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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 4. Sociolingüística | ||
USO DO IMPERATIVO NA NOVELA SENHORA DO DESTINO: ESTEREÓTIPO OU IDENTIDADE? | ||
Étel Teixeira de Jesus 1 (eteltj@yahoo.com.br) | ||
(1. Depto. de Lingüística, Línguas Clássicas e Vernácula, Universidade de Brasília - UnB.) | ||
INTRODUÇÃO:
Esta pesquisa analisa a variação no uso do modo imperativo na fala dos personagens da novela Senhora do Destino, transmitida pela rede Globo de televisão em 2004/2005. O objetivo é verificar se o autor estereotipa a fala do nordestino (representado, na novela, principalmente, pela personagem Maria do Carmo) ou se, ao contrário, se explicita afirmação da identidade lingüística desse povo. Numa análise, microssociolingüística, pretende-se verificar se fenômenos de natureza morfossintática, que condicionam a variação do imperativo em situações reais de uso, também exercem influência em situações de fala monitorada. Tais fenômenos compreendem o seguinte grupo de fatores: personagens, paralelismo discursivo, polaridade de estrutura, ausência, presença e tipo de pronome, além da variável dependente, a saber: a forma imperativa associada ao indicativo e a forma imperativa associada ao subjuntivo. |
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METODOLOGIA:
Os dados colhidos para amostra foram codificados e submetidos ao programa Varbrul que fornece resultados estatísticos para a pesquisa a partir do cruzamento dos grupos de fatores. O programa gera percentuais e pesos relativos e estes fornecem informações sobre o efeito de cada fator sobre as variantes da variável dependente; no presente caso, a variável dependente corresponde ao uso do imperativo associado à forma indicativa e ao uso do imperativo associado à forma subjuntiva. |
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RESULTADOS:
Os resultados obtidos evidenciam que os personagens da novela, em sua maioria do Rio de Janeiro, região Sudeste, explicitam uso do imperativo associado ao indicativo (92% de ocorrências); já a protagonista, oriunda de Pernambuco, região Nordeste, desfavorece o uso do imperativo associado ao indicativo (28% de ocorrências). A variável independente paralelismo discursivo evidencia a aproximação de formas semelhantes: o uso do imperativo associado ao indicativo prévio condiciona a sua subseqüente repetição, ocorrendo o mesmo com o subjuntivo. A análise da variável independente polaridade de estrutura evidencia desfavorecimento da forma associada ao indicativo em estruturas negativas. Quanto à variável ausência/presença e tipo de pronome, os percentuais mostram favorecimento do imperativo associado ao indicativo com pronome proclítico de primeira pessoa e desfavorecimento dessa mesma forma com pronome proclítico de terceira pessoa. Pronomes do caso reto favorecem o uso do imperativo associado ao indicativo. Ausência de pronome também favorece a forma associada ao indicativo. Tais resultados seguem quase a mesma tendência de pesquisas anteriores (Scherre, 2003, 2004; Cardoso, 2004). |
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CONCLUSÕES:
Esta pesquisa procurou analisar a variação do imperativo em situações de fala monitorada. Os resultados evidenciam que o autor da novela reproduz, na fala da protagonista e dos demais personagens, características da fala do pernambucano e do carioca, respectivamente, em situações reais de uso, conforme pesquisas já realizadas nessas regiões (Jesus e Oliveira, 1995; Scherre et al., 1998, 2004; Sampaio, 2001; Cardoso, 2004). Assim, a pesquisa constata que variáveis lingüísticas e sociais, que influenciam a alternância entre as formas associadas ao indicativo e ao subjuntivo em atos de fala espontânea, estão presentes também na fala dos personagens. Isso evidencia que há uma contrapartida com o uso da língua cotidianamente por falantes do Nordeste e também do Sudeste. Não se verificou, portanto, estereótipo lingüístico, mas marca de identidade. A pesquisa também confirma a distância que existe entre norma e uso quando da realização do modo imperativo. |
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Palavras-chave: imperativo; variação; estereótipo. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |