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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental
UMA CIDADE QUE SE REVELA NO MORRO: CONSTRUÇÕES COLETIVAS EM OFICINAS DE EDUCAÇÃO E MEIO AMABIENTE
Karina Rousseng Dal Pont 1 (karinapont@hotmail.com) e Ana Maria Hoepers Preve 1
(1. Depto. de Geografia, Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC)
INTRODUÇÃO:
O texto que apresentamos resulta do envolvimento com o projeto “Educação Ambiental e Ensino de Geografia: limites e possibilidades no processo de formação do educador em Geografia”, vinculado ao Departamento de Geografia da UDESC. O projeto teve como objetivos principais o levantamento e a compreensão de temas relacionados às dinâmicas sociais e espaciais da comunidade do Morro do Mocotó-Florianópolis/SC a partir da elaboração e execução de oficinas em educação ambiental desenvolvidas numa escola pública durante o ano de 2004, bem como aproximar o professor de geografia em formação às situações de educação ambiental. A importância desta inserção fora do ambiente acadêmico facilitou a aproximação de saberes entre os envolvidos no projeto ao mesmo tempo em que colocou os universitários na pesquisa de quais seriam as situações-problema nos grupos estudados e na pesquisa de estratégias adequadas àquela realidade. A percepção das crianças da escola e demais moradores do bairro acerca do espaço em que vivem foram consideradas premissas fundamentais para o desenvolvimento deste trabalho de cunho educativo e ambiental.
METODOLOGIA:
O centro da cidade de Florianópolis é atravessado em toda sua extensão por uma dorsal central orientada NNE e SSW. É na parte central desta formação que se localiza a comunidade do Morro do Mocotó e em seu entorno a Escola de Educação Básica Celso Ramos. Foi nesta escola com uma turma de 30 alunos entre 9 e 14 anos da 4ªsérie do Ensino Fundamental que desenvolvemos semanalmente oficinas utilizadas no levantamento e compreensão das dinâmicas sociais, espaciais e culturais da comunidade. O processo histórico de sua ocupação foi registrado a partir da vivência e da coleta de histórias orais com moradores. Toda a metodologia deste trabalho foi tecida no decorrer do processo de execução das oficinas e trata-se de uma experimentação que se adquire em campo, necessitando constantemente ser aperfeiçoada, já que não funcionava como um pacote fechado a ser aplicado na escola. Elegemos algumas ferramentas para subsidiar as oficinas: saídas a campo pelo Morro do Mocotó com toda a turma e a professora realizando entrevistas abertas com os moradores mais antigos da comunidade, produção de relatório fotográfico destas saídas, anotações em diário de campo, interpretação de fotos aéreas da área central da cidade de Florianópolis dos anos de 1930, 1960, 1970, 1990 e 2002, leituras de textos, pesquisas em livros didáticos e cartilhas, desenhos, confecção de mapas mentais do bairro, etc.
RESULTADOS:
No último mês do ano letivo de 2004 expomos no hall de entrada da escola as produções realizadas durante o ano. Esta foi a forma escolhida para compartilhar com outros alunos e moradores do Morro do Mocotó um pouco do que tínhamos conversado e descoberto sobre a comunidade e a cidade de Florianópolis durante nossos encontros: através de olhares nos momentos das saídas a campo pelas “ruas” do morro, e/ou nas atividades realizadas em sala de aula. As representações das problemáticas sociais que atingem esta comunidade estavam expostas nos desenhos de corpos ensangüentados no chão, de helicópteros vigiando a comunidade, da torre de observação dos policiais, de policias apontando armas para moradores do morro, de siglas pichadas projetando a marcação do território pelos traficantes. O aumento da ocupação das encostas e o conseqüente desmatamento de áreas protegidas do morro foram percebidos nas entrevistas feitas pelas crianças com moradores mais antigos e também através da visualização das fotos aéreas. As fotos produzidas pelos alunos mostravam ainda a existência de esgotos a céu aberto, a falta de saneamento básico e as escadarias de barro que dão acesso às casas. Por mais que as problemáticas tenham se sobressaído nas representações, as crianças não deixaram de mostrar as belezas do lugar onde moram: a vista para as baías e as pontes que dão acesso à ilha, a passarela de samba, a escola em que estudam, e os locais onde brincam.
CONCLUSÕES:
As oficinas permitiram conhecer detalhes da comunidade ofuscados por um conjunto de informações que caracterizam a cidade de Florianópolis como Ilha da Magia e reduzem o morro como lugar de pobreza, violência e sujeira. Através do estudo percebem-se estes detalhes, como o descaso para com os habitantes de baixa renda e outras revelações. Ao lado do morro estudado há um outro chamado Morro da Cruz, habitado por uma população bem sucedida economicamente. As idéias construídas na nossa sociedade classificam a ocupação dos morros, pela população de baixa renda, como desastres ambientais, enquanto classificam a construção de mansões em áreas parecidas como sinal de desenvolvimento. Subindo o morro com as crianças, caminhando pelas “ruas”, conversando com os moradores foi possível enxergar diferentemente aquele pedaço da cidade, assim como foi possível conhecer muito mais da cidade. As crianças substituíram sentimentos de vergonha por orgulho. Tal fato foi visível no dia da exposição na escola quando as crianças explicavam com entusiasmo, para os colegas, suas descobertas. O Morro do Mocotó adjetivado negativamente em muitas das conversas de classe, considerado causador de desordem e de degradação ambiental pela administração pública deu lugar, nas representações dos alunos, a uma comunidade que pra além de suas problemáticas é bonita: “Não é lindo professora, dá pra ver quase tudo daqui”
Instituição de fomento: UDESC
Palavras-chave:  Educação ambiental; Oficinas; Cidade.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005