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G. Ciências Humanas - 5. História - 4. História e Filosofia da Ciência | ||
O SABER CIENTÍFICO E A FÉ RELIGIOSA AO LONGO DA HISTÓRIA ATÉ O PENSAMENTO DE EINSTEIN | ||
MARIA LÚCIA GRILLO PEREZ BAPTISTA 1 (mluciag@uerj.br) | ||
(1. UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO) | ||
INTRODUÇÃO:
"A ciência sem a religião é manca, a religião sem a ciência é cega": assim concebia Einstein a relação entre o saber científico e a fé religiosa. Ele nunca concebeu esta relação como uma antítese, ao contrário, via os dois campos como complementares, ou melhor, como mutuamente dependentes. Uma vez declarou: "Todas as especulações mais refinadas no campo da ciência provêm de um profundo sentimento religioso; sem esse sentimento, elas seriam infrutíferas". Para alguns a visão de Einstein era um tanto estranha quanto a essas duas áreas de conhecimento. A religiosidade teve muita influência em sua vida e em seu trabalho e isso é bem explicitado na sua famosa frase: "Deus não joga dados", ao se referir à teoria das probabilidades da mecânica quântica. Numa conversa entre Pauli, Dirac, Heisenberg e outros, em 1927, durante a Conferência do Instituto Solvay, na sala de estar do hotel, alguém disse: "Einstein está sempre falando em Deus. Como entender isso? É difícil imaginar que um cientista como ele tenha vínculos tão fortes com uma tradição religiosa". Ele muitas vezes foi chamado a fazer conferências sobre este tema e também, a pedidos, escrever alguns artigos. Para que se possa entender o pensamento de Einstein e o que poderia fazer um homem como ele a ter esta temática como pano de fundo, é necessário que seja feita uma análise histórica, levando em conta diversos aspectos da realidade. |
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METODOLOGIA:
A história, não vista como uma sucessão de fatos isolados, mas como um conjunto de eventos relacionados, em todos os ambientes, é um instrumento útil para o entendimento de cada época, inclusive para o esclarecimento dos dias atuais. Por isso procuramos considerar não apenas a história da ciência mas diferentes contextos, que direta ou indiretamente, influenciaram e influenciam até hoje o pensamento. A Idade Média foi fortemente influenciada pela filosofia aristotélica, na qual não havia fronteira entre a ciência e a religiosidade. Mas aos poucos esta visão foi sendo questionada e muitos começaram a desejar uma separação, como Erasmo de Roterdã, no final do século XV e início do século XVI, que era adversário da filosofia entendida como construção de tipo aristotélico-escolástico e de problemas metafísicos, físicos e dialéticos. Outros tantos condenaram os filósofos, especialmente Aristóteles. As decisões do Concílio de Trento (1545-1563) estimularam uma retomada do pensamento escolástico. Mas o pensamento moderno havia enveredado por caminhos inteiramente diferentes, em conseqüência da revolução científica, que leva à rejeição das categorias, dos princípios e das pretensões da filosofia aristotélica. Esse período vai desde Copérnico (1543) até Newton (1687). As tradições herméticas, o neoplatonismo, a alquimia, a astrologia e a magia foram posteriormente abandonadas pela ciência moderna mas influíram sobre seu desenvolvimento inicial. |
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RESULTADOS:
Essas questões só foram abordadas de forma sistemática muitos anos depois, pela Igreja Católica, no Concílio Vaticano I (1869-1870). O contexto cultural era caracterizado por uma forte contraposição e muitos se opunham a que a fé pudesse ser considerada como uma forma de conhecimento. Foi assim defendida não só a união entre a fé e a razão, mas a existência de uma verdade originada por via da fé e não apenas por via da razão. Em 1879 a encíclica Aeterni Patris trouxe uma nova ordem na perspectiva teológica, o neotomismo. Mais recentemente (em 1998) a encíclica Fides et Ratio trata do modo com o qual a fé e a razão chegam à verdade. Para Newton: "a ordem do universo revela o projeto de um Ser inteligente e poderoso". Seus interesses teológicos foram muito mais extensos do que muitos pensam, tendo inclusive publicado alguns comentários sobre temas da Bíblia. Isso mostra um outro lado da revolução científica, que não rejeitou qualquer tipo de religião mas o que não podia ser aprofundado por um estudo racional. Einstein também foi um homem profundamente religioso, que reconhecia a presença de Deus em cada fato especial, como uma descoberta científica ou uma música bem tocada. |
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CONCLUSÕES:
Tanto a fé, expressa pela teologia e pela filosofia, quanto a razão, representada pelo conhecimento científico, buscam a verdade sobre o homem e sobre o mundo, mas com enfoques diferentes, isto é, centrando a atenção sobre aspectos diversos. Então daí decorre que para compreender a realidade em todos os seus aspectos é necessário tomar conhecimento de ambas as áreas. Mesmo uma pequena iniciação faz com que o homem inteligente considere ambas, em tudo que faz. Einstein teve uma iniciação, quando pequeno, sobre os fundamentos do catolicismo e do judaísmo. Sem dúvida seu desenvolvimento científico foi muito maior que o religioso (o que acontece com a maioria das pessoas hoje em dia). Mas apesar disso a cada passo que dava em suas conclusões, não deixava de levar em conta que tudo é criado por Deus e que o trabalho do físico não é outro senão procurar desvendar os mistérios da criação de Deus. Apesar de nem sempre esta noção ser evidenciada, está presente em todas as épocas do conhecimento humano, embora sendo negada por alguns. |
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Palavras-chave: ciência e religiosidade; Einstein; história e filosofia. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |