IMPRIMIR VOLTAR
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 5. Saúde Coletiva
QUALIDADE DE VIDA PELO OLHAR DA COMUNIDADE: UM ENFOQUE ANTROPOLÓGICO
Roberta Cavalcante Muniz Lira 1 (robertmuniz@terra.com.br), Geison Vasconcelos Lira 1, Marilyn K. Nations 1, Ana Ofélia P. de Sousa 2, Maria Jeane M. Freitas 2 e Valdiana de Oliveira Morais 2
(1. Mestrado em Educação em Saúde, Universidade de Fortaleza - UNIFOR; 2. Faculdade de Enfermagem, Universidade de Fortaleza - UNIFOR)
INTRODUÇÃO:
A discussão sobre o que seja qualidade de vida é um debate de grande atualidade. Segundo Minayo, Hartz e Buss (2003, p. 8) “qualidade de vida é uma noção eminentemente humana, que tem sido aproximada ao grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental e à própria estética existencial”.
No Brasil, segundo Monteiro et al (2000) podemos destacar que na década de 80 o quadro econômico foi de recessão, deterioração dos níveis de renda e recrudescimento da “pobreza absoluta”.
Por outro lado, tem-se difundido uma noção de qualidade de vida preconizada pelo mundo ocidental: urbanização, riqueza, conforto, uso de tecnologia e consumo de arte e cultura, entre outras comodidades. (MINAYO, HARTZ & BUSS, 2000).
Se a noção de qualidade de vida se mantém atrelada aos determinantes acima, gera-se uma idéia de que não se possuindo acesso a tais bens de consumo, a qualidade devida não alcança seus fins, mesmo estando satisfeitos as necessidades básicas do ser humano teorizadas por Maslow em 1970. Entretanto, valores não materiais são citados, como realização pessoal e felicidade, amor e imersão social.
Consideramos, portanto, os seguintes problemas que a nós se impuseram e que gerou a pergunta-chave
que poderia gerar outra perguntas: “Qual o significado de qualidade de vida para os indivíduos e como ela se expressa no cotidiano e que estratégias as pessoas se utilizam para terem a melhor qualidade de vida possível em suas vidas?”
METODOLOGIA:
Esta pesquisa é um estudo de abordagem qualitativa, sendo este de natureza descritiva, que segundo Tobar e Yalour (2001) a pesquisa descritiva é aquela na qual são expostas características de determinado fenômeno, sem o compromisso de explicá-lo. Este estudo foi realizado com mulheres residentes no município de Sobral, com população estimada de 163.830 habitantes, localizado na Meso-Região Noroeste do Estado do Ceará sendo 1 aspirante à laqueadura tubária, 1 usuária do Programa Saúde da Família (PSF) no atendimento de Planejamento Familiar, 1 agente de saúde, considerada informante-chave e 1 enfermeira da Unidade de Saúde do Junco, onde todas as demais entrevistadas estão adscritas. Nesta pesquisa utilizou-se como técnica de coleta de dados a entrevista semi-estruturada.
A coleta, análise e apresentação dos dados deram-se no mês de março de 2004. Para a coleta de dados lançou-se mão de um roteiro de entrevista não estruturada com perguntas abertas e que poderiam gerar outras perguntas para melhor compreensão da resposta dada. A análise dos dados se fez pelo método da Análise de Conteúdo, o qual analisa a comunicação entre as pessoas, descrevendo o conteúdo das falas e obtendo indicadores que inferirão nos conhecimentos relativos às condições de produção ou percepção das mensagens.
RESULTADOS:
As respostas concentraram-se na íntima relação entre sofrimento e carência refletida na falta de saúde, especificamente falta de remédios. A compreensão popular do que seja saúde reflete-se principalmente na disponibilidade de remédios para a cura das doenças, próprios do modelo biomédico que não valoriza a prevenção.
Outro ponto que podemos abordar é que o sofrimento está diretamente ligado à falta de recursos financeiros, à pobreza e ao desemprego, corroborando o que Buss (2000) nos fala sobre o desequilíbrio ns condições de vida e saúde das populações.
Outra abordagem refere-se à falta de paz, a presença de conflitos no seio das famílias. A paz intrafamiliar e interrelacional é fator fundamental para a sensação de vida com qualidade
O enfrentamento dos problemas e sofrimentos do cotidiano se apresenta mais uma vez com forte reforço das interações sociais. Pode-se inclusive recorrer à religião como apoio para esse enfrentamento; a religião é o pilar mais forte de apoio, senão muitas vezes o único para a superação de suas inúmeras carências.
Conforme Smeltzer e Bare (2002, p. 52) “a fé, considerada a base da espiritualidade, é uma crença em algo que pessoa não consegue ver e é por esta fé que muitas pessoas se apóiam na resolução de seus problemas”.
Vemos o componente violência, gerada pelo desemprego. Igualmente a solução se apresenta como a busca por mais segurança em casa, no trânsito ou onde quer que a violência se apresente.
CONCLUSÕES:
Neste trabalho não exaustivo sobre a questão da qualidade de vida entre as mulheres pesquisadas, procuramos explorar como elas percebem prescritivamente o seu bem-viver. Foi evidenciado que este ainda está fortemente associado às condições materiais de vida, tais como alimentação, saúde e emprego. Este último fator está intimamente relacionado à possibilidade de consumir, sugerindo uma visão de qualidade de vida dentro de uma cultura marcada pelas relações de produção no bojo do capitalismo. A paz aparece como um fator não-material, mas interrelacional e holístico, englobando a interação com familiares, com os companheiros e com o sagrado. Assim, o bem viver na concepção dessas mulheres refere-se a uma base material de subsistência. Seria ter acesso aos bens básicos, numa primeira aproximação, e ao consumo, numa segunda aproximação. Por outro lado, a valorização das relações humanas e da espiritualidade aponta para uma concepção holística do homem que ademais de uma dimensão imanente, inclui também uma dimensão transcendente. Esses resultados ressaltam a complexidade, a multidimensionalidade e, conseqüentemente, a polissemia do conceito de qualidade de vida na percepção popular, demandando uma abordagem heurística da questão com o objetivo de construir modelos culturais de qualidade vida para ajudar na formulação de políticas públicas saudáveis que contemplem as necessidades humanas.
Palavras-chave:  Qualidade de Vida; Comunidade; Necessidades.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005