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H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 4. Literaturas Modernas | ||
A IMAGEM DA COLCHA DE RETALHOS EM EVERYDAY USE DE ALICE WALKER:
PROCESSOS DE RECONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE |
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Sandro Alan Ramos Rabelo 1 (cdrabelo@yahoo.com.br) | ||
(1. Departamento de Letras Anglo-Germânicas, Instituto de Letras - UERJ) | ||
INTRODUÇÃO:
Este trabalho está vinculado à pesquisa da Prof. Dra. Maria Aparecida Andrade Salgueiro: Tradução e Cânones Literários, em foco as escritoras de origem afro. A construção identitária é complexa, onde a auto-afirmação se justifica pela percepção do silenciamento e da invisibilidade das minorias sociais. A dupla discriminação sofrida por mulheres afro-americanas é digna de atenção dentro desse processo. Sob essa ótica, analisaremos o conto Everyday Use da escritora afro-americana Alice Walker, que remete a momentos da luta pelos Direitos Civis nos EUA. O estudo se justifica pela urgência da revisão de um cânone literário discriminador. A obra aborda questões sobre identidade e identificação, herança e ancestralidade. A narrativa, do ponto de vista da mãe que vê suas duas filhas, opostas quanto a suas auto-imagens e relacionamentos diante da realidade “mulher e negra”, nos dá subsídio para levantarmos questões sobre a construção da identidade. Nessa perspectiva, relacionaremos a metáfora da colcha de retalhos que se torna objeto de disputa entre as irmãs, com a teoria sobre a questão identitária. Problematiza-se um dilema dos grupos minoritários, divididos entre a busca de uma identidade ancestral com a qual já não têm relação, mas que remete a alguma idéia de origem, e o reconhecimento de uma outra hereditária, que chega através da reconstrução de experiências, ligadas no tempo por laços comunitários e familiares, compondo um mosaico cultural que remete à imagem da colcha. |
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METODOLOGIA:
Este trabalho foi realizado dentro do grupo de Iniciação Científica da Orientadora: Fernanda Cândido, Érica Singui e Luana Rocha. Para sua realização, foi utilizado aporte teórico, com leitura de autores tais como Booker T. Washington, W.E.B. DuBois, Louis Gates Jr. e Maria Aparecida F. A. Salgueiro, seguido de discussão em equipe. Em uma etapa individual foram incluídos outros autores, como Martin Luther King, Malcolm X, André Neveu e Zilá Bernd, além de busca em jornais, revista e artigos de Internet, entrevistas e participação em eventos científicos sob a perspectiva de um estudo exploratório. Em paralelo, foram realizados Estudos de Tradução, visando a potencializar a transferência de revisão de cânone de um país a outro. |
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RESULTADOS:
Logo nos primeiros momentos da pesquisa foi confirmada a expectativa de identificação de um processo discriminatório no cânone ocidental. Em nosso estudo exploratório, foi possível detectar que a literatura de expressão afro-descendente, sobretudo a escrita por mulheres, era quase inexplorada pelos teóricos e pouquíssimo citada nas antologias canônicas de literaturas de língua inglesa. Quando focamos a exploração pelo viés da tradução essa situação se agrava, uma vez que o pouco que se reconhece em língua inglesa não transita pelo mundo de língua portuguesa. Ao traçar o paralelo entre a situação sócio-política dos grupos minoritários com a vivida pelas personagens do conto, percebemos a urgente necessidade de identificação, recuperação de uma memória e afirmação de valores étnico-culturais que vêm se perdendo dentro dos grupos segregados, em favor de uma cultura alheia. Assim, entendemos a metáfora da colcha de retalhos como um processo de reconstrução, onde o sujeito diaspórico, reencontra-se traduzido. A questão que se coloca é se esse sujeito traduzido abandona sua origem, ou se o processo de reconstrução pode ser positivo, respeitando uma memória hereditária e até mesmo ancestral. |
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CONCLUSÕES:
Após confirmar que o preconceito e a discriminação são explícitos no cânone literário, sobretudo se levarmos em conta o cânone traduzido, temos o indicativo da urgência de sua revisão. Ademais, fica evidente que a antítese entre uma diáspora ancestral e o sujeito traduzido precisa ser intensamente estudada e avaliada. Questões se levantam, mas há poucas respostas. A reconstrução identitária – no conto representada pela colcha de retalhos – é um processo complexo que não possui modelos ou parâmetros a serem seguidos. A busca por uma identidade ancestral sem ligação com o ambiente onde o sujeito está inserido mostra-se evidentemente forçada e falsa. Por outro lado, não temos como precisar a dimensão da perda de uma identidade, resgatada por laços de herança cultural, que passa por um processo de tradução do sujeito. |
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Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: grupos minoritários; identidade; afro-descendência. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |