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G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana
PERÍMETRO IRRIGADO CURU-PENTECOSTE: OS SISTEMAS TÉCNICOS PRODUZINDO O TERRITÓRIO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO.
Glaudênia Peixoto Lima 1 (glaudeniapeixoto@yahoo.com.br), Daniel Rodriguez de Carvalho Pinheiro 2 e Carlos Roberto Machado Pimentel 3
(1. Depto. de Geociências, Mestrado em Geografia, Universidade Estadual do Ceará - UECE; 2. Depto. de Geociências, Universidade Estadual do Ceará - UECE.; 3. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA.)
INTRODUÇÃO:
O Perímetro Irrigado Curu-Pentecoste foi instalado na Bacia Hidrográfica do Rio Curu, Estado do Ceará, desapropriando uma área de 4569,3669 ha nos municípios adjacentes Pentecoste e São Luís do Curu, sendo 63,38% em Pentecoste e 36,62% em São Luís do Curu. Sua implantação faz parte do processo de modernização da agricultura do semi-árido brasileiro que se iniciou no final da década de 1960 e início da década de 1970, numa tentativa de inserir o Nordeste num processo que já ocorria desde 1950 no Sudeste. Significou a chegada de máquinas, equipamentos, instalações, conhecimento técnico, determinações políticas, enfim, um conjunto de objetos e ações que, ao serem implantados, provocaram um rearranjo no território trazendo uma série de mudanças na vida das pessoas atingidas. Partindo daí, fez-se a seguinte reflexão: diante do novo uso do território gerado a partir da implantação do novo sistema técnico, qual a contribuição para a melhoria da qualidade de vida da implantação do perímetro ao longo desses anos? Foi feito um recorte temporal a partir do ano de 1974 (início da implantação do perímetro), buscando identificar os fixos e os fluxos que se instalaram e seu papel na reorganização do território considerando a dinâmica populacional, as relações sociais de produção e o circuito espacial da produção.
METODOLOGIA:
A pesquisa faz parte do projeto Gestão racional de bacias hidrográficas na região de caatinga de modo a manter seu uso sustentável na agricultura irrigada, financiado pelo PRODETAB (Programa de Desenvolvimento Tecnológico da Agropecuária Brasileira) e desenvolvido pela Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, em conjunto com outras instituições (SEMACE, COGERH, UFC e outras). Partiu-se da análise de dados secundários obtidos em questionário aplicado por estudantes estagiários da EMBRAPA. O questionário intitulado Análise de impactos econômico, ambiental e social nas regiões de caatinga do Nordeste do Brasil, foi destinado exclusivamente aos produtores agrícolas. A aplicação de 52 entrevistas representou uma amostra de aproximadamente 30% do total (175 irrigantes). Paralelamente foi feita a revisão bibliográfica a partir da análise dos conceitos-chave sistema técnico e território na abordagem de Milton Santos, Também, vários outros autores que tratavam de assuntos pertinentes à pesquisa como LIMA, ELIAS, DINIZ, OLIVEIRA, ANDRADE... Outras informações foram obtidas através de pesquisa constante nos seguintes órgãos: DNOCS, SEAGRI, Biblioteca Pública e Instituto Histórico Geográfico e Antropológico do Ceará. A pesquisa buscou informações sobre o semi-árido, as atividades econômicas que definiram sua configuração sócio-espacial ao longo dos anos até chegar na agricultura irrigada, inserindo o vale do Curu e o perímetro Curu-Pentecoste.
RESULTADOS:
A chegada do novo sistema técnico provocou profundas transformações através do novo modo de produzir, de comercializar, novas relações de trabalho, novas formas de morar, enfim, novas formas de viver. Constatou-se que, incorporar novas tecnologias não significa necessariamente melhoria na qualidade de vida das pessoas. A implantação do Perímetro Curu-Pentecoste inicialmente provocou êxodo rural nos municípios onde se instalou ao expropriar antigos moradores da ribeira do Curu. Posteriormente, esses municípios apresentaram crescimento demográfico que, nas últimas décadas decresceu em virtude da situação de definhamento por que vem passando o perímetro. O DNOCS, órgão responsável pela manutenção do perímetro, saiu de cena. O perímetro passa agora por um processo de transferência de gestão até chegar a emancipação (leia-se: privatização), encontrando-se atualmente com canais de irrigação deteriorados e sem manutenção, a produção de coco decrescendo ao longo dos anos, o cultivo de banana vitimado pela Sigatoka e precisando ser renovado, os irrigantes sem nenhum acesso ao crédito e dependentes do atravessador para comercializar.
CONCLUSÕES:
Grande parte das transformações que se dão no campo hoje, são regidas pela lógica capitalista, que visa ampliar suas possibilidades de lucro, através de uma maior produtividade e consumo, o Perímetro Curu-Pentecoste não fica de fora dessa lógica. Lá, os sistemas técnicos modernos, chegaram, impondo normas, rompendo em grande parte com o que existia anteriormente, redefinindo o território e mudando a vida local. Uma modernização que atendeu e continua atendendo muito mais aos interesses do capital do que dos irrigantes e suas famílias. Impôs uma relação de dependência, no momento que foi adequado, e agora, novamente quando é adequado ao capitalismo e à sua lógica, novas formas de utilização do território semi-árido são pensadas, com novos discursos e novos atores, é o Novo Modelo de Irrigação.
Instituição de fomento: FUNCAP
Palavras-chave:  Sistema técnico; Território; Perímetro Irrigado Curu-Pentecoste.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005