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G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana | ||
OS INTELECTUAIS NA MODERNIZAÇÃO DE FORTALEZA NO SÉCULO XIX | ||
Ana Maria de Albuquerque 1 (ana-albuquerque@uol.com.br) e Adelita Neto Carleial 2 | ||
(1. Pós-graduanda do Mestrado Acadêmico em Geografia da Universidade Estadual do Ceará - UECE; 2. Profª Drª do Centro de Ciências Humanas, Curso de Ciências Sociais - UECE) | ||
INTRODUÇÃO:
Este trabalho faz parte do projeto de pesquisa, Produção do Espaço Social em Fortaleza, do Laboratório de Estudos de População, da Universidade Estadual do Ceará, que analisa as transformações sócio-espaciais ocorridas na primeira metade do século XIX aos dias atuais. O enfoque aqui compreende o ordenamento urbano de Fortaleza durante os anos de 1850 a 1899. O objetivo é comprovar que as idéias dos intelectuais cearenses, baseadas em Buckle, Spencer, Augusto Comte e Taine, não foram suficientes para desencadear umamodernização urbana conforme os padrões europeus, mas permitiu que influenciassem a redefinição do processo de reordenamento da cidade já que os mesmos estavam à frente dos órgãos públicos. É nesse período que se começa a observar com mais veemência os investimentos na malha urbana, como a melhoria do porto, o aumento do número de navios a vapor facilitando o escoamento da produção de algodão no Estado, a aquisição de bondes, calçamento e alargamento das ruas, iluminação, ajardinamento dos logradouros públicos, instalação das linhas teleféricas e ferroviárias, formação de novas escolas, bancos e lojas com produtos importados. Acompanhou estes investimentos um discurso acadêmico de aceitação ao novo, onde o cotidiano e os hábitos locais foram condenados, pois eram vistos como condição de atraso econômico, social e político em Fortaleza. |
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METODOLOGIA:
Como metodologia de trabalho, primeiramente procurou-se investigar e analisar a fala dos intelectuais sobre o processo de ordenamento urbano de Fortaleza, nos jornais, artigos publicados nos periódicos circulados e, principalmente, nas Revistas do Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará (1887 – 1899), como igualmente, as Revistas da Academia Cearense de Letras, agremiações notórias de prestigio e imponência. Posteriormente, caracterizou-se o objeto em estudo, descrevendo as mudanças ocorridas e elaborando um conhecimento da situação neste período. Diante do problema partiu-se para um levantamento bibliográfico nas bibliotecas e livrarias, priorizando livros, artigos, dissertações e teses que retratassem Fortaleza no século XIX. Com estas leituras entrou-se numa fase importante e fundamental para o desenvolvimento da pesquisa, que foi a necessidade de compreender o recorte temporal numa integração a nível nacional e global, analisando e trabalhando os conceitos, como por exemplo, os conceitos de modernização, lugar e urbanização. O uso científico das categorias espaço e tempo foram imprescindíveis nesse entendimento. |
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RESULTADOS:
Nos resultados detectou-se que realmente houve uma participação dos intelectuais cearenses nas melhorias urbanas instaladas à época. Estes homens eram os divulgadores dos saberes, incluídos nas cátedras superiores, respeitados e privilegiados na sociedade, tendo respaldo e credibilidade às suas idéias. Não existia uma homogeneidade no pensar, havendo vários confrontos entre agremiações literárias, bem como, de membros pertencentes, algumas vezes, das mesmas instituições. Este foi o caso observado entre a Mocidade Cearense e os Novos do Ceará, O primeiro grupo, defendia o desapego às culturas e aos hábitos locais para priorizar a implantação do progresso. Os segundos, fundadores da Padaria Espiritual, acreditavam na proposta contrária e divulgava no seu jornal O Pão a valorização das raízes e das manifestações culturais. Comprovou-se com a pesquisa que foi fundamental a iniciação às bases científicas de Comte, Spencer, dentre outros estudiosos, divulgadas em palestras na Escola Popular, pelos intelectuais ligados ao grupo Mocidade Cearense e fundadores, no Ceará, da Academia Francesa em 1871, responsáveis pela aceleração no processo de reestruturação urbana observada. Porém maior destaque para a modernização de Fortaleza foi a crescente exportação de algodão e a injeção de capitais e investimentos na economia local que desencadearam, por conseguinte vários outros acontecimentos que em conformidade geraram a situação encontrada. |
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CONCLUSÕES:
As conclusões chegadas alertam para a necessidade de compreensão da realidade sob diversos aspectos, ou seja, não se pode considerar como verdadeira uma comprovação quando somente um fator está sendo analisado, pois a realidade é mais dinâmica e complexa do que o provável conhecimento sobre ela. Segundo, o local, no caso Fortaleza, sofreu constantes influências, nacionais e internacionais já que a mesma não se encontrava isolada. Esta pesquisa concluiu que as idéias e os valores propagados nos discursos científicos, sozinhos, não modificaram a realidade social. Eles refletiram as transformações econômicas em curso no espaço fortalezense. |
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Instituição de fomento: Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - FUNCAP | ||
Palavras-chave: Ordenamento urbano; Intelectuais; Século XIX. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |