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G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 2. Antropologia da Saúde
PENSÃO PROTEGIDA D'FRANCISCO - ETNOGRAFIA DE UMA RESIDÊNCIA TERAPÊUTICA COM PACIENTES MENTAIS
João Tadeu de Andrade 1 (jtadeu@uece.br) e Aêdra Cartaxo Roberto 1
(1. Coordenação do Curso de Ciências Sociais do Centro de Humanidades – UECE)
INTRODUÇÃO:
A presente pesquisa faz um estudo antropológico da situação vivenciada pelo portador de transtorno mental crônico que passou por um longo período de internação em hospitais psiquiátricos. Com o advento da reforma psiquiátrica, este paciente foi levado, pela família, a morar em uma “residência terapêutica”. Diante desse fato realizei uma pesquisa que buscava compreender como o serviço residencial terapêutico desenvolve suas técnicas na tentativa de reerguer o indivíduo socialmente e se essa é, realmente, uma proposta plausível na substituição do manicômio tradicional.
METODOLOGIA:
O estudo se deu através do trabalho de campo na própria Pensão D’Francisco. Visitas diárias e entrevistas com o proprietário e a equipe de auxiliares da “residência terapêutica” foram realizadas, se estendendo aos familiares na intenção de analisar que tipo de propósito os levou a escolher esse tipo de serviço. No plano empírico, a observação se deteve nas técnicas utilizadas nos tratamentos, nos mecanismos de disciplinarização e controle do tempo ao longo de todo o dia. O trabalho leva em consideração a visão de Michel Foucault e Erving Goffman. Utilizo, principalmente, os conceitos acerca da loucura no decorrer dos séculos e as técnicas relacionadas à disciplina existentes nas instituições totais, pelas quais o indivíduo é estigmatizado socialmente.
RESULTADOS:
Não foram identificados traços de maus tratos, mas quando se verifica a existência de uma repetição nas atitudes incoerentes, que atrapalham o convívio social é aplicada ao sujeito da ação uma espécie de punição na tentativa de manter a ordem. Sendo, aquele indivíduo sem noção clara da realidade, conseqüentemente, isento de tal fato e não responsabilizado por seus atos. Os cuidados com a aparência e a higiene dos moradores são contínuos. A convivência em grupo se dá de forma livre, porém vigiada e o controle em relação ao tempo é flexibilizado de acordo com as particularidades e o momento de cada morador.
CONCLUSÕES:
Foi verificado que a Pensão Protegida D’Francisco é um serviço que não leva a uma continuação hospitalar, mas que tem uma tendência a reproduzir alguns modelos utilizados pelo mesmo de forma mais “aberta”. Mesmo porque, os que lá se encontram têm histórico hospitalar de 20 a 30 anos de internação em média e com o advento da reforma psiquiátrica o serviço residencial se transformou em uma opção viável devido ao fato de que, segundo os familiares, a presença de um “doente mental” causa um abalo estrutural no ambiente familiar. Logo, a intenção da família não é se libertar da responsabilidade, do cuidado ao parente portador de transtorno mental, mas sim proporcioná-lo um suporte que não seria possível sem ajuda profissional. Por tanto, através do trabalho realizado, certifica-se a não institucionalização do “louco” na instituição.
Palavras-chave:  Saúde Mental; Doente Mental; Residência Terapêutica.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005