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G. Ciências Humanas - 5. História - 2. História do Brasil
O PENSAMENTO DE DOM HELDER CAMARA E A REALIDADE POLITICA NACIONAL
Marianne Silva Carvalho 1 (mariannecarvalh0@hotmail.com) e Newton Darwin de Andrade Cabral 2
(1. Departamento de História, Universidade Católica de Pernambuco-UNICAP; 2. Departamento de História, Universidade Católica de Pernambuco-UNICAP)
INTRODUÇÃO:
O presente projeto está em volta com o objetivo de detectar e analisar as mudanças de D. Helder Camara acerca da realidade política nacional brasileira, particularmente no período em que foi Arcebispo de Olinda e Recife (1964 – 1985), percebendo e situando as atitudes assumidas por ele à medida que se verificavam mudanças na estrutura política nacional, compreendendo o dinamismo inerente ao pensamento de uma liderança eclesial que buscava sintonizar com o seu tempo e entendendo as transformações ocorridas nas atitudes de setores da Igreja Católica no Brasil, durante a última Ditadura Militar (1964-1985). O regime implantado, a partir dos desdobramentos que foi impondo no país, levou a uma tomada de posição muitas vezes fortemente antagônica entre a Igreja e o Estado e a relevância da pesquisa consiste justamente em promover uma maior compreensão acerca do pensamento dessa figura pública eclesial que levantou uma grande bandeira na luta por uma maior aproximação da Igreja com a realidade brasileira, no combate à miséria e às injustiças sociais e dar um enfoque às mudanças de seu pensamento quanto à realidade política nacional.
METODOLOGIA:
A análise das mudanças no pensamento de Dom Helder em relação à política nacional tem como material de estudos o rico acervo documental existente no CeDoHC (Centro de Documentação Helder Camara), localizado na cidade do Recife-PE, onde se encontra um significativo conjunto de cartas-circulares, vídeos, todos pertencentes a D. Helder Camara. A metodologia aplicada possui, além da coleta e análise desses documentos acima descritos, como cenário para análise o referencial da ética do discurso: pretensão de verdade, correção, autenticidade e compreensibilidade. A escolha dos conceitos, elementos e categorias da ética do discurso para servir de esboço teórico a partir do qual estão sendo estudadas e analisadas as ações do Arcebispo, se deve ao fato de ele ter vivido um conjunto de tensões e pressões, teorizada por Habermas, entre a comunidade ideal de fala, que é aquela em que todos têm a oportunidade de eleger e executar atos de fala, e a comunidade real de fala, aquela marcada pela realidade vigente. E dentro dessa realidade, encontrava-se um contexto de repressão e arbitrariedades provocadas pelo regime político inaugurado em 1964, diante da qual o Arcebispo assumia uma postura objetivando a situação ideal, defendendo firmemente a liberdade da fala, o que não se presenciava naquele contexto político brasileiro.
RESULTADOS:
O pensamento de D. Helder aproxima-se ao máximo da teoria de Habermas, uma vez que foi elaborado e expresso em meio a um constante conflito entre a comunidade ideal de fala, teorizada por Habermas, e a comunidade real de fala, aquela concretamente circunscrita à situação existente, no caso, o contexto da ditadura militar. D. Helder, nos seus mais diversos discursos, não apelava sempre para Deus, pois se dirigia para grupos bastante secularizados, com a presença de católicos, ateus, protestantes, muçulmanos e os demais. Destacamos a importância da compreensão do pensamento de D. Helder Camara, a partir de 1964, no qual está atrelado aos rumos assumidos pela situação política nacional. Em conseqüência de sua transparente sinceridade em relação aos problemas sociais brasileiros, o Arcebispo foi tachado de “antipatriota”, “Difamador do Brasil”, contudo defendeu-se das acusações que lhe eram dirigidas de forma hábil e corajosa, porém mostrou-se fiel às autoridades eclesiais. Não concordava com a conjuntura política arbitrária da ditadura militar, não se corrompeu diante das autoridades militares, por isso era um alvo difícil e constante das autoridades militares. Soube driblar o ódio, o rancor e a perseguição daquele período e não abriu mão de realizar seus projetos, ideais, seu programa de ajuda às pessoas, todos na linha da promoção humana.
CONCLUSÕES:
A importância em trabalharmos o pensamento e o campo de atuações de D. Helder está ligada ao fato de o mesmo ter sido um dos representantes da Igreja Católica de maior prestígio em toda a América Latina, incluindo seu reconhecimento na Europa e em outras regiões, sendo uma das figuras mais importantes na ação contra o regime militar. D. Helder nunca se restringiu ao mundo religioso, estava sempre envolto com os problemas da sociedade mundial, principalmente os que afetavam os mais humildes. Desenvolveu um longo e grandioso projeto social a fim de garantir um melhor caminho para com os mais necessitados, como a Operação Esperança que conseguiu incorporar todos os segmentos da sociedade pernambucana, desde os mais pobres até a classe empresarial, incluindo apoios vindos de outras regiões. Seus discursos foram e ainda são conhecidos mundialmente, apesar das fortes restrições que sofreu durante o regime militar. Naqueles, eram entoados assuntos relacionados à política nacional e internacional, o combate à miséria foi algo constante nas ações de Dom Helder e não ficou em silêncio diante da máquina destruidora das autoridades militares: no Brasil ou no exterior, atacava a realidade política vivenciada naquele momento e conclamava pela volta da democracia.
Instituição de fomento: PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BASE PARA INICIAÇÃO CIENTIFICA-UNICAP
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Pensamento helderiano; Política brasileira; Ética do discurso.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005