DO DELTA DO PARNAÍBA.
Karine Fernandes Rolemberg 1 (krolemberg@yahoo.com.br), Jussiara Candeira Spíndola Linhares 1, Lissandra Corrêa Fernandes Góes 1, João Marcos de Góes 1 e Jefferson Francisco Alves Legat 1
(1. Embrapa Meio-Norte)
INTRODUÇÃO:
O caranguejo Ucides cordatus, conhecido popularmente como caranguejo-uçá, é um dos mais importantes constituintes da fauna de manguezal do Atlântico Ocidental. Sua distribuição abrange desde a Flórida até Santa Catarina (Brasil).
Essa espécie é um crustáceo braquiúro semiterrestre, com hábito noturno e que vive na região intertidal (entre maré), onde escava galerias no sedimento do manguezal. Por apresentar grande porte na fase adulta, esse animal assume características de recurso pesqueiro de elevado valor socioeconômico no Nordeste do Brasil, contribuindo para a geração de empregos e aumento de renda nas comunidades pesqueiras.
Atividades como a carcinicultura têm encontrado dados importantes fornecidos pelo estudo do crescimento relativo, que é caracterizado pela relação de uma dimensão corpórea com uma dimensão dos apêndices ou tagmas. Esse crescimento caracteriza-se como isométrico, quando as dimensões aumentam em proporções iguais, ou alométrico, quando há diferenças nas relações, ocorrendo modificações nas proporções ao longo do tempo. Nos estudos sobre crescimento relativo, a equação mais usada é a do tipo função potência.
Este trabalho tem como objetivo verificar a existência de dimorfismo sexual na relação entre peso e largura da carapaça de machos e fêmeas de Ucides cordatus na Área de Proteção Ambiental (APA) do Delta do Parnaíba.
METODOLOGIA:
Os exemplares de Ucides cordatus foram coletados nos meses de junho de 2004 a janeiro de 2005, em cinco estações de coleta, localizadas na Área de Proteção Ambiental (APA) do Delta do Parnaíba. São elas: litoral de Luís Correia (02°53'17,9"S e 41°41'28,1"W); Cajueiro da Praia (02°59'39,3"S e 41°19'05,1"W); Ilha das Canárias, estação I (02°43'48,1"S e 41°57'40,8"W) e estação II (02°46'10,4"S e 41°56'16,8"W); Ilha do Caju (02°45'58,6"S e 42°02'06,2"W).
As coletas foram realizadas manualmente, por ocasião da maré baixa. Os caranguejos foram individualizados em sacos plásticos e transportados em caixas térmicas com gelo para o Laboratório de Recursos Aquáticos da Embrapa Meio-Norte, onde foram crioanestesiados.
No momento da análise, os animais foram descongelados, diferenciados quanto ao sexo, contados, pesados e mensurados quanto à largura da carapaça (LC).
Determinou-se a média do peso total (PT), para verificar-se a existência ou não de diferenças entre machos e fêmeas, assim como foi determinada também a média do tamanho da largura da carapaça (LC).
As relações PT em função de LC foram analisadas para cada sexo. Com base nos resultados da constante da função potência, o tipo de crescimento pode ser isométrico (b =3), alométrico positivo (b > 3) ou alométrico negativo (b < 3).
RESULTADOS:
Para a análise da relação PT x LC, foram tomadas as medidas de 1.810 animais, sendo 1.317 machos e 493 fêmeas.
O tamanho médio da largura da carapaça encontrado para os machos foi de 64,76 ± 7,42 mm, cujos valores mínimo e máximo foram de 21,75 mm e 82,4 mm, respectivamente. Para as fêmeas, esses valores foram de 19,9 mm e 77,25 mm, apresentando uma média de 58,46 ± 7,66 mm.
Os machos apresentaram um peso médio de 123,57 ± 36,22 g que variou de 4,21 g a 234,02 g. Para as fêmeas, a amplitude de peso variou de 3,48 g a 160,56 g, com média de 85,98 ± 26,85 g.
Por meio da regressão estabelecida entre o peso total do animal (PT) e a largura da carapaça (LC), observou-se que os valores da constante alométrica de crescimento (b) para ambos os sexos foram inferiores a 3, sendo b = 2,755 para machos e b = 2,7119 para fêmeas. Portanto, pode-se inferir que a variável dependente tem uma taxa de crescimento menor em relação à independente, caracterizando uma alometria negativa. Utilizou-se o coeficiente de determinação (r2), a fim de se analisar o ajuste dos dados obtidos, encontrando-se para machos r2 = 0,9335 e para fêmeas r2 = 0,9489.
CONCLUSÕES:
O tipo de crescimento obtido pela relação PT x LC decorre do padrão ontogenético que a espécie exibe, podendo variar entre os sexos, fase de maturação e populações da mesma espécie em localidades distintas.
Neste estudo, Ucides cordatus apresentou um crescimento do tipo alométrico negativo para ambos os sexos, o que pode sugerir que a espécie apresenta um dimorfismo sexual em relação ao peso.
Observou-se que os machos apresentam peso e tamanho maiores que as fêmeas, o que pode estar relacionado ao seu comportamento de corte em relação à fêmea, defesa territorial, entre outras funções, enquanto que as fêmeas direcionam sua energia tanto para reprodução como para crescimento.
A relação morfométrica utilizada para evidenciar o padrão de alometria neste estudo é importante para diferenciação sexual das espécies, assim como para esclarecer a passagem do indivíduo jovem para o adulto.
Nos braquiúros, as variações na constante “b” expressam mudanças na forma e tamanho dos animais, principalmente ao atingirem a maturidade sexual. No caso da relação PT x LC, não se pode visualizar a ocorrência da muda da puberdade, pois essa relação pode funcionar apenas como indicadora de bem-estar do animal e, nesse sentido, nota-se que a espécie apresenta um crescimento que condiz com sua estabilização no ambiente de manguezal e, portanto, afirma-a na condição de um importante recurso pesqueiro e com elevado valor socioeconômico.
Instituição de fomento: CNPq e FAPEPI
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Ucides cordatus; Crescimento Relativo; Crustacea.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005