IMPRIMIR VOLTAR
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 2. Lingüística Histórica
COMPLEMENTAÇÃO SENTENCIAL NO PORTUGUÊS DA PROVÍNCIA DE GOIÁS NO SÉCULO XVIII
Dalmo Vinícius Coalho Borges 1 (d0221597@aluno.unb.br) e Heloísa Maria Moreira Lima Salles 1
(1. Depto. de Lingüística, Línguas Clássicas e Vérnacula, Universidade de Brasília - UNB)
INTRODUÇÃO:
O objetivo do presente estudo é discutir aspectos da complementação oracional no português da Província de Goiás no século XVIII. São analisados aspectos como a variação no uso de orações finitas, infinitivas e infinitivas flexionadas levando-se em conta a correferência ou não dos sujeitos e a presença ou ausência de preposição na oração encaixada, além do número de complementos selecionados pelo verbo matriz. Faz-se, também, uma contextualização histórica em relação à ocupação da Capitania de Goiás no referido período a fim de identificar aspectos do contato de línguas na região.
A escolha pelo estudo do português na Província de Goiás no século XVIII se dá pelo fato de ser considerável o isolamento que caracterizou a região nessa época. A hipótese nula é a de que o referido isolamento produziu formas lingüísticas peculiares, o que torna interessante a investigação da história da língua portuguesa nessa região, bem como sócio-história da região, tendo como enfoque a contribuição dos diferentes contingentes no povoamento da região.
METODOLOGIA:
A metodologia do estudo consiste dos seguintes procedimentos: levantamento de material bibliográfico acerca do tema gramatical e da sócio-história da região Centro-Oeste no século XVIII.
Constituição do corpus diacrônico, realizado mediante recolhimento de documentos em Arquivos Públicos da cidade de Goiás e Goiânia; no Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHG-GO) e no Instituto de Pesquisa e Estudos Históricos do Brasil Central (IPEHBC), os dois últimos na cidade de Goiânia.
Coleta de dados referentes ao objeto da pesquisa (orações completivas finitas e infinitivas) e subseqüente tabulação das características estruturais e morfossintáticas encontradas.
Para tal, faz-se a distribuição de orações subordinadas finitas e infinitivas em função de uma tipologia de predicados matriz, considerando-se a codificação da correferência ou referência disjunta entre sujeitos; a presença ou ausência de preposição regendo a oração completiva; e o número de complementos do verbo da matriz.
RESULTADOS:
No português da Província de Goiás no século XVIII, constata-se a predominância de orações encaixadas com núcleos infinitivos (66%) sobre as finitas (34%), sendo que predicados aspectuais, causativos, modais e volitivos/optativos selecionam categoricamente o infinitivo, enquanto predicados psicológicos, de inquirição e declarativos de ordem selecionam categoricamente orações finitas.
Verifica-se ainda que predicados aspectuais, modais e volitivos/optativos apresentam categoricamente a correferenciação com sujeito do predicado subordinado, enquanto predicados causativos, declarativos de ordem e psicológicos apresentam categoricamente referência disjunta em relação ao sujeito do predicado subordinado. Predicados declarativos, epistêmicos e perceptivos estabelecem, predominantemente, uma referenciação disjunta em relação ao sujeito da oração subordinada. Com predicados avaliativos, há opcionalidade entre correferência e referência disjunta.
Por último, predicados epistêmicos, de inquirição, modais, perceptivos, psicológicos e volitivos/optativos não são regidos por preposição, enquanto predicados aspectuais são categoricamente regidos por preposição.
CONCLUSÕES:
No português do século XVIII no Goiás, constata-se que cada tipo de verbo da matriz tem sua especificidade quanto às características dos complementos que selecionam. Nos predicados modais, em 100% dos dados coletados, a oração encaixada não é introduzida por preposição e verifica-se a correferência entre os sujeitos. Uma possível explicação para ocorrência dos verbos modais sempre com o complemento infinitivo é a de que os verbos infinitivos não possuem por excelência uma carga semântica de tempo, modo e aspecto, se comparados aos verbos flexionados, que apresentam intrinsecamente desinências número-pessoal e modo-temporal. Isso explica, então, a combinação de verbo modal + infinitivo, pois é o modal que dá valor semântico modo-temporal à predicação.
Predicados aspectuais, modais e volitivos/optativos selecionam categoricamente o infinitivo e apresentam correferência entre sujeitos. Predicados psicológicos, de inquirição, declarativos e declarativos de ordem selecionam categoricamente orações finitas e apresentam referência disjunta entre sujeitos. Com esses resultados, pode-se dizer que há uma tendência de utilização do verbo infinitivo para codificar a correferência e do verbo finito para codificar a referência disjunta do português da Província de Goiás no século XVIII.
Palavras-chave:  Língüística histórica; Góias; Século XVIII.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005