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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 5. Psicologia da Saúde | ||
ESTRATÉGIAS DE RESISTÊNCIA ÀS NOCIVIDADES DO TRABALHO CONSTRUÍDAS POR PROFESSORES NO COTIDIANO DE UMA ESCOLA DA REDE PÚBLICA | ||
Danielle Vasconcelos Teixeira 1 (daniellevt@uol.com.br) e Maria Elizabeth Barros de Barros 1 | ||
(1. Departamento de Psicologia, Universidade Federal do Espírito Santo - UFES) | ||
INTRODUÇÃO:
Para dar conta das variabilidades do trabalho, os trabalhadores alteram seus modos de trabalhar, o modo de fazer o trabalho e, nesse exercício, criam e produzem processos de trabalho que preservam sua saúde. A partir da orientação conceitual adotada, pela qual consideramos como questão central de análise da saúde do trabalhador o processo de trabalho, este estudo objetivou analisar as estratégias e as lutas diárias de professores, através da vivência no cotidiano de uma escola da rede pública de Vitória/ES. Buscou-se mapear as estratégias de resistência construídas por esses professores frente à organização do trabalho que não tem favorecido a promoção de saúde, potencializar essas formas de enfrentamento, analisar as relações que compõem o cotidiano escolar, entender e colaborar para a transformação dos fatores que interferem na saúde desses educadores. Nessa direção, colocamos em foco as estratégias de luta desses trabalhadores da educação, levando em consideração que muitas vezes o trabalhador não percebe sua luta, a resistência e as estratégias que individualmente e coletivamente são criadas frente aos processos adoecedores provocados pelo trabalho, e nesse sentido, acreditamos ser muito importante descobrir e dar visibilidade a essas formas de luta, para potencializá-las coletivizando esse conhecimento. |
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METODOLOGIA:
Entendemos que o trabalhador traz em sua fala e em suas práticas, questões pertinentes às estratégias de resistência frente aos processos de seu trabalho que lhe produzem adoecimento. Este trabalho, então, seguiu a direção de cartografar esses movimentos que se põem em funcionamento na escola, através de vivência institucional, de observações das experiências práticas dos educadores, e de entrevistas. Por meio desses procedimentos mapeamos essas estratégias de resistência, esperando compreender as relações entre a saúde e os processos de trabalho que são produzidos na escola. Ao vivenciarmos o cotidiano escolar, realizamos observações assistemáticas buscando indicações e informações úteis à nossa cartografia. Também foi utilizado um diário de campo onde anotamos grande parte dos fatos presenciados na vivência institucional e nas observações, bem como registramos as impressões que nos causavam, o que incrementou de detalhes a cartografia proposta. As entrevistas foram individuais, semi-estruturadas e realizadas com professores de diferentes turmas. O roteiro das entrevistas foi estruturado em 14 questões abertas relacionadas às formas de luta desses trabalhadores, tanto individuais, quanto coletivas. Outra estratégia metodológica utilizada foi a fotografia do cotidiano de trabalho. Foram tiradas fotos da estrutura física da escola, e das estratégias dos professores fora e dentro de sala, com o objetivo de dar maior visibilidade às formas de luta desses trabalhadores. |
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RESULTADOS:
Por meio de uma cartografia das práticas de resistência vivenciadas pelos professores frente a um modelo de organização de trabalho na educação que tenta minar as possibilidades de criação desses trabalhadores, lhes causando uma série de danos à saúde que se traduz em um maior sofrimento, percebemos que as políticas educacionais exigem muito do trabalho dos professores, com muitas normas que definem a maneira como esse trabalho deve ser realizado. Entretanto, nem essas normas, nem as prescrições dão conta da realidade complexa e da variabilidade que se apresenta no cotidiano da escola. Os trabalhadores sempre criam seu próprio modo de trabalhar, de acordo com cada contexto em que se encontram, buscando criar um ambiente favorável para a realização de seu trabalho. Ao analisarmos os resultados da vivência institucional, do diário de campo, e das entrevistas realizadas, percebemos que apesar de todas as nocividades que lhes são impostas no ambiente de trabalho, os professores não se deixam paralisar. Eles criam estratégias próprias, criam novas formas de fazer o seu trabalho, buscando condições menos adoecedoras para sua vida. Ao afirmarem que precisavam modificar o planejamento de aula para não adoecerem, para não prejudicarem a voz, ou para não “enlouquecerem”, os professores falavam dessa criação de novas normas e estratégias para vivenciarem o cotidiano de trabalho de forma mais saudável. |
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CONCLUSÕES:
Através dos resultados que obtivemos, percebemos que são construídas outras normas de trabalho para além daquelas pré-estabelecidas pelas políticas educacionais, entretanto os resultados também mostram que muitas vezes os professores não percebem sua luta frente aos processos adoecedores provocados pelo trabalho. A maneira como os indivíduos vivenciam suas experiências pode restringi-los de tal forma, que as estratégias por eles construídas passam a não ser percebidas, o que leva à naturalização desses fenômenos criadores que poderiam potencializar, no grupo, a construção de outros movimentos de invenção de mecanismos que produzem a saúde desses trabalhadores. Nessa direção, esta pesquisa, ao identificar as formas como os professores se defendem da nocividade do ambiente de trabalho, potencializa o processo criativo desses trabalhadores, e ao mesmo tempo faz com o que os resultados obtidos permitam aos educadores a realização de discussões sobre as estratégias criadas frente às adversidades, dando visibilidade a essas formas de luta, e, além disso, potencializando a transformação dessa realidade. Nem sempre o trabalhador sabe que sabe, e nesse sentido, acreditamos ser muito importante descobrir e dar visibilidade a essas formas de luta, para, além disso, poder coletivizar esse conhecimento, potencializar a força de criação, de renormalização, desses trabalhadores, possibilitando a superação das dificuldades que se constituem no próprio momento da atividade. |
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Instituição de fomento: CNPQ | ||
Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: Saúde; Educação; Trabalho docente. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |