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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 3. Sociologia do Desenvolvimento | ||
INDUÇÃO AO DESENVOLVIMENTO LOCAL GESTADA PELA VIA DA PARTICIPAÇÃO E MOBILIZAÇÃO SOCIAL: O CASO DA ORGANIZAÇÃO DEMOCRÁTICO-POPULAR DE UMA COMUNIDADE DE TRABALHADORES RURAIS EM CURUPERE NA AMAZÔNIA ORIENTAL. | ||
Eunápio Dutra do Carmo 1 (carmo@cesupa.br) e Olinda Malato Rodrigues 2 | ||
(1. Área de Ciências Sociais Apliacadas, Centro Universitário do Estado do Pará - CESUPA; 2. Departamento de Políticas e Trabalhos Sociais, Universidade Federal do Pará - UFPA) | ||
INTRODUÇÃO:
Este trabalho se constitui como uma elaboração reflexiva sobre uma organização social, considerando sua prática democrático-popular como condição de inclusão social, articulando assim práticas de desenvolvimento local que são gestadas nas experiências dos grupos sociais. Partindo das teses “os atores sociais ressignificam o desenvolvimento” e “os múltiplos territórios são espaços de disputas políticas de atores sociais” levantadas por Leroy e Acselard (2000), para uma proposta de Brasil Democrático e Sustentável, tem-se a base contextual para compreender o fenômeno da participação e mobilização social para além da resistência de grupos sociais organizados, instaurando uma “nova cultura do desenvolvimento”. Neste sentido, o trabalho tem como objetivos: a) sistematizar a trajetória das experiências dos trabalhadores rurais da Comunidade de Curuperê e b) analisar sob a ótica do capital social como essas experiências podem ser traduzidas em práticas de desenvolvimento local. As contradições sociais inerentes a estes processos são observadas na Amazônia Oriental, especificamente, no município de Barcarena, manifestadas pelas relações sócio-políticas envolvendo empresas transnacionais (Pará Pigmentos S/A e Rio Capim Caulim) e o contexto desfavorável para uma comunidade nativa de pescadores e agricultores que têm suas vidas desestruturadas em função da instalação de enclaves produtivos instalados em seus espaços de vida social, provocando uma situação de exclusão sócio-espacial. |
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METODOLOGIA:
O lócus da pesquisa é a Comunidade de Curuperé, detidamente a Associação de Trabalhadores Rurais de Curuperé (ATRC). Tendo como referente empírico o processo de elaboração das práticas de desenvolvimento local, o trabalho adotou a pesquisa bibliográfica como análise teórica e a pesquisa de campo como técnica de levantamento de dados. No âmbito teórico, o trabalho discute categorias como organização social (Serva, 1997 e Andion, 1998), desenvolvimento local (Franco, 2000 e Fischer, 2002), capital social (Putnam, 1993 e Franco, 2000), territorialização (Santos, 1996, 2002) e focaliza as temáticas: democracia participativa como condição de potencialização de capital social; a formação de redes de cooperação entre grupos sociais e as comunidades sociais que aprendem com o saber-local formas de implementar novas agendas de desenvolvimento. A pesquisa de campo teve uma natureza qualitativa, segundo um enfoque de estudo de caso. Foram realizadas entrevistas com roteiro semi-estruturado com integrantes da comunidade e observação direta da realidade vivida nesse cenário. As entrevistas foram analisadas tendo como referencial a análise de conteúdo, procurando identificar as características do desenvolvimento local que é fruto de relações de conflito, destacando seus fatores de ordem social (interação e mobilização), política (participação e resistência) e cultural (identidade social) aproximando-se das percepções dos atores sociais para traçar avanços e recuos dessa experiência. |
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RESULTADOS:
O que se verificou foi um movimento de disputa sócio-espacial, pois se, por um lado, têm-se as empresas transnacionais, (como é ocaso em questão da Pará Pigmentos S/A e Rio Capim Caulim), por outro lado, têm-se grupos sociais ligados social, econômico e emocionalmente ao espaço da floresta. Diante deste quadro, alguns dados dos mecanismos e estratégias essenciais utilizados pela ATRC são emblemáticos no sentido de sua participação, mobilização e organização social: 1) Objetivo social: direito à vida - mudanças sociais em curso; 2) Solidariedade: participação - necessidade de aperfeiçoar a aglutinar os movimentos; 3) Sentimento de pertencer a um grupo social: resistência; viver em comunidades - legitimidade com a valorização da prática; 4) Formas plurais de trabalho: organização coletiva - está em curso o fortalecimento das cooperativas; e 5) Gestão compartilhada: organização; formas de luta e estratégias coletivas; negociações - as assembléias são marcadamente democráticas e 6) Adotam recursos híbridos: doações e articulações com outras entidades - desenvolvimento de projetos de captação de recursos. As estratégias descritas descortinam o debate sobre desenvolvimento e como os atores sociais podem questioná-lo, impondo reações pelo avesso daquela racionalidade. É o embate das forças sociais, suas alianças e conflitos que norteiam as matizes de possibilidades políticas e outros programas possíveis de desenvolvimento local, revelado na percepção das mudanças sociais em curso. |
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CONCLUSÕES:
O estudo de caso da experiência da ATRC demonstra as formas originais que uma comunidade nativa encontrou para desenvolver práticas e estratégias de resistência, forma democrática de participação e unidades de mobilização, gerador do capital social, que possibilita a intervenção na trajetória de exclusão pela via de uma nova territorialidade, uma nova cultura política, gestada nos múltiplos saberes dos grupos sociais. Com base nos levantamentos e análises feitas, constatou-se algumas mudanças sociais na realidade da Comunidade de Curuperé: 1) Dimensão trabalho: crédito agrícola; geração renda - formação de cooperativa; manutenção de atividades tradicionais; 2) Dimensão sócio-familiar: regularização fundiária e formação de redes (unidades de mobilização) - terra como espaço de reprodução da vida familiar; 3) Dimensão política: consciência crítica e coletiva e projeto sócio-político - busca de direitos e dificuldades em investir em novas lideranças; 4) Dimensão cultural: identidade e legitimidade dos membros - reconhecimento da força da comunidade; 5) Dimensão humana: demarcação da terra e direitos sociais básicos - estão sempre sob a expectativa de assegurar a posse da terra e, com isso, garantir o necessário para a vida na comunidade. As organizações sociais, na Amazônia Oriental, quando geram capital social estão, ao mesmo tempo, criando “acampamentos” de inclusão social, que por sua vez, são condições de fato de desenvolvimento local na “selva” da exclusão social. |
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Palavras-chave: organização social; capital social; desenvolvimento local. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |