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F. Ciências Sociais Aplicadas - 9. Comunicação - 4. Jornalismo e Editoração | ||
OS JORNAIS RECIFENSES DE 1904 A 2004 | ||
Ana Paula Araújo de Lira 1 (ana_lira@terra.com.br), Isabelle Sarmento Figueirôa 1, Sildelane Vitor Marques 1 e Aline Maria Grego Lins 2, 3 | ||
(1. Departamento de Comunicação Social, Universidade Católica de Pernambuco - Unicap; 2. Coordenadora e Professora do Curso de Jornalismo da UNICAP; 3. Pesquisadora do Grupo de Mídia e Cultura Contemporânea da CNPq) | ||
INTRODUÇÃO:
Em 1908, cem anos após a implantação da imprensa oficial no Brasil – ocorrida em 1808, com a chegada da corte portuguesa - o historiador pernambucano Alfredo de Carvalho, desenvolveu a primeira pesquisa integrada sobre a história da imprensa nacional. Esse trabalho foi realizado através do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e culminou com a produção de um documento que trazia registros de um século da produção impressa brasileira. Em 2001, a Rede Alfredo de Carvalho (Rede Alcar) foi criada para desenvolver ações destinadas a comemorar os 200 anos da implantação da imprensa no Brasil, e entre as iniciativas estava o mapeamento dos jornais que circularam no Brasil desde 1908. Assim, a pesquisa Os Jornais Recifenses de 1904 a 2004 visou colaborar com o acervo histórico da Rede Alcar, bem como recuperar a história dos periódicos impressos do Recife, que circularam neste recorte temporal, contribuindo como registro de uma época e espaço de criação da realidade. Um exemplo é o Diario de Pernambuco, o jornal mais antigo da América Latina, que foi fundado na capital pernambucana, em 1825. O perfil dele e das centenas de periódicos que circularam em Recife, entre 1904 e 2004, são resultado da estrutura social em que eles estavam inseridos. Portanto, ao resgatar a trajetória da imprensa recifense, relatamos a nossa própria história e ajudamos a contar uma parte significativa da história da imprensa no Brasil. |
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METODOLOGIA:
A pesquisa usou o conceito de Interpretação Funcionalista, proposto por Durkheim. As referências bibliográficas utilizadas trataram da implantação e sedimentação da imprensa no mundo, no Brasil e em Recife, e da estrutura social em que isso ocorreu. Marques de Melo, Werneck Sodré, Alfredo de Carvalho, Michel de Certeau e Maria Helena Capelato foram alguns dos autores estudados. Os cem anos investigados foram divididos em três fases: 1904 a 1940, 1941 a 1971 e 1972 a 2004. Em cada período realizou-se um mapeamento prévio dos jornais que apareceram no Recife. Em seguida, apenas os periódicos produzidos, impressos e distribuídos na capital pernambucana foram catalogados. A equipe usou a ficha elaborada pelos professores Marcos Morel (UERJ) e Marialva Barbosa (UFF), disponibilizada no boletim eletrônico nº 30, da Rede Alfredo de Carvalho (www.jornalismo.ufsc.br/redealcar). A pesquisa ocorreu em arquivos públicos, bibliotecas, fundações, arquivos particulares e das empresas de comunicação locais. As amostras colhidas consideraram a duração do periódico: de um exemplar a cada quatro meses, para os que duraram um ano, até um exemplar a cada cinco anos, para os que circularam mais de dez anos. Em seguida, foram feitas análises do material coletado para verificar as relações sociais, econômicas, políticas e culturais que permearam os periódicos catalogados. Por fim, foi elaborado o relatório final contendo o catálogo e trajetória histórica dos jornais recifenses de 1904 a 2004. |
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RESULTADOS:
O mapeamento mostrou que dos 93 jornais que circularam em Recife na primeira década do século XX, apenas duas dezenas deles continuaram ativos entre 1941 e 1971. Neste período, novos periódicos foram fundados. No entanto, esse número reduziu para 16 jornais até 1980 e, atualmente, existem apenas três impressos de grande circulação na cidade: Diario de Pernambuco, Folha de Pernambuco e Jornal do Commercio. O inventário revelou que os periódicos temáticos, de pequeno porte ou artesanais perderam espaço para os noticiosos, com o surgimento da grande imprensa. As principais seções destes últimos traziam assuntos políticos, anúncios e esportes. Comportamento, cidades e cultura eram pouco abordados. Temas culturais tiveram mais espaço na década de 1930, com a veiculação de peças musicais, poemas e contos. Os impressos, que acompanharam a evolução tecnológica, aumentaram o número de páginas; adotaram editorias e suplementos; abriram espaço para fotojornalismo, charges e infográficos; anexaram expediente; e sedimentaram a tipografia dos textos (notas, matérias, reportagens, crônicas, entre outros). Por outro lado, verificou-se que os periódicos da primeira metade do século XX foram mais influentes no contexto nacional que os atuais. Estes foram transformados em empresas de comunicação com jornais online, rádio e televisão, e sobrevivem de publicidade. Boa parte de seu conteúdo deixou de ser produzido no Recife para ser importado das agências de notícias brasileiras e estrangeiras. |
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CONCLUSÕES:
Os resultados mostraram que a trajetória dos jornais recifenses não se diferenciou do caminho traçado pela imprensa nacional. Os periódicos autorais e artesanais seguiram dois rumos: encerraram as atividades ou circularam em grupos fechados. A maioria dos jornais noticiosos, do começo da grande imprensa, não sobreviveu aos períodos de exceção e às crises econômicas que assolaram o país e a capital pernambucana. No entanto, observamos a intensa produção de impressos e a expressividade nacional de alguns periódicos, no começo do século XX. O Diário da Manhã foi um dos impressos mais lidos do país, em 1930, e jornais sindicais, como a Folha do Povo, mobilizaram diversos intelectuais da esquerda política nacional. O panorama mudou quando os jornais se transformaram em empresas e integraram redes nacionais de comunicação. Essas parcerias cercearam um pouco a atuação dos impressos, que, hoje, possuem, apenas, uma boa aceitação local. A pesquisa mostrou, ainda, que os periódicos atuais, de grande circulação, procuraram atingir um público mais heterogêneo. Assim, os cadernos de cultura e suplementos receberam mais atenção, trazendo temas direcionados para jovens e mulheres. Na primeira metade do século XX, o conteúdo dos jornais era feito, em grande parte, para elite intelectual masculina. Essas mudanças, percebidas através dos textos, da estrutura editorial e gráfica dos impressos recifenses, mostram a imprensa como fonte documental e colaboradora da construção histórica nacional. |
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Instituição de fomento: PIBIC Unicap | ||
Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: História da Imprensa; Periódicos Recifenses; Contexto Social. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |