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D. Ciências da Saúde - 2. Medicina - 2. Cirurgia | ||
USO DE C3F8 NO DESCOLAMENTO DA MEMBRANA DE DESCEMET PÓS-FACECTOMIA. | ||
Abrahão da Rocha Lucena 1 (transplantelucena@terra.com.br), Juliana de Lucena Martins Ferreira 2, Israel de Lucena Martins Ferreira 3, Sabine de Lucena Martins Ferreira 4, Natália Serafim Camurça 3, Espártaco Moraes Lima Ribeiro 3, Tiago Pessoa Tabosa e Silva 3, José Airton Pontes Dias Filho 3, Aristóteles Rolim de Lucena 3 e Descartes Rolim de Lucena 3 | ||
(1. MSc. e chefe de departamento do Centro Avançado de Retina e Catarata - IBCO.; 2. Médica do Centro Avançado de Retina e Catarata, Instituto Brasileiro de Cirurgia Ocular - IBCO.; 3. Universidade Federal do Ceará, Campus Sobral - UFC.; 4. Universidade Federal de Alagoas - UFAL.; 5. Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte - FMJ.) | ||
INTRODUÇÃO:
A membrana de Descemet é uma lâmina basal de cerca de 10µm de espessura que reveste a porção posterior do estroma e o separa do endotélio, responsável por sua secreção. Encontra-se frouxamente aderida ao estroma, é homogênea, altamente refrátil, flexível e elástica (apesar de não ter fibras elásticas). Identificam-se duas zonas distintas: anterior, elástica, e a posterior, constituída de lâmina basal. Esta membrana é resistente a infecções e possui uma capacidade parcial de se regenerar, embora muitas vezes de maneira imperfeita. O descolamento da membrana de Descemet é uma complicação rara, mas devastadora após uma cirurgia de catarata. Os descolamentos extensos e/ou próximos ao eixo visual podem afetar em muito a visão dos pacientes, sendo necessário recorrer a transplante penetrante de córnea. Algumas alternativas têm sido usadas para reposição da membrana de Descemet: bolha de ar, sutura com transfixação de toda córnea, viscoelástico associado com bolha de ar e gás hexafluoreto de sulfúrio (SF6) ou perfluorpropano (C3F8). Temos como objetivo relatar uma técnica simples utilizando C3F8 a 16% (não expansivo) introduzido na câmara anterior para solucionar o descolamento da membrana de Descemet em seis casos pós-facectomia. |
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METODOLOGIA:
O departamento de córnea e refrativa do Centro Avançado de Retina e Catarata recebeu de Fevereiro de 2001 até Maio de 2004 seis casos de descolamento de Descemet após realização de cirurgia de catarata, sendo cinco após facoemulsificação e um causado por extração extra-capsular do cristalino. A média de idade dos pacientes foi de 72,4 anos, sendo quatro do sexo feminino. O PAM (potencial de acuidade macular) foi realizado no pré-operatório de todos os pacientes, assim como biomicroscopia em lâmpada de fenda, com avaliação da localização e extensão do deslocamento da Descemet no pós-operatório. Imediatamente após a colocação do gás (0,5ml em câmara anterior), o paciente era novamente avaliado em lâmpada de fenda para verificar a localização justa-estromal da membrana de Descemet. Os pacientes com deslocamento superior/central eram orientados a ficar em posição de decúbito elevado por dois dias e, no caso do deslocamento inferior, solicitamos decúbito dorsal. Em um caso de aumento da pressão intra-ocular utilizamos acetazolamida 250mg 6 / 6 horas até controle adequado. No pós operatório foi prescrito tobramicina associado com dexametazona de 6 / 6 horas por 10 dias. Dois dias após, os pacientes eram reavaliados para observação do edema, acuidade visual, medida da pressão intra-ocular e posição da membrana da Descemet. |
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RESULTADOS:
Todos os pacientes tiveram sucesso com a colocação da bolha de gás C3F8, havendo aumento da pressão intra-ocular em dois casos. O edema corneano regrediu a partir do segundo dia, com resolução completa até o quarto dia. A acuidade visual melhorou em todos os casos logo após regressão do edema, sendo reavaliada quarenta e cinco dias depois. A acuidade visual com correção já no segundo dia de pós-operatório foi de 0,40 (20/50) em quatro pacientes, um ficou com 0,25 (20/80) e outro com 0,20 (20/100). A pressão intra-ocular de um paciente aumentou oito horas após a colocação da bolha (45mmHg as 11:00 horas). O restante dos pacientes não apresentaram picos da pressão intra-ocular, havendo uma variação entre 14 e 18mmHg no segundo dia de pós-operatório. |
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CONCLUSÕES:
O deslocamento da membrana de Descemet não é uma complicação freqüente no pós-operatório da cirurgia de catarata, mas causa uma baixa visual intensa quando atinge o eixo visual e, quando o edema persiste por muito tempo, a ceratopatia bolhosa é uma ocorrência que incomoda e baixa a qualidade de vida dos pacientes. A colocação da bolha de ar não é efetiva pela rápida absorção. A sutura da membrana de Descemet é traumática e de difícil realização. O transplante de córnea é uma opção radical que deve ser deixado para último caso. A introdução unicamente do gás C3F8 não expansivo como método para colar a membrana de Descemet é citado neste trabalho, pela primeira vez na literatura brasileira. Há uma permanência maior do gás dentro da câmara anterior (sete a dez dias) mantendo a membrana de Descemet por mais tempo colada no estroma, contribuindo assim para a adesão definitiva. O reestabelecimento da acuidade visual é rápida, o método é seguro, efetivo e de fácil execução, sendo realizado sob anestesia tópica. Um achado biomicroscópico descoberto nesse trabalho foi a observação de estrias posteriores em estroma, mesmo com descolamento da descemet na área das estrias, nos levando a concluir que as estrias notadas em pós-operatório de cirurgia de catarata ou outras cirurgias de segmento anterior, não são primariamente estrias de Descemet, como conhecida e repassada há décadas em escolas de oftalmologia, mas sim estrias estromais posteriores. |
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Palavras-chave: membrana de Descemet; perfluorpropano (C3F8); catarata. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |