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G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 3. Geografia
A EXPANSÃO DO PARQUE FABRIL DE SANTA CATARINA NO EXTERIOR: O CASO DAS INDÚSTRIAS DO NORDESTE CATARINENSE
Celia Almeida da Silva 1 (sallye@pop.com.br) e Isa de Oliveira Rocha 1
(1. Depto. De Geografia, Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC/FAED)
INTRODUÇÃO:
A pesquisa “A expansão do parque fabril de Santa Catarina no exterior: o caso das indústrias do Nordeste Catarinense” tem por objetivo analisar a implantação de indústrias catarinenses em outros países. Especificamente busca: a) caracterizar a gênese e a evolução da instalação de novas unidades industriais de empresas catarinenses nos diferentes países; b) identificar se a presença implica necessariamente na utilização de inovações de produtos e processos; c) verificar o grau de complementaridade estratégica, produtiva e gerencial entre as unidades fabris no exterior com as localizadas em Santa Catarina; d) analisar a competitividade industrial nos países em que as unidades produtivas catarinenses estão presentes; e e) analisar o quadro sócio-econômico e espacial gerado, pela migração de plantas fabris ao exterior, no contexto produtivo catarinense. O estudo está questionando as proposições que defendem uma situação complementar, periférica e dependente da industrialização barriga-verde em relação a São Paulo (divisão regional do trabalho) e ao centro do sistema capitalista (divisão internacional do trabalho). Apesar deste cenário industrial dinâmico, ainda não existem pesquisas sobre o conjunto dessa presença fabril catarinense no exterior e ressalta-se que os resultados alcançados contribuem para o estabelecimento de uma política industrial regional, pois desvendam as vantagens e desvantagens de tal processo fabril expansivo.
METODOLOGIA:
O objeto pesquisado remeteu à aplicação de uma base teórica-metodológica alicerçada nos referenciais: a) de Formação Sócio-Espacial (Milton Santos, 1977), cuja perspectiva alcança o dinamismo da estrutura industrial catarinense, na medida em que possibilita abordar a gênese e evolução, a partir de relações de processo/resultado, função/forma, passado/futuro, ligadas aos aspectos econômico-sociais (forças produtivas, relações de produção etc) e espaciais (escalas local/regional/nacional/mundial); b) da teoria dos ciclos econômicos presente nas análises sobre o desenvolvimento econômico brasileiro feitas por Ignácio Rangel, permitindo relacionar o funcionamento cíclico do capitalismo mundial e o comportamento econômico brasileiro e catarinense; c) de Armen Mamigonian, cujos trabalhos expõem de forma singular o dinamismo econômico não periférico e não dependente do Brasil meridional, alicerçados em história, economia e geografia. A execução da pesquisa contou com procedimentos de cunho bibliográfico e empírico: a) a revisão bibliográfica possibilitou os inter-relacionamentos qualitativos e quantitativos e a realização de análises críticas, apoiada em artigos de periódicos diversos, em obras sobre industrialização catarinense e brasileira etc; b) o trabalho empírico compreendeu a busca de dados e informações disponíveis em instituições públicas, entidades classistas e, também efetivado, por meio da aplicação de questionários e realização de entrevistas nas indústrias.
RESULTADOS:
As indústrias catarinenses têm unidades fabris em países latino-americanos (destacado-se Argentina e México), europeus e asiáticos (principalmente China). O início do processo de instalação de fábricas no exterior deve-se a Tigre/Hansen (Joinville), cuja dificuldade de exportar (medidas diferentes de tubos e conexões em cada país), determinou a fundação precoce (no âmbito nacional) de fábrica no Paraguai em 1976; o cenário da década de 90 forçou o ingresso na Argentina e Chile (1994). A Weg de Jaraguá do Sul buscou a liderança mundial na fabricação de motores elétricos, a partir de 2000, com a instalação de unidades na Argentina, México, Portugal e China. A Duas Rodas (Jaraguá do Sul), líder brasileira de insumos, aromas e sabores para a indústria de alimentos, começou a transnacionalização em meados dos anos 90 para consolidar a liderança na América Latina, com fábricas na Argentina e Chile. A Busscar/Nielson (fábrica de ônibus em Joinville), desde 1999 está entrando agressivamente no mercado externo com a viabilização fabril em Cuba, México, Noruega, Venezuela e Colômbia, negociações de joint-venture (2001) com a norte-americana Motor Coach Industries e compra de fábrica da Scania na Dinamarca, o que determinou crise financeira para a matriz. A Embraco (Joinville) incorporou a Áspera na Itália, a Snowflake na China (1995) e implantou fábrica na Eslováquia; surpreende verificar o fraco desempenho das filiais no exterior, até então mantidas pela matriz brasileira.
CONCLUSÕES:
Várias indústrias de Santa Catarina, sem se intimidarem com localizações duplamente periféricas (São Paulo / Estados Unidos e Europa) têm reagido dinamicamente no atual ambiente capitalista, distinguindo-se no universo industrial brasileiro. As indústrias catarinenses foram implantadas no exterior, principalmente, devido às dificuldades para exportação de seus produtos, à falta de incentivos governamentais, excesso de tributos e política cambial instável. Atualmente estão entre as maiores fabricantes mundiais; posição galgada por meio da re-estruturação produtiva e gerencial, que determinou pesados investimentos no processo de modernização das plantas fabris, aquisição de novas tecnologias, adoção de controle de qualidade, capacitação da mão-de-obra, aumento brutal da produtividade com a diminuição do número de trabalhadores etc. As indústrias além de plantas fabris no exterior possuem unidades comerciais e uma estruturada rede de distribuição e logística que garante a inserção da produção nos cinco continentes.
Instituição de fomento: Programa de Bolsa de Iniciação Científica - PROBIC/UDESC
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Indústria; Santa Catarina; Exterior.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005