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H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 7. Música e Dança
EVIDÊNCIAS DE ATENÇÃO E MEMÓRIA NO BEBÊ: UMA COMPARAÇÃO DA VIDA INTRA-UTERINA E PÓS-NATAL
Eliane Leão 1 (elianewi2001@yahoo.com), Edna Aparecida Costa Vieira 2, Antônio Carlos Prado 3, Roy Kennedy 4 e Roy Grant 5
(1. Universidade Federal de Goiás; 2. Escola de Arte Veiga Valle; 3. Clínica Prado; 4. University of Georgia; 5. University of Georgia)
INTRODUÇÃO:
Este trabalho resulta de investigações do Diretório de Pesquisa Criatividade, Processos Cognitivos e Interdisciplinaridade, CNPq/UFG. Produziu resultados apresentados na 56ª SBPC em 2004 e, tratando-se de um estudo longitudinal, mostra novos resultados. Teoricamente fundamentado nos estudos de Eliane Figueiredo (1996) e Glenn Doman (1996), Vieira & Leão (2003, 2004) estuda a influência da música no desenvolvimento cognitivo e também já produziu trabalhos em temas como a importância da música na alfabetização de bebês e de pré-alfabetizandos. Baú, at all (1998), pesquisando a relação intra-uterina e pós-natal, realizaram uma breve revisão dos mecanismos do desenvolvimento da audição fetal e do recém nascido. Sugerem que a maturação da função auditiva pode servir como critério para acompanhar o amadurecimento do sistema nervoso fetal. Hodges (2000) atesta que as pesquisas em neurologia têm demonstrado que todos os seres humanos nascem com um cérebro musical e recomenda que mais pesquisas sejam feitas para provar as conexões entre a música e as outras formas de inteligência. Wilkin (1991) faz uma análise clínica dos estímulos musicais como o proposto neste trabalho. Para ele os fetos responderam ao estímulo musical do piano mais do que ao do rock e igual ou mais do que o do coral, demonstrando que estas pesquisas trazem implicações para a educação musical. O que o feto experimenta emocionalmente e cognitivamente influenciará as respostas emocionais e cognitivas na vida futura.
METODOLOGIA:
O experimento teve início em julho de 2003 com o objetivo de verificar a influência da música (o estímulo musical consistiu de três recortes) no comportamento e na aprendizagem de bebês (dois) desde o período gestacional. Para a coleta de dados preparou-se as mães, antes da 12ª semana. O primeiro vídeo para observar a reação dos bebês diante do estímulo foi na 22ª semana. Os outros, 24ª, 28ª, 32º e 34ª. Esta etapa observou o desenvolvimento da atenção e da memória ao comparar as reações intra-uterinas com as que aconteceram após parto. Para proceder a observação estabeleceu-se critérios de evidência de movimentos: dos membros (ausente, moderado, intenso); de rotação do tronco; dos olhos (piscar, abrir e fechar); faciais (deglutição, sorriso). Observou-se também a preferência musical das mães. Um segundo critério, para estabelecer o reconhecimento cognitivo do estímulo musical, anotou-se a atenção, a memória, a satisfação e a insatisfação. O reconhecimento cognitivo, aquele que o bebê repete, foi definido como diferente do movimento espontâneo (Santos, at all, 1987). Para a análise comparou-se as evidências de movimento com as evidências de reconhecimento cognitivo do estímulo musical. Fez-se uma análise descritiva das evidências. Após o parto, os bebês foram filmados para que se documentasse as reações aos estímulos musicais, para possibilitar a comparação das duas fases e para comprovar a hipótese de que a música tem influencia no desenvolvimento cognitivo de bebês.
RESULTADOS:
A observação levou à descrição de dois casos. Foi considerado significativo o movimento que aconteceu dentro do útero e se manteve pós parto. Os estímulos musicais de um a cinco foram: 1) som de animal; 2) música folclórica; 3) percussão; 4) Concerto para violino nº 1 de Brahms; 5) leitura com a voz materna. O bebê L.V.L. exposto aos cinco estímulos demonstrou: estímulo nº1) movimento ausente de membros (atenção e memória); nº 2) movimentos intensos de membros superiores e inferiores, tronco e facial (satisfação, atenção e memória); nº 3) insatisfação (atenção e memória); 4) movimento facial (satisfação, memória e atenção); 5) movimentos moderados dos membros superiores e inferiores, facial (satisfação, memória e atenção). O bebê T. J. exposto aos mesmos estímulos demonstrou: estímulo nº 1) movimento intenso de membros superiores e inferiores (satisfação, atenção e memória), nº 2) movimentos intensos de membros superiores e inferiores, tronco e facial (satisfação, atenção e memória); nº 3) rotação intensa do tronco, cabeça e membros (satisfação, memória e atenção); nº 4) movimento ausente de membros (atenção e memória); nº 5) movimentos moderados dos membros superiores e inferiores, facial (satisfação, memória e atenção).
CONCLUSÕES:
Observados os movimentos dos bebês descritos acima e as referentes evidências de desenvolvimento cognitivo, constatou-se a hipótese de que os bebês expostos a estímulos musicais no período gestacional mantêm os mesmos comportamentos demonstrados nas 22ª semana, 24ª, 28ª, 32º e 34ª (período objeto desta observação), se consideradas as observações nos 14º e 45º dias após o nascimento. A manutenção dos mesmos movimentos e expressões faciais podem estar demonstrando que os bebês continuam exercitando a atenção e a memória intra-uterinos, quando permanecem com os mesmos gestos após o parto. A influência desses resultados para a literatura da área de educação musical poderá mudar os rumos relativos às datas em que se pressupõe ser possível iniciar o ensino da música com o ser humano. Se na vida intra-uterina a música representa e tem efeitos que levam o feto a se manifestar quanto à sua audição, questiona-se quão importante se torna antecipar a iniciação musical da criança
Palavras-chave:  Cognição de bebês; Estimulação musical; Observação intra e pós uterina.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005