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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 1. Lingüística Aplicada
VIRGINIA WOOLF EM TRANSMUTAÇÃO: "MRS. DALLOWAY"
Carlos Augusto Viana da Silva 1 (cafortal@hotmail.com)
(1. Programa de Pós-Graduação em Letras e Lingüística, Universidade Federal da Bahia - UFBA)
INTRODUÇÃO:
A questão da relação literatura e cinema constitui-se objeto de grande discussão devido ao constante diálogo existente entre os dois campos e à dificuldade de se estabelecerem fronteiras entre as duas linguagens em determinados momentos desse diálogo. A adaptação cinematográfica se estabelece como elemento de sistematização da linguagem literária no cinema e o seu estudo torna-se produtivo para o entendimento de pontos relevantes no entrelaçamento dessas artes. Nesse sentido, o olhar sobre o processo de transmutação do texto literário para a tela passa a ser também objeto de investigação dos estudo de tradução.
O presente trabalho analisa a transmutação do romance inglês Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf (1925), para o cinema feita pela diretora holandesa Marleen Gorris (1997). Partimos da hipótese de que o filme inverteu o projeto narrativo de um romance de fluxo de consciência, transformando-o num drama romântico cuja ênfase está no enredo.
METODOLOGIA:
Como procedimentos metodológicos, primeiro, fundamentamo-nos teoricamente nos princípios da tradução intersemiótica de Plaza (2001), no conceito de reescritura de Lefevere (1992), nas reflexões sobre a análise textual do filme de Aumont et al (1995) e nos estudos que tratam da relação cinema e literatura: Metz (1979), Hermans (1995), Vanoye & Goliot-Lété (1994) e Clerc (1993). Em seguida, comparamos os projetos narrativos de Woolf e de Gorris a partir de três parâmetros: o tratamento do tempo, o ponto de vista (múltiplas perspectivas) e a temática da condição humana.
RESULTADOS:
Constatamos, quanto ao primeiro parâmetro, que Woolf lida somente com o tempo interno dos personagens, enquanto Gorris mantém a interação dos tempos interno e externo para construir um enredo linear. No segundo, Woolf direciona apenas as conjecturas individuais de vários personagens, enquanto Gorris entrecruza as realidades internas com situações externas. Finalmente, Woolf apresenta as realidades individuais dos personagens enquanto Gorris faz dessas realidades um elemento condutor de um enredo dramático
CONCLUSÕES:
A análise levou-nos a concluir que o construto narrativo de vanguardista de Woolf tornou-se uma narrativa tradicional com ênfase no enredo, assumiu um caráter dramático e transformou-se numa história linear. Dessa forma, Gorris resignificou o universo literário de Woolf para o espectador.
Palavras-chave:  Cinema; Literatura; Transmutação.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005