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G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana | ||
A INDUSTRIALIZAÇÃO RECENTE E O REORDENAMENTO TERRITORIAL NO CARIRI CEARENSE | ||
Fábio Ricardo Silva Beserra 1 (fabioricardo@uece.br) e Adelita Neto Carleial 2 | ||
(1. Centro de Ciências e Tecnologia - UECE; 2. Centro de Humanidades - UECE) | ||
INTRODUÇÃO:
A Região do Cariri (CE) vem, nos últimos anos, redefinindo sua economia visando atender às demandas impostas pelo capital hegemônico a fim de torna-se atraente para os novos financiamentos. Tal processo ocorre impulsionado por programas de atração de investimentos privados para o Estado, sobretudo a partir de 1995, com o Plano de Desenvolvimento Sustentável do Governo Estadual e tendo continuidade até os dias atuais. O presente trabalho fez uma análise acerca do processo de des-re-territorialização no Cariri cearense sob o enfoque de Haesbaert (1995; 1997; 1999; 2001; 2004) que conceitua o território considerando os aspectos econômicos, políticos e culturais. Destacamos aqui a vertente econômica do território, incorporada nas relações de classes sociais, nos vínculos entre capital-trabalho, e na divisão territorial do trabalho na indústria. Nesta perspectiva objetivou-se conhecer as novas racionalidades impostas à classe trabalhadora e apreender o papel do Estado, que redireciona suas próprias funções e assume uma ação fomentadora na reprodução ampliada do capital. Esta investigação faz parte da linha de pesquisa Trabalho, Renda e Desigualdades Sociais, do Laboratório de Estudos de População (LEPOP), da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e pretende contribuir para o debate em torno das novas configurações territoriais desenvolvidas no Ceará, sobretudo a expansão da reestruturação produtiva industrial na região supracitada. |
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METODOLOGIA:
A questão que norteia esta pesquisa é saber como se configuram as novas territorialidades, no Cariri, após a intervenção política em investimentos industriais, sob o enfoque do mercado de trabalho. A pesquisa documental foi realizada através de levantamento bibliográfico e da leitura sistemática de dissertações, teses, artigos de periódicos etc. Outra pesquisa, a quantitativa, compreendeu a coleta e a organização de séries estatísticas produzidas, sobretudo por instituições públicas, acerca das características populacionais, mercado de trabalho formal na indústria, renda e escolaridade. Foram utilizados como fontes principais os dados disponibilizados pelo IBGE, IPECE (Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará), Sistema Nacional de Emprego e Ministério do Trabalho e Emprego. A interpretação dos dados permitiu uma análise comparativa, sobretudo para os municípios de Barbalha, Crato e Juazeiro do Norte que apresentam-se com maior número de indústrias na Região. A contextualização da região na economia estadual globalizada foi ilustrativa para conhecer e explicar a organização territorial ocorrida entre os anos de 1995 e 2002. |
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RESULTADOS:
A pesquisa nos revelou dinâmicas distintas para a indústria no complexo Barbalha-Crato-Juazeiro do Norte. Estes dois últimos municípios foram os mais beneficiados nos investimentos públicos industriais, tendo Crato recebido 81 milhões de reais e Juazeiro do Norte 71 milhões, no período entre 1996 e 1999 (IPECE, 2001). Apesar destes recursos, os municípios estudados apresentaram uma redução no número de empresas industriais ativas entre 1996 e 2001 (Barbalha reduziu em 16 estabelecimentos; Crato em 55; Juazeiro do Norte em 46). Barbalha sofreu, concomitantemente, uma redução no número de postos de trabalho em aproximadamente 45% (RAIS/MTE, 1995-2002). Enquanto que em Crato houve um acréscimo em mais de 90% e em Juazeiro do Norte, de mais de 60%. No setor de serviços ainda apresentaram-se os maiores números de empregos formais, nos três municípios, comparados à indústria são 351 postos a mais em Barbalha, 1305 em Crato e 2195 em Juazeiro do Norte. Com relação aos postos de trabalho na indústria, Juazeiro do Norte destacou-se, pois tinha 2455 empregos industriais em 1995, passando para 5913 em 2002. No mesmo período, a situação de Crato foi de 1305 para 4596 postos no setor secundário e Barbalha, de 2116 para 1665. |
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CONCLUSÕES:
Barbalha, Crato e Juazeiro do Norte, embora submetidos a uma mesma lógica de incentivo e desenvolvimento, responderam diferentemente a este processo, mostrando a Região do Cariri como um mosaico, no processo de reestruturação produtiva industrial. Os programas do Governo do Estado promoveram uma industrialização significativa nos municípios estudados, mas não foram suficientes para transformá-los em pólos de emprego urbano-industriais, pois o setor de serviços ainda é mais importante da região. Os três municípios tiveram redução no número de estabelecimentos industriais, mas Crato e Juazeiro do Norte expandiram seus empregos industriais, revelando um parque industrial absorvedor de mão-de-obra, inclusive exigindo-se um esforço maior dos trabalhadores, pois verificou-se o aumento de 100% no total de empregos formais de 41 a 44 horas de trabalhos semanais, nos três municípios (1995-2002), sendo que Juazeiro do Norte destacou-se com a ampliação de 60,1%, seguido por Crato, com 39,2% e, por fim, Barbalha, com 4,5%. O reordenamento territorial nos municípios estudados na Região do Cariri, após a política de atração de investimentos, teve como alicerce fundamental a situação industrial já existente no local. Juazeiro do Norte, antes da atração governamental, já reunia condições para desenvolver sua indústria, potencializando assim os investimentos. Este foi o fator decisivo para sua posição de destaque em relação aos demais municípios que compreenderam nossa investigação. |
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Instituição de fomento: Mestrado Acadêmico em Geografia - UECE | ||
Palavras-chave: Território; Trabalho; Cariri. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |